quarta-feira, 27 de março de 2019

PADRINHOS VERSUS CIDADÃOS


Uma excelente iniciativa do CCB levou-me a uma maratona cinéfila, durante um dia inteiro, para ver o Padrinho nas três versões existentes.

Os métodos mafiosos, os negócios da droga, a brutalidade bárbara e a corrupção, desde o bairro ao mais alto nível da política e das finanças, transportam-nos para outros tempos, outras batalhas, a tantos e tantos episódios a que assistimos no dia-a-dia, com mais ou menos violência e despudor.

O cimento comum é sempre o mesmo: a falta de carácter, a confiança cega, o uso e abuso dos laços de amizade e familiares, tudo embrulhado numa confusão de valores em que o poder e o dinheiro sujo brilham em todo o seu esplendor.

Aliás, dois episódios recentes, entre muitos outros, que podiam servir também de exemplo, deveriam merecer a nossa melhor atenção e a mais viva reprovação.

O primeiro é a transformação do governo de Portugal numa manta de retalhos de algumas famílias, sob o pretexto de ninguém poder ser prejudicado pelo seu apelido e/ou laço de sangue.

É um abuso que contraria todas as recomendações internacionais, nomeadamente aquelas emanadas pelo GRECO (Grupo de Estados Contra a Corrupção), composto por 49 Estados membros (48 Estados europeus e Estados Unidos da América), entre os quais Portugal.

O outro é bem mais característico do fanatismo actual: as ameaças de morte e as agressões físicas e morais no mundo do futebol à luz do dia, gravadas e transmitidas em directo, vistas por todo o país, para já e aparentemente sem qualquer reacção da parte das autoridades.

Há uma realidade travestida por personagens, que se intitulam pais, avós, muito homens e a cima de qualquer suspeita, com o objectivo de passar por aquilo que não são nem nunca foram educados a ser: cidadãos.

Cabe-nos a nós, a todos, ajudar a desconstruir esta farsa.







terça-feira, 5 de março de 2019

NETO MOURA: UM IMENSO CARNAVAL



O assunto da violência doméstica é sério e exige uma mobilização geral.

E o escrutínio é essencial.

Peguemos no caso dos acórdãos do Desembargador Neto Moura.

São poucas todas as colunas de opinião sobre as observações do Juiz que corre o risco de passar a ser mais um Super Juiz.

No imenso mar de palavras ditas e escritas poucos são aqueles que se atrevem a falar de Direito, o que até é compreensível dadas as competências de tão ilustres novos "juízes".

O mais preocupante é que apenas concentram baterias no palavreado desenfreado que acompanha cada sentença, cada acórdão.

Sim, importa distinguir entre o paleio, muitas vezes resultado da facilidade do copy e paste, e a fundamentação técnica da decisão.

E, sim, se em muitos casos a conversa fiada até revolta ou faz rir, outros há em que liberdade de opinião do Juiz não colide com a correcta fundamentação da decisão à luz do Direito.

Francamente, pouco conta a opinião de Neto Moura, antes importa se o magistrado respeita a aplicação da Lei.

Com tal profusão de comentários e análises publicados nos últimos tempos, o risco da formação de mais uma turba é real e preocupante.

Há exames que não ficam pela notoriedade fácil.

Aliás, com todo este imenso Carnaval, ninguém leva a mal mais um sonho em jeito de brincadeira: um dia, governos, governantes e outras maiorias de circunstância também serão merecedores de tão atento e implacável escrutínio de cidadãos notáveis e anónimos, de verdadeiros homens e mulheres preocupados com a sociedade em que vivem.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

GREVE SÓ PARA ALGUNS


Marcelo não poderia desejar ou pedir mais para manter o status quo bafiento que tem condenado o país à miséria banhada pelas águas calmas.

Impressiona a "firmeza" com que o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP estão a encarar a greve dos enfermeiros.

O direito à greve é inquestionável, mas há greves e greves.

Mas se forem enfermeiros, médicos, professores, magistrados e polícias, então a conversa é sempre outra.

Em vez de começarem pela origem do problema - as reivindicações -, esta espécie de esquerda manifesta, agora, uma inflexibilidade que contrasta com a política de terra queimada assumida noutras lutas do passado quando a direita governava.

Em vez de questionar a razão pela qual a lei do crowdfunding não está regulamentada, eis que surge a ASAE para investigar os fantasmas do financiamento inteligente que os enfermeiros criaram para dar liberdade a quem quer fazer greve.

Em vez de questionar a falência criminosa a que o SNS está votado, com o maior desplante político, em que os doentes esperam anos para serem tratados e/ou operados, eis que correm as lágrimas de crocodilo pelos adiamentos de cirurgias por causa da greve dos Enfermeiros.

António Costa não está só a comprometer o futuro do país com tiques arrogantes e truques e mais truques, em boa verdade está a arrastar a esquerda para o fundo do abismo.

E, convém recordar, o centro nem sempre paga em política.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

CGD: EXEMPLAR, TRUNCADA OU A MESMA CHOLDRA?


Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, e Paulo Macedo, presidente do Conselho de Administração da CGD, deixaram de merecer confiança ao deixar andar, ao omitir e/ou tentar esconder e acobertar os responsáveis da escandalosa gestão do banco público, .

Tal e qual como todos aqueles que estiveram calados desde 2005, atrevendo-se até a esboçar largos sorrisos complacentes aquando dos alertas e das denúncias da eurodeputada Ana Gomes, entre outros, muito poucos.

Aliás, ainda está bem viva na memória de alguns as loas extraordinárias que a ralé do costume proferiu à data do golpe, perdão, transferência, de Santos Ferreira e afins da CGD para o BCP em 2007.

Porventura, ainda há quem não tenha aprendido com os prejuízos resultantes das encenações passadas, e continue a apostar em truncar a verdade, mas a revelação da auditoria da CGD tem de ser um marco de mudança, uma oportunidade para limpar o país de criminosos que não hesitam em roubar e/ou trocar favores que lhes permitem manter o poder.

Já basta o que se passou com o BPN e o BES.

A CGD é muito mais, muito mais grave, e exige uma acção implacável dos deputados, no apuramento das responsabilidades políticas, do Ministério Público, no foro criminal, e o escrutínio dos cidadãos.

A Justiça nunca perde quando está do lado do povo.

E não deve ter medo das ameaças subtis sob a forma de sibilinos apelos à prudência.