quinta-feira, 29 de novembro de 2018

REGRESSO (OPORTUNISTA) AO PASSADO



Marcelo Rebelo de Sousa abriu a caixa de Pandora, sob a forma de uma prenda inesperada de Natal para o governo de António Costa.

Qual jarro que contém de todos os males, Marcelo Rebelo de Sousa deixou a pergunta: «O Estado não tem a obrigação de intervir nos media?».

Obviamente, o perguntador de ocasião sabe, e muito bem, que a resposta é negativa, pois a Comunicação Social é apenas mais um sector, entre muitos, que vivem uma crise prolongada.

Será que os agricultores, os pescadores, os escritores, entre outros, são menos importantes para o regime e a Democracia?

Aliás, entre outras preocupações dignas de um qualquer populistazinho caseiro, durante a cerimónia dos Prémios Gazeta 2017, face a uma plateia de jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa também sabe que a liberdade de informação e o Estado - seja português, angolano, chinês ou outro qualquer - nunca foram compatíveis.

O objectivo, certamente, terá sido outro, entre o passar a mão por uma Comunicação Social que lhe é escandalosamente favorável e o divertimento de criar mais um embaraçozinho ao primeiro-ministro.

Querendo ser intelectualmente sério, o lançamento de um debate sobre a crise da Comunicação Social deveria ter passado por outras questões mais profundas, mas Marcelo Rebelo de Sousa sabe bem como e quem o ajudou a chegar a Belém.

E, porventura, também sabe que a repetição da dose é essencial para o anúncio e o sucesso da recandidatura.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

DE BORBA A ANGOLA: JUSTIFICAR OU ESCRUTINAR?


Entre o desastre de Borba e os negócios entre Portugal e Angola existe um denominador comum: A desfaçatez política.

A cada tragédia, ignomínia e roubo de colarinho branco, o povo assiste ao desmentido, à profissão-fé e ao passa-culpas, uma tripla para evitar o apuramento de responsabilidades.

Não terá chegado o momento para os jornalistas pousarem a caneta, ou melhor, afastar o teclado, e interrogarem-se sobre os seus próprios deveres?

Desde já é preciso esclarecer que no mundo da comunicação social há dois tipos de jornalistas: Uns encontram imediatamente argumentos para tudo justificar; os outros aproveitam a oportunidade para escrutinar a realidade.

Entre uns e outros, os primeiros são mais numerosos, enquanto os outros, a minoria, lá vão resistindo estoicamente face à interferência grosseira de um qualquer poder mal-disposto ou ao telefonema alarve de uma qualquer agência, quiçá abanando um portefólio de publicidade.

Independentemente da questão profissional, o alheamento das grandes questões que importam aos cidadãos, em Portugal e Angola, explicam uma grande parte da crise em que a generalidade dos órgãos de comunicação social estão enterrados.

Em vez de estarem próximos dos cidadãos e dos seus problemas andam entretidos com conferências de imprensa da treta, cerimónias e viagens oficiais de embalar e demais eventos para encher o olho.

E não é possível ficar só pela informação.

É preciso questionar também a cidadania.

Quantos de profissão habilitada a avaliar a situação da estrada de Borba e do saque dos dinheiros angolanos continuam calados?

É verdade que há excepções, como comprovam a declaração de Carlos Alves, Bastonário da Ordem dos Engenheiros, a intervenção corajosa da eurodeputada Ana Gomes e a persistência do escritor Rui Verde, entre outros autores.

Que o Estado não faz o que lhe compete já todos nós sabemos.

É chegada a hora de admitir que é preciso justificar menos e escrutinar mais.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

COSTA DE VENTO EM POPA


O primeiro-ministro tem razões para andar túmido.

E até satisfeito.

Ainda que tanta euforia seja desaconselhável em política, pois perde-se a perspectiva da rectaguarda, António Costa está a cumprir todos os manuais da estratégia política, desde logo colocando paulatina e pacientemente os seus adversários políticos no sítio certo para melhor os vencer.

Marcelo Rebelo de Sousa perdeu a graça com Tancos.

Rui Rio está como nunca esteve, ou seja de rastos.

Assunção Cristas lá vai esbracejando quando a sombra deixa.

Catarina Martins e Jerónimo de Sousa estão tão atolados nos últimos anos da governação que mais não lhes resta do que aguardar a caridade de uma esmolinha num futuro governo.

Se assim é para os principais líderes políticos, então o que dizer de André Silva, a espécie de muleta-milagrosa do PS?

A investigação sobre o PAN (Partido dos Animais) é o golpe de misericórdia num eleitorado próximo dos socialistas que, então farto de um certo PS, arrepiou caminho para a civilizada política em defesa do mundo animal.

Entre energúmenos com e sem bola que tomaram conta dos Media, animais que defendem outros animais com recurso à ameaça e uma oposição parlamentar perdida, incompetente e domesticada, António Costa bem pode brilhar nos grandes eventos que, aliás, sempre marcaram os desastres governativos dos socialistas.

Para já, tudo, ou quase tudo, corre de feição.

Até os "malvados" de Bruxelas estão anestesiados com Mário Centeno no Eurogrupo.

O problema é a vida, a crua e dura realidade do dia-a-dia da maioria dos portugueses.

António Costa já devia ter aprendido que não bastam cenários perfeitos.

A realidade é sempre capaz de surpreender.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

CARTA AO PAI NATAL


O Natal é sempre mágico para as crianças.

E também é um um momento especial para os adultos.

Este ano estou a preparar uma carta ao Pai Natal com três desejos:

Saber o que se passou em Tancos.

Ter eleições antecipadas.

Viver num país decente.

O caso de Tancos é demasiado grave para ser "lavado".

E, Pai Natal, por favor ilumina-os, pois Tancos não pode ser reduzido a uma dificuldade de compreensão ou a uma qualquer nebulosa de última hora, com mais parada menos parada.

Tancos tem de ser um marco no fim da percepção da palhaçada político-institucional que insulta a inteligência dos portugueses, visando impedir a descoberta dos autores do roubo, do encobrimento e das sucessivas omissões e mentiras de Estado.

Não é possível pactuar mais com os actuais representantes dos órgãos de soberania que, deliberada ou por incompetência, exibem uma arrogância politicamente obscena e truques e mais truques semânticos.

Pode ser que a minha carta ao Pai Natal não seja atendida, mas não, não nos calam...

É preciso dar a voz aos eleitores, quando a crise fere o regime no seu coração.

Aliás, nenhum português pode desistir de viver num país decente.

E de exigir uma, duas, dez, vinte, mil vezes a verdade sobre Tancos e o julgamento dos autores e co-autores de um crime contra o Estado.

Não custa nada sonhar, porque Natal pode e deve ser todos os dias.