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sábado, 19 de janeiro de 2013

Passos à beira do crime político



O primeiro-ministro está a cavar um fosso cada vez mais fundo entre o Governo e a sociedade civil. Por isso, sentiu-se obrigado, no último debate quinzenal na Assembleia da República, a fazer mais uma declaração extraordinária: «Este Governo só não concluirá o seu mandato para quatro anos se os partidos que apoiam o próprio governo não quiserem. Isso não há dúvida, senhor deputado. Não há dúvida!»

A afirmação de Pedro Passos Coelho só pode ser entendida como uma fuga em frente, típica de um líder fragilizado. Mas é mais: é uma atitude de desafio e de tentativa de menorização institucional do presidente da República, reveladora de uma cegueira e de um autoritarismo que remetem para outros tempos vividos em 1995 e 2011.

Tal como aconteceu com os seus antecessores, Pedro Passos Coelho terá a resposta que merece quando os portugueses o entenderem. Aliás, cada um tem a ponte que merece!

Mais do que uma enorme ausência de bom senso político, Pedro Passos Coelho está acantonado num extremismo, a roçar a atitude de mais um qualquer messias, que o tem isolado a cada dia que passa.

A questão não é explicada por um súbito acometimento de delírio ou de autismo político. O país está perante uma estratégia calculada, que tem muito mais de instrumental do que de ideológico. Incapaz de manter a imagem de liderança de uma equipa competente, coesa e limpa, o primeiro-ministro está a apostado no extremar posições que possam conduzir  a uma demissão forçada que lhe abra a porta à vitimização.

À medida que vão crescendo as especulações sobre a inevitabilidade de constituição de um governo de iniciativa presidencial ou da possibilidade de eleições legislativas antecipadas em simultâneo com as próximas autárquicas de Outubro, Pedro Passos Coelho está cada vez mais acossado, pois sabe que já perdeu qualquer margem de recuperação em relação às trapalhadas que minaram a governação.

O primeiro-ministro é visto, actualmente, como parte do problema, depois de alguns erros clamorosos que conduziram o país para o terreno da instabilidade política e social. E até pode insistir em proteger Miguel Relvas, em manter políticas injustas, sacrificando os mais fracos em detrimento dos mais fortes, e em aguentar mais um chumbo do Tribunal Constitucional. Mas há um limite que não pode ultrapassar: o tecto de 17% de desemprego que estabeleceu já enquanto primeiro-ministro.

fasquia que entendeu afirmar, publicamente, em mais uma declaração politicamente imprudente, está à beira de ruir, a acreditar no previsível aumento do desemprego em dois pontos percentuais, em 2013, de acordo com a última previsão do Banco de Portugal.

A crispação do ambiente político, o recrudescer da violência verbal no debate público, a tensão social galopante e a desvalorização do crescimento escandaloso do número de desempregados, do ritmo excepcional de falências e de várias situações humanas dramáticas, que ultrapassaram todos os limites, são apenas sinais exteriores do estado de pré-desagregação do Governo.

A esperança num primeiro-ministro com capacidade para restaurar a credibilidade da governação esfumou-se a um ritmo vertiginoso. E o país está, novamente, em estado de pré-revolta, confrontado com a generalizada perda de confiança no Governo. Nada fazer para mudar esta percepção, não o perceber, ou melhor, não ter a humildade pessoal e política de o reconhecer, é um crime político que os portugueses jamais serão capazes de esquecer, porque vai provocar prejuízos incalculáveis.