terça-feira, 8 de março de 2011

Portugal sem tempo


António Barreto tem sido uma das vozes mais esclarecidas da República.

Uma das suas últimas declarações constitui uma síntese perfeita do momento político: «Sócrates resiste porque quer ser vítima: De Cavaco, de uma moção de censura ou do estrangeiro».

Hoje, já ninguém tem a menor dúvida que José Sócrates já percebeu que vai ser apeado do poder, por causa de uma governação politicamente indecente, cujos limites ainda não são totalmente conhecidos da opinião pública.

Aliás, o primeiro-ministro já não governa ou sequer tenta reconquistar a confiança dos portugueses.

A única prioridade de José Sócrates é adiar o inevitável despedimento político por justa causa, de forma a melhor preparar o futuro como cidadão e político.

No meio do turbilhão em que o país vive, com as taxas de juro do dinheiro que o país pede ao estrangeiro a atingirem diariamente novos recordes, há limites para tudo, sobretudo para a tolerância com quem só tem como argumento o agitar do fantasma dos inimigos internos e externos, dos especuladores internacionais e da crise mundial para tentar disfarçar uma governação eleitoralista que atirou o país para o abismo financeiro.

Obviamente, não faltam as vozes da corte do costume, com mais ou menos barões do regime à mistura, a pedirem estabilidade, a clamarem por mais tempo para o governo.

Mais tarde ou mais cedo, vai ser necessário pedir contas a estes "senadores" da República que são sistematicamente cúmplices do poder, por ingenuidade, cálculo político ou por manifesto interesse partidário, quiçá por causa da própria vidinha.

Em Democracia, há momentos que exigem clarificação e confiança no voto dos portugueses, e não complacência com o extraordinário abandalhamento da vida pública, que está a liquidar a esperança dos portugueses num futuro melhor.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A luz ao fundo do túnel


O estado de decomposição do governo está a contaminar o país.

Portugal não pode continuar num estado de ilusionismo que está a liquidar a economia, o emprego, a justiça, a juventude e até a comprometer o futuro.

Hoje, a maioria considera que chegou o tempo de dizer basta a José Sócrates, que passou a fazer parte da crise.

Com um governo desfeito, de anúncio em anúncio, alguns deles a roçar a demência política, tal o nível de negação, chegou o momento da clarificação e de confrontar a liderança da governação com o actual estado do país.

José Sócrates poderia ter tomado a iniciativa, apresentando uma moção de confiança no Parlamento, enfrentando de frente uma crise de legitimidade crescente e evidente.

O primeiro-ministro, num gesto de cobardia política, fugiu às responsabilidades e preferiu o caminho da ilusão, da negação e do estafado argumento da estabilidade para tentar, a todo o custo, manter o poder, na esperança de que novos ventos europeus disfarcem a crise em que o país está profundamente mergulhado.

A situação chegou a um tal ponto de surrealismo que o Bloco de Esquerda, ainda ferido de uma derrota estrondosa nas eleições presidenciais, avançou com inegável sentido de responsabilidade: colocando em cima da mesa uma moção de censura.

Em Democracia, é assim: a hora da verdade chega sempre, mais tarde ou mais cedo.

Já sabemos de que lado estão Francisco Louçã e Jerónimo Sousa, e até podemos antecipar qual é a posição de os portugueses.

Agora, só falta Paulo Portas e Pedro Passos Coelho assumirem as suas responsabilidades, manifestando a disponibilidade para enfrentar eleições e, quiçá, assumirem a governação num dos momentos mais graves da história portuguesa.

No dia 10 de Março, Portugal tem uma nova oportunidade para apear, enquanto ainda tem futuro, o pior primeiro-ministro da história da Democracia.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Roleta russa


A crise que invadiu o país é cada vez mais perceptível nas conversas do dia-a-dia.

Os encontros de circunstância, o desabafo entre vizinhos e o reencontro de amigos acabam invariavelmente no assunto da actualidade: a crise.

Longe dos bastidores do poder e dos corredores frequentados por uma espécie de casta privilegiada, os portugueses começam a fazer contas à vida enquanto são bombardeados, diariamente, por discursos contraditórios.

Entre o discurso delirante do primeiro-ministro e afins e as críticas contundentes ao governo da parte do candidato presidencial Cavaco Silva, a única certeza é mesmo o clima de incerteza.

Suspenso por operações financeiras que deveriam ser de mera rotina, mas que passaram a ser de inquestionável sobrevivência, o cidadão começa a perceber que a política aventureira, irresponsável e suicida, pontuada por truques e mais truques, tem um limite incontornável: o tempo.

A cada emissão de dívida pública, o país inteiro tem de suster a respiração até ficar a saber qual a taxa de juro alcançada.

Aliás, o estreitamento da taxas de juro entre as colocações de dívida pública a curto, médio e longo prazo reflectem o impasse em que nos encontramos.

E coloca a dúvida fundamental: como vai ser possível viver a este ritmo de incerteza, durante 2011, com a necessidade de pedir emprestado mais de 45 mil milhões de euros

Ao fim de quase seis anos de liderança de José Sócrates, os portugueses estão confrontados com uma escolha decisiva: a racionalidade ou o jogo de roleta russa.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

BPN: Elite escondida com banco de fora


O caso não é só uma fraude de milhares de milhões de euros.

Nem tão pouco é possível reduzi-lo às acções do actual presidente da República que teve o engenho e a arte de realizar mais valias chorudas, enquanto outros cidadãos perderam fortunas acumuladas ao longo de uma vida.

Com mais ou menos escrutínio da comunicação social, ninguém ignora que o BPN era tratado em privado, à boca cheia, como um caso de polícia.

Seguramente, também ninguém ignora que as instituições de controlo, regulação e investigação criminal nunca demonstraram particular interesse em incomodar atempadamente o banco ligado ao antigo Conselheiro de Estado, Manuel Dias Loureiro, que pairava sobre a instituição como uma espécie de certificado de solvabilidade.

Mais do que a eventual protecção a uma facção de ilustres e poderosos, também ninguém pode ignorar que desde o anúncio da privatização dos prejuízos do BPN, ordenada por José Sócrates, em Novembro de 2008, um novo manto de opacidade tombou sobre a gestão do banco que passou a ser do regime, à custa de mais de 3,5 mil milhões de euros a pagar pelos contribuintes.

O caso do BPN reflecte a imagem de um país em que uma elite influente e informada enche os bolsos enquanto faz de conta que não sabe o que se passa à sua volta.

Mas é mais, muito mais, que também deveria merecer um debate aprofundado.

É a prova que os portugueses continuam a tolerar que uma determinada nomenclatura beneficie da alta corrupção, da informação privilegiada e do favorecimento pessoal.

Só assim é possível aceitar que um presidente da República, um primeiro-ministro ou qualquer outro governante recusem dar explicações sobre o seu património pessoal.

Afinal, este e outros casos, em Portugal, explicam por que razão uma verdadeira lei contra o enriquecimento ilícito continua a ser uma miragem.