terça-feira, 3 de abril de 2018

Facebook: não há inocentes


Mais de 70 mil milhões de dólares foi o preço que a empresa de Mark Zuckemberg pagou pelo gigantesco "descuido" na protecção de dados dos seus "amigos".

De imediato, alguns dos oportunistas do costume "apagaram" as suas contas e vociferaram contra a nova era digital de "insegurança", armados em vítimas de uma devassa com a qual, aliás, nunca se importaram no passado.

Se não fosse caricato até dava vontade de rir, mas no mundo actual, em que um cone de informação veiculado pelos canais adequados faz lei, tudo é tão etéreo como o mercado global.

É caso para dizer: no passa nada.

Obviamente, esta indignação "colectiva" tem um alvo: Donald Trump.

O que está em causa, verdadeiramente, não é prevenir e reagir contra um dos maiores perigos que a Democracia atravessa, mas sim o combate político ao mais heterodoxo presidente eleitos dos Estados Unidos.

A violação dos direitos individuais dos cidadãos, bem como do seu inalienável direito à privacidade, passou a ser a regra, a política impune da generalidade dos Estados, democráticos e ditatoriais.

Não é o Face que representa o maior perigo.

São os departamentos de Estado, as secretas e as polícias que representam a maior ameaça aos valores democráticos.

Aliás, quem já não se recorda do telefonema que Zuckemberg fez a Barack Obama, em Março de 2014?

O grande Executivo chegou mesmo a dizer que o governo dos Estados Unidos «deveria ser o paladino da Internet, não uma ameaça».

O "protesto" ocorreu depois de documentos secretos revelarem que a Agência de Segurança Nacional (NSA) se disfarçou de um servidor do Facebook para infectar milhões de computadores de usuários suspeitos.

O mais extraordinário é que estes "ataques" com face deram origem a uma extraordinária "aliança": Facebook, Google, Apple, Microsoft, Twitter, AOL, Linkedin e Yahoo formaram a chamada "Reforma da Vigilância do Governo".

Quem ouviu Edward Snowden, nas Conferências do Estoril, em Maio de 2017, não tem quaisquer dúvidas sobre o que está em causa, em termos gerais e também no que diz respeito ao jornalismo.

Apesar da comunicação não ter merecido a cobertura mediática ao nível do que estava (e está!) em jogo – revelando um desinteresse obsceno da parte dos jornalistas e patrões da imprensa –, a verdade é que Snowden colocou o dedo na ferida: como podem os jornalistas investigar, proteger as suas fontes e publicar notícias se são escutados e vigiados?

Neste, como noutros dossiers sensíveis, o papel dos jornalistas assume relevância maior, desde que queiram continuar a ser jornalistas.

No caso da mais recente polémica sobre o Facebook, não há inocentes.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Saúde e os sem perdão


Longe vão os tempos em que alguns políticos assumiram, publicamente, que a Saúde tinha de ser a prioridade, de José Manuel Durão Barroso a António José Seguro.

Custa assistir ao sofrimento e à morte de doentes que confiaram num Serviço Nacional de Saúde (SNS) que se transformou numa farsa do regime.

Ao mesmo tempo que o presidente da República, o primeiro-ministro, o ministro das Finanças e demais partidos políticos exibem o certificado europeu de “bom aluno”, multiplicam-se as notícias sobre o aumento das listas de espera, a falta de médicos, enfermeiros e medicamentos, bem como o caos instalado nos hospitais e urgências.

Nem a extrema esquerda parece estar muito incomodada com a enormidade a que assistimos, hoje, com passividade criminosa.

Se os recursos não são ilimitados, então é necessário redefinir a alocação dos meios financeiros.

Tal como aconteceu no combate à corrupção, ao longo de anos a fio, foi o debate, a imprensa e a pressão da opinião pública que obrigaram governantes, polícias e magistrados a fazerem mais e melhor.

Tarda, por isso, que a Justiça acorde em relação aos crimes perpetrados, diariamente, na Saúde, sem receio de responsabilizar o Estado e os seus agentes, impondo indemnizações pesadas e metendo na cadeia quem não cumpre o seu dever.

Devem investigadores e magistrados do Ministério Público ficarem surdos e mudos perante os aflitivos atropelos na prestação dos cuidados de Saúde?

Os juízes podem continuar a permitir que os médicos justifiquem casos de negligência gritantes com a falta de meios humanos e de diagnóstico, os quais, infelizmente, quando chegam a tribunal, os que chegam, são passados a penas leves e a coimas insignificantes?

Tarda uma explicação cabal para não fazer o que é muito urgente ser feito, pois a questão não é de esquerda nem de direita, é apenas de humanidade e civilização, enfim, de regime.

Os meios do Estado estão identificados, tal e qual como as despesas, por isso é preciso cortar nalgum lado ou ir buscar dinheiro a quem o tem para garantir que o SNS funciona para todos, não apenas para quem tem uma cunha para ser melhor tratado ou ser operado sem ter de estar meses ou anos à espera.

Seja no sector público ou através dos privados, os portugueses, sobretudo os mais desvalidos e idosos, têm o direito de serem respeitados e tratados como seres humanos.

É tempo de acabar com os patéticos exemplos de Paulo Macedo e Adalberto Campos Fernandes, sobretudo pelo seu atrevimento em conviver, pacificamente, para não dizer irresponsavelmente, com a incúria que grassa no sector.

À beira de fazer 39 anos, o SNS só poderá melhorar se os próprios agentes da Saúde assim o exigirem. E a denúncia é uma forma de trazer para a luz do dia o que alguns, e são muitos, infelizmente, querem continuar a varrer para debaixo do tapete.

O exemplo dado pelos enfermeiros, e até por médicos que se demitem para não pactuar com a ignomínia, são actos de civismo e de grande coragem que devem ser escutados com atenção e respeito.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

PSL e segunda oportunidade


Pedro Santana Lopes tem trabalhado e lutado para merecer uma segunda oportunidade.

Apesar de todo o empenho, genuíno ou ensaiado, há dois factores que são determinantes para explicar que ainda não conseguiu justificar essa segunda oportunidade.

Em primeiro lugar, porque o político não mudou nada.

Se alguns admitem que está mais maduro, talvez menos folclórico, mas sem resistir ao outro lado da força, a verdade é que em termos de pensamento, substância e acção continua a ser o mesmo dark precipitado de 2004, como comprova o seu envolvimento indesmentível na tentativa inacreditável da entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital de um qualquer Banco falido, aliás, com a bênção politicamente desavergonhada de António Costa.

Em segundo lugar, porque os seus principais apoiantes e colaboradores, os visíveis e os invisíveis, continuam a ser os mesmos de sempre, desde os Pintos ao inefável Machete, excepção feita a Henrique Chaves que dele diz o que Maomé não ousou dizer do toucinho.

Pedro Santana Lopes podia ser mais, podia ter escolhido outro caminho.

Podia ter reconstruído um novo percurso pessoal, profissional e político, com mais nódoa ou menos nódoa de envolvimento do dinheiro dos pobres em aventuras financeiras, deixando a água correr sob as pontes para fazer diluir as trapalhadas, das verdadeiras às fabricadas por inimigos. 

Mas, não, não conseguiu resistir ao ego e ao apelo do poder. 

E lá avançou para a liderança do PSD face a uma alternativa, assumida por Rui Rio, em que se destacam inexplicavelmente alguns rostos do passado corrupto e parolo. 

E esse é um mérito inegável, e não é pequeno, dar um passo em frente para tentar não deixar cair o PSD, outra vez, nas mãos de um par de senadores fora do tempo que fizeram muito mal ao partido e ao país. 

Pedro Santana Lopes pode julgar, sempre jogar, que os militantes do PSD apostam na emoção do mal menor, mas não pode escapar ao raciocínio frio e implacável que domina o pragmatismo dos partidos políticos. 

Porque, em teoria, é verdade que todos, e qualquer um, merecem sempre uma segunda oportunidade. 

Mas também é verdade que é preciso muito mais do que merecer. 

É preciso ser credível, convincente e criar as condições para conquistar uma nova oportunidade aos olhos dos outros, não à luz dos nossos próprios olhos ou da nossa entourage

Na política, na vida real, a impressão que conta é sempre a primeira, sobretudo quando não se conseguiu ao longo dos anos mudar nem os métodos nem os compagnons de route, porque, afinal, é quase impossível mudar a própria natureza. 

Aliás, por mais combativo que possa ser, e tem sido, Pedro Santana Lopes será sempre passado que perdeu estrondosamente.

Em síntese, e apesar de tudo o vento levar: entre Pedro Santana Lopes e Rui Rio, venha o PSD e escolha.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Guida Maria: Inesquecível

Uma mulher incrível, sempre muito à frente da sociedade do seu país.

Uma actriz talentosa, maior do que a cultura balofa e remediada.

Uma cidadã do mundo que procurou, cá dentro e lá fora, sempre mais e melhor.

Incapaz de partilhar os muitos e muitos momentos vividos, dos bons aos maus, porque há tanto e tanto que as palavras não alcançam nem nunca traduzem, fica a memória dos olhos tão lindos, do sorriso muito doce, da fúria temível, da solidariedade inabalável e do inesquecível e terrível último adeus na cama do hospital.

A minha muito querida e grande amiga, sempre, até sempre!