segunda-feira, 22 de junho de 2020

JOVENS ACORDAM


Faço parte daqueles que acreditam que os mais novos são sempre uma esperança.

E nunca aceitei a tese simplista que os jovens vivem alheados da realidade social e política.

Por canais informais, e segundo os seus interesses, a juventude é atenta ao que se passa à sua volta, tanto mais que tem de lutar e aproveitar todas as oportunidades para ter um emprego condigno e aspirar a uma vida.

A verdade é outra: Há várias gerações de jovens que têm sido massacradas pelos desmandos do poder político e pelas sucessivas crises.

E, agora, subitamente, com a pandemia, passaram a alvo do poder institucional por assumirem simplesmente um comportamento em linha com os exemplos e as mensagens do poder.

É caso para perguntar: Será que as festas e os ajuntamentos dos jovens nos últimos dias são uma forma de dizerem ao poder presidencial, executivo e político que basta de tanto arbítrio e hipocrisia?

Ou melhor, estaremos face a uma espécie de statement de protesto?

Vale a pena esperar, ver e reflectir!

É que não é possível apagar as últimas "brincadeiras" de Estado, como as manifestações, as comemorações e os espectáculos com a "afável" cobertura do regime.

Aliás, os ajuntamentos em Braga e no Porto, a festa na praia de Carcavelos e o aniversário em Lagos não são suficientes para explicar o "milagre" de casos e mais casos na área metropolitana de Lisboa.

E as últimas ameaças do primeiro-ministro e do presidente da República dirigidas aos jovens, brandindo a intervenção das forças policiais para quem não se resigna com a ausência escandalosa de critérios, é a prova do desnorte que graça ao mais alto nível.

Aliás, veja-se só o último exemplo que deve deixar qualquer jovem (ou menos jovem) confundido: o espectáculo que foi brindado com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa no Campo Pequeno acaba de ser proibido no Porto.

Os mais jovens parecem não aceitar mais esta etapa do bailete, pelo que fazem questão de reunir desafiando a autoridade de quem tem vindo a perder toda a credibilidade. 

Mesmo sabendo que as "brincadeiras", sejam elas de quem forem, têm consequências, quando descobertas e expostas.

É preciso parar e ponderar, adoptando uma abordagem verdadeira, transparente, responsável, coerente e pedagógica, em vez de apresentar as últimas festarolas da juventude como reuniões de hordas de macacos.

À luz do comportamento dos principais órgãos de soberania, agentes do Estado e demais afins sempre disponíveis para tudo justificar seria possível esperar outro comportamento da parte dos jovens?

Não!

A pressão que está a ser feita sobre os jovens é injusta e descabida, porque o seu comportamento é apenas o resultado de um frenesi das autoridades apostadas numa espécie de campeonato da propaganda e do disparate.

Como sublinhou Miguel Poiares Maduro, «não somos os melhores do Mundo. Mas deveríamos querer ser! Para isso, temos de trabalhar a partir da realidade».

Os recados desesperados, as ameaças veladas e as perseguições cobardes são sempre a marca dos medíocres e dos fracos, incapazes de assumirem os seus erros e de estar à altura de um período crítico.

Há quem ainda não tenha aprendido que os tiques arbitrários e autoritários, bem como os truques e a opacidade, com mais ou menos descaramento, impunidade e corrupção à mistura,  mais tarde ou mais cedo acabam mal.

Os últimos que se julgaram donos-disto-tudo já bateram com os costados na cadeia ou ainda andam às voltas com a Justiça.

Ou como diria o outro: às vezes, com o tempo, o(s) macaco(s) empoleirado(s) na grande árvore dana(m)-se!



segunda-feira, 15 de junho de 2020

SNS: O BARATO SAI CARO


Enquanto não é concluído o mais que necessário Livro Branco sobre a COVID-19, chegou a hora de começar a fazer contas.

A sério!

Sem demagogias.

E sem olhar ao ruído da máquina da propaganda principescamente oleada com os euros sacados dos nossos bolsos.

Actualmente, sabemos que a crise da pandemia terá custado mais de 15 mil milhões de euros.

Também sabemos que mais de cinco mil mortos ocorreram em Portugal por causa do vírus, bem como devido à suspensão e cancelamento de consultas e cirurgias.

E mais: fomos amavelmente informados que os hospitais da Grande Lisboa voltaram a suspender consultas e cirurgias para acorrerem ao aumento de casos em curso que, extraordinariamente, não preocupam o governo desnorteado e a DGS cada vez mais descredibilizada.

A questão é simples: não teria ficado mais barato ter um Serviço Nacional de Saúde (SNS) capaz, bem apetrechado, com médicos, enfermeiros e assistentes em número suficiente?

Esta é a pergunta que governantes e governados deveriam estar a fazer, reflectindo para melhor poder responder no futuro a qualquer eventualidade.

Aliás, esta matéria até poderia e deveria já ter sido estudada pelos organismos da Saúde, incluindo a politicamente amestrada Escola Nacional de Saúde Pública, entre outros.

Mas, para já, apenas o vazio do silêncio.

Mais do mesmo!

Do governo e dos partidos da oposição parlamentar.

Com um SNS de excelência, o primeiro embate da pandemia poderia ter sido absorvido, dando tempo a uma preparação extraordinária para qualquer agravamento e a um confinamento ponderado e com critérios objectivos.

As contas públicas agradeceriam esta tão simples racionalidade e boa governação.

Porventura não estaríamos na actual situação de aflição, com consequências devastadoras que começarão a ser sentidas a partir de Setembro, nem totalmente dependentes das ajudas europeias.

Neste debate essencial, o que tem feito a imprensa?

Salvo raras excepções, pouco mais do que debitar teses e números oficiais e apanhar a boleia da especulação, do medo e da ignorância, julgando poder tirar dividendos, mais uma vez, sem sucesso, do jornalismo medíocre a que insistem em chamar light.

Ninguém aprende com os erros?

Não!

Tudo é possível, enquanto existir o chapéu caridoso da União Europeia, a dívida poder aumentar desenfreadamente, a máquina fiscal continuar a extorquir o lucro de pessoas e empresas e continuarem as mortes que poderiam ser evitadas.

Até haver uma verdadeira cidadania.







segunda-feira, 8 de junho de 2020

REGRESSO À (A)NORMALIDADE


A propaganda quer convencer-nos que estamos a regressar ao tempo em que não existia a pandemia.

Mas será, entre os sobressaltos na Grande Lisboa,  que estamos a falar de continuar a aceitar a (a)normalidade de 2019 em que morreram mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo por fome e pobreza?

De facto, pouco ou nada tende a mudar estruturalmente.

A Democracia continua a deixar para trás os mesmos de sempre: os mais pobres e aqueles que mais precisam de auxílio.

E, agora, também tem sido assim com as "ajudas" estatais tendencialmente dirigidas, com a Saúde cada vez mais desigual, com a Educação de faz-de-conta que liquida o elevador social e até com a indiferença quando a Justiça parou.

Os critérios opacos e de geometria variável são a sustentação desta "filosofia" da (a)normalidade que acalenta os amigos e os poderosos do costume ao mesmo tempo que propala uma mensagem de solidariedade para enganar os tolos.

E para credibilizar a léria, até garantem que serão precisos anos para regressar à tal (a)normalidade, ou seja o sacrifício de mais uma geração e atirar os pobres para o Banco Alimentar com direito ao afago da caridosa Jonet.

Face a esta realidade, o que faz o presidente da República?

Alimenta o bailete com umas tiradas tão mistificadoras quanto infantis e lá vai tomando umas banhocas com direito a directos televisivos e ao primetime.

E o primeiro-ministro?

Escolhe um gestor à socapa, garantindo-lhe mais de um mês de "liberdade de movimentos", para apontar o nosso futuro no espaço de uma década.

Dá que muito que pensar...

Com pandemia ou não, os tempos são sempre o espelho de atitude ou apatia, de escolha ou indiferença, de resiliência ou desistência.


segunda-feira, 1 de junho de 2020

ANTÓNIO COSTA E SILVA E O "PLANO"


Com a missão específica de coordenar a recuperação económica, com o dinheiro de Bruxelas que ainda não chegou e com a crise da COVID-19 ainda por debelar, o curriculum vitae e as primeiras declarações de António Costa e Silva são inquietantes.

O mais recente espécimen da nova casta que gravita à volta do primeiro-ministro, apesar de imediatamente endeusado pela maioria da imprensa, é uma escolha mais do que duvidosa.

Mesmo sendo pro bono!

Ser CEO da Partex, a petrolífera que foi controlada pela Fundação Calouste Gulbenkian, depois de passar pela Sonangol, não é o melhor cartão de visita para tão espinhosa missão de salvar Portugal do anémico crescimento de décadas e das garras da maior crise de que há memória.

A  opacidade e até secretismo do negócio do petróleo e a transacção com os tailandeses da PTTEP, sem esquecer a extraordinária "aventura" socialista da La Seda, também não devem deixar ninguém tranquilo.

De igual forma, ter o atrevimento de anunciar que fez um plano para dez anos em dois dias também não é a mais credibilizadora mensagem aos olhos dos cidadãos.

A lista de prioridades anunciadas também não: estradas, portos, energia e PME's.

Mais do mesmo...

O mais grave ainda é que, com o "milagre" anunciado pelo presidente da República a desmoronar, António Costa e Silva declarou que também quer um «investimento emblemático» no Serviço Nacional de Saúde.

Emblemático?

Mas, afinal, o que pretende o novo "conselheiro" de António Costa?

Uma pintura da fachada do "edifício" do SNS?

A sucessão de banalidades impressiona, mas a mais perigosa é defender a falsidade política que «esta crise mostrou que o papel do Estado tem de ser revalorizado».

A crise ainda está aqui, presente e avassaladora, estando longe de ter ficado demonstrado que a intervenção do Estado resolveu ou foi suficiente para o que quer que seja.

Fica a doutrinação gasta, aliás desmentida pelos anos e anos de desvario estratégico que nos conduziram a um subdesenvolvimento crónico e a uma dívida gigantesca que condiciona o futuro das próximas gerações.

Só faltava mesmo o ramalhete de quem também acredita que é no mercado e nas empresas que está o «cerne da resposta».

No meio de tempos tão conturbados, cujas consequências ainda só agora começam a ser ligeiramente visíveis, este "arranque" em direcção ao futuro impressiona pela vacuidade e sinais contraditórios.

Bem fez o líder do PAN, o primeiro a dar uma nota dissonante nesta "curta" fantástica, ao anunciar que não tem nada a falar com o "homem do petronegócio".




segunda-feira, 25 de maio de 2020

PANDEMIA E EFEITOS ESPECIAIS


Marcelo é capaz de tudo, até de mentir a si próprio à frente de mais de 10 milhões de portugueses, continuando a sorrir e a debitar banalidades.

Somos os melhores, especiais, etc.

Entretanto segue-se mais uma "notícia" de última hora: a banhoca presidencial na baía de Cascais.

Que indigência...

Enquanto mantém viva a rábula da reflexão sobre a recandidatura, todos os dias faz uma intervenção em que dá um sinal, como lhe convém, de que vai avançar.

Só não o anuncia agora porque tal não serve os seus interesses pessoais e políticos...

E a "democracia" continua...

Parece que os portugueses têm outras "prioridades", dizem os profissionais do costume para distrair as atenções...

Uns pagos às escuras, outros com ajudinhas às claras de oportunidade, mais erro menos erro.

Há privilegiados e privilegiados, sobretudo os "ilustres" que só são o que são porque sempre foram pasto para todo o serviço.

Os efeitos especiais na política conquistaram os portugueses.

E as mentiras oficiais já se tornaram "verdades" populares e banais.

E assim os canalhas continuam a aproveitar-se da ingenuidade alheia...

Vai mais um consenso alargado?

Temos a "investigação jornalística" que resta, porventura por não ser o momento dos jornalistas se meterem com o poder...

Que mediocridade...

Entretanto, face a esta realidade, lado a lado com o bailete em curso, Jair Bolsonaro, depois do vídeo que atesta a sua vulgaridade democrática e política, recebeu uma ordem da Justiça brasileira para entregar o seu telemóvel.

Como está longe o processo de Benjamin Netanyahu, um primeiro-ministro em funções que bateu com os costados num tribunal israelita, por causa de favores aos patrões da comunicação social em troca de cobertura mediática favorável para si e para os seus familiares.

Ah!, se Tancos tivesse ocorrido em Israel ou no Brasil...

segunda-feira, 18 de maio de 2020

OS INEBRIADOS DO REGIME


Os silêncios sobre a morte de Valentina Bernardo, a saga à volta de Mário Centeno, o apoio do primeiro-ministro ao "candidato" Marcelo Rebelo de Sousa e o arraso de um tribunal ao tiranete Vasco Cordeiro representam um patamar nunca visto na vida política e institucional.

É que choca a indiferença de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa em relação à incúria gritante na protecção de menores.

E também choca a "perseguição" orquestrada contra Mário Centeno.

Ainda choca mais que o primeiro-ministro tenha o atrevimento institucional de fazer uma declaração de apoio à recandidatura do actual presidente.

Mas o que choca realmente é um cidadão ter de enfrentar sozinho o abuso decretado pelo Governo dos Açores, sem que tenha contado com qualquer intervenção e apoio dos órgãos de soberania ou do Ministério Público para reporem a legalidade.

De facto, Costa e Marcelo andam inebriados...

E, aparentemente, até já meteram o MP no bolso...

Com o aparente sucesso dos truques governamentais e do folclore presidencial, mais esquema menos esquema, ambos têm avançado para terrenos politicamente inimagináveis por falta de comparência de quem tem o dever de os enfrentar de frente. 

Talvez porque quem tenha o dever de o fazer tenha medo que eles sejam a nova lei que tudo permite.

Felizmente, na última semana, dois acontecimentos vieram repor alguma normalidade e dar esperança no normal funcionamento das instituições.

Por um lado, Mário Centeno, de uma penada, arrasou a credibilidade de Costa e Marcelo, não tendo sequer receio de lhes chamar irresponsáveis, um "independente" que travou mais um joguinho de quem se comporta como os novos donos disto tudo.

Por outro, face ao descaramento político de Costa, que julga poder subjugar o partido, reduzindo-o à insignificância, Ana Gomes teve a dignidade de defender o PS que existia antes do governo liderado por Sócrates e Costa. 

E prometeu reflectir sobre uma candidatura às presidenciais de 2021.

Não vale tudo, nem em tempos de pandemia...

segunda-feira, 11 de maio de 2020

RAÇA DE GENTE


Pedro Rebelo de Sousa deve estar a dar por muito bem aplicados os euros investidos na campanha presidencial do mano dos afectos.

É que a vida corre-lhe de feição como relatou Maria Henrique Espada na revista Sábado.

De toda a comunicação social, ainda sem ver a cor de carcanhol, apenas uma pequeníssima parte lá vai escrutinando a «cultura de endogamia nas elites portuguesas», como lhe chamou Nuno Garoupa.

Numa semana terrível de números globais da Covid-19 ficámos a saber que o PM desconhecia uma transferência de centenas de milhões de euros para o Novo Banco depois de ter assumido na AR nem mais um tostão antes de estar concluída uma daquelas auditorias que duram, duram...

Mário Centeno continua em funções depois de ter desautorizado o PM com estrondo?

A sempre muito bem informada Catarina Martins, uma actriz na arte de fazer política, deu assim o seu contributo para melhor compreender como é a governação ainda antes das férias de Verão que se aproximam perigosamente. 

Ou como fazer oposição em tempos de pandemia...

Será que já ninguém se lembra do que foi votado pelos deputados em Fevereiro passado?

As surpresas e os sustos não cessam, como se os deuses se tivessem organizado para meter a realidade pelos olhos dentro dos portugueses.

Depois do "negócio" de um secretário de Estado, que mais parece um elefante numa loja de porcelana, obviamente chinesa, a TAP do "orgulho" do saque de centenas de milhares de milhões de euros dos bolsos dos portugueses passou para a praça pública.

Pois, claro, haja o que houver!

As guerrinhas internas entre o PM e dois dos seus ministros, um must há muito anunciado, prometem episódios apocalípticos, se levadas a sério as conspirações pequeninas de quem já entrou em alerta vermelho na emergência...

Como se não bastassem todas estas estações do calvário dos portugueses ficámos também a saber que, afinal, o futebol, a Festa do Avante  e os mini festivais podem arrancar com medidas sanitárias da DGS (moribunda) de Graça de Freitas.

À cautela, as forças polícias vão para Fátima para salvar o "milagre"...

Entretanto, os restantes polícias andam a fazer operações stop e a dar caça a banhistas em praias desertas de gente e alegria, isto quando não são cercados por residentes num qualquer bairro.

Ah!, e então o SNS que resistiu à COVID-19, depois do cancelamento de milhares e milhares de consultas e cirurgias que já provocaram mais mortes do que o próprio vírus.

Ah!, e que dizer da defesa dos ciganos, dentro ou fora de Monforte, na era do espelho meu, espelho meu, há alguém menos racista do que eu?, enquanto estrangeiros, imigrantes e refugiados vivem amontoados em pensões que mais parecem gulags ou campos de concentração.

Ah!, como são firmes aqueles que nos governam e decretam multas de 350 euros para quem não usar máscara, depois de não terem acautelado a protecção individual a tempo e horas.

E Portugal tão vertiginosamente igual...

Nem uma pandemia consegue mudar esta raça de gente.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

FILHOS E ENTEADOS... QUEM DIRIA?


Em Portugal, nos momentos de crise, é o ai quem me acuda nos mais diversos sectores.

Infelizmente, o sector da comunicação social está sempre nesta linha da frente da pedinchice.

O poder político (logrão!) apressou-se a usar o dinheiro público - já lá vão 15 milhões - para garantir "boa imprensa", omitindo o espezinhar dos mais novos que abraçam a profissão e todo o tipo de atropelos que abastardam a liberdade de imprensa. 

Mas não chega! 

Nunca chega!

É claro que a receita já vem de longe e não muda, nem para os governantes e políticos nem para os próprios jornalistas seniores e demais "estrelas" principescamente remuneradas.

O resultado está à vista: empresas endividadas, com estruturas de custos surreais,  mais ou menos de mão estendida, obviamente disfarçadamente, sempre à espera de mais um "subsidiozinho" ou de um benefício fiscal para tapar uma gestão pouco profissional e competente.

Chegados a 2020, data da pandemia, lá voltamos à mesma laracha: apoiar a imprensa com mais uma ajudinha porque é um sector indispensável à Democracia.

A presente conjuntura devia obrigar uns e outros a corar, sobretudo a reflectir sobre o valor de outras profissões, desde os médicos, os enfermeiros e até ao mais simples operador de caixa do supermercado perto de casa que nos permitiu ultrapassar o confinamento mais suavemente.

Curiosamente, ou não, ninguém se lembra destes profissionais, entre tantos e tantos outros anónimos, que abnegadamente deram um contributo ímpar e um exemplo de civismo extraordinário, a não ser as generosas e merecidas salvas de palmas.

Os auxílios, nas mais variadas formas, são sempre para os mesmos, desde aqueles que estão sentados à mesa do orçamento até aos outros que gravitam à volta do poder.

E aqui começa outro problema crónico: o Estado, pela mão dos governos e das maiorias conjunturais, lá vai distribuindo umas prebendas às suas clientelas à medida das suas expectativas políticas e interesses partidários.


O sector da comunicação social tem de aprender a viver com os telespectadores, ouvintes e leitores que conquistou e merece.

E até deveria prestar a maior atenção às últimas palavras de Pedro Nuno Santos (ai se os membros do Conselho Europeu sabem!) dirigidas aos privados da TAP.

De facto, nem mesmo uma situação excepcional de pandemia deve obrigar o Estado a pagar os desmandos de privados. muito menos o "Quem quer namorar com o agricultor", o "Big Brother" ou mais uma qualquer "Champions".

É que, em abono da verdade, não vale a pena continuar a fazer de conta: A missão de informar já deixou de ser a jóia da coroa dos grupos de comunicação social há muito tempo.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

MARCELO E COSTA: HORA DE VOLTAR A NÃO TER MEDO!


Portugal vive momentos dramáticos.

E a crise provocada pelo COVID2019 está a trazer ao de cima a crónica debilidade económica e financeira, as chagas sociais de há décadas e o pior do regime político-institucional.

Incapazes de a antecipar, com verdade, rigor e competência, chegámos à pandemia com os mesmos estrangulamentos e o mesmo endividamento impressionante, disfarçados pela corrupção que vai alimentando as clientelas partidárias que já capturaram há muito o Estado.

E, como sempre, é nas crises globais que vemos ainda melhor os erros do passado, o discurso demagógico e irresponsável do poder que lá vai sendo composto com promessas tão vãs quanto ridículas e mais ou menos abafado pela distracção de quem deve escrutinar.

Nem o dinheiro sujo de Angola e da China nos vale, apenas serve para acentuar o silêncio cobarde quando a voz se deve erguer contra ditaduras e criminosos.

De igual forma, as fragilidades decorrentes de uma sociedade desigual e até iníqua são ainda mais evidentes durante os períodos excepcionais como aquele em que estamos tragicamente mergulhados.

Dos mais idosos até aos emigrantes e refugiados, dos sem-abrigo aos desempregados de longa duração, que as economias amontoam com indiferença incompreensível, a crise acentua a brutal realidade de um país pobre em que uma minoria ficou e continua esquecida.

Por último, os momentos de indefinição que vivemos são determinantes para ainda melhor enxergar o funcionamento do regime e a qualidade da Democracia.

O regresso de uma espécie de "Estado Novo", agora em versão de bailete com verniz democrático e até místico, de união bafienta e sempre caritativo, liderado por um presidente com um sorriso despropositado, cujo ego nos envergonha cá dentro e lá fora, não augura nada de bom.

A cerimónia de distribuição de sacos de comida no dia 25 de Abril, para as câmaras da TV, cujo jornalismo já não olha a meios, é mais do que um inqualificável atrevimento político, é um insulto aos cidadãos, é uma afronta a todos aqueles que se bateram e morreram pela liberdade.

E também não lutaram para garantir a eleição de um PM que faz-de-conta quando um deputado, João Cotrim Figueiredo, no Parlamento, lhe pergunta pelo "fantástico" registo dos números de mortes durante a pandemia.

Aliás, quando António Costa tem o descaro de afirmar que o «confinamento é para manter diga o que disser a Constituição», então chegou a hora de voltar a não ter medo, e de dizer com todas as letras aos palhaços do regime: 25 de Abril sempre!

A luta dos capitães de Abril exige um combate sem quartel contra esta espécie de "democracia"... 


segunda-feira, 20 de abril de 2020

UM DIA... A PROPAGANDA VEM ABAIXO


Não há memória de tanta e tanta declaração e entrevista do presidente da República e do primeiro-ministro num tão curto espaço de tempo.

O tempo mediático virou um desfile de personalidades e um repositório duvidoso sem a mínima fiabilidade e o correspondente escrutínio.

É certo que o momento é exigente, mas mais do que fazer política, de lugares-comuns e de chavões gastos, que estão a revelar um gigantesco desnorte, urgia antecipar, falar verdade e demonstrar competência para enfrentar a pandemia e preparar o futuro.

A torrente de palavras e mais palavras, de fanfarronices e de contradicções só podem gerar estupefacção e, sobretudo, mais razões para uma crescente preocupação.

A falta de credibilidade é tanta que a generalidade dos portugueses anteciparam as medidas que o poder foi incapaz de levar por diante no momento certo e razoável, deixando um rasto de mortes que tudo indica poderiam ter sido evitadas.

Foi assim com a interdição de voar, confinamento, equipamentos de protecção individual, necessidade de isolamento à mínima suspeita do vírus e recurso às urgências hospitalares. 

A propaganda em curso, desde os registos do COVID2019 até à ilusão dos apoios à economia, chega a ser chocante, revoltante e até repugnante.

O mais extraordinário é que assistimos, diariamente, a uma comunicação social em posição agachada, emergindo uma série de "estrelas" que tudo permitem e que abraçaram um campeonato invulgar de quem mais faz chorar as pedras da calçada.

Até já é possível reescrever a história, deixando para trás anos de endividamento público, de gigantescos problemas no SNS e de um crescimento económico medíocre numa conjuntura excepcionalmente favorável.

Lemos, ouvimos e vemos a desinformação grotesca através das mais absurdas teses, fantasias e promessas, tudo para "salvar" o poder político que bolina sem direcção.

O day after não vai perdoar a quem andou mais preocupado com comemorações, elogios, homenagens, cantatas e palmas e mais palmas do que em respeitar e cumprir o seu sagrado compromisso de governar, de alertar e de informar com rigor e verdade.

No momento certo, a realização de um Livro Branco sobre a pandemia é o mínimo para ressarcir quem ficou às mãos desta gente à solta.

E que não haja dúvidas: quando chegarem os dias negros de contar o verdadeiro número de mortos e de enumerar as consequências da devastação económica e financeira, então vai ser um ai quem me acuda.

E, no momento do balanço, em que a propaganda vem abaixo, vamos todos compreender melhor como desperdiçámos tanto tempo a enganar-nos uns aos outros e, ainda mais grave, a enganármo-nos a nós próprios.



segunda-feira, 13 de abril de 2020

LUCÍLIA GAGO: SILÊNCIO ESTRIDENTE


Lucília Gago assinou a directiva 2/2020, a 30 de Março de 2020.


Desde então, a procuradora-geral da República sumiu do panorama mediático, uma inexplicável ausência num quadro de excepcionalidade pandémica e de vigência do estado de emergência em que o Ministério Público deve estar ainda mais presente, vigilante e activo.

Num momento crítico de limitação dos direitos dos cidadãos, o vazio da comunicação do MP é gritante e deveras preocupante.

Um silêncio estridente no momento em que a comunicação social dá conta de casos e mais casos de alegada falta de assistência, abandono, negligência e de mortes e mais mortes entre os mais idosos e desprotegidos.

Aliás, um silêncio também estranho e repetido após a nova condição de prisão domiciliária de Rui Pinto que ocorreu e decorre sem que tenha havido uma única palavra de Lucília Gago.

Não havendo confirmação que está no gozo de férias, e certamente em rigorosa observação do confinamento, será que a PGR não lê jornais, não ouve rádios e não vê informação televisiva?

Ainda assim, alguém deve ter avisado: Diário de Notícias, 6 de Março de 2020: «DGS afasta, para já, restrições de visitas a lares de idosos»; Revista Sábado, 8 de Março de 2020: «Saiba em que distritos se aplica a suspensão de visitas»; Diário de Notícias, 30 de Março de 2020: «Testes portugueses à covid-19 nos lares de idosos a partir desta segunda-feira»; Público, 6 de Abril de 2020: «Covid-19. Lar de Aveiro com 15 mortes esperou duas semanas por kits de testes»; Público, 9 de Abril de 2020, «Cerca de 15% dos mortos por covid-19 eram idosos que viviam em lares»; SIC Notícias, 12 de Abril de 2020: «Vila do Conde. 100 infetados em centro de apoio a deficientes». Jornal de Notícias, 13 de Abril 2020: «Alto Minho revoltado soma mortes em lares de idosos».

No momento em que já morreram várias dezenas de idosos nos lares, em condições que tudo indica justificar uma investigação criminal, este súbito mutismo da PGR é incompreensível. 

Será que as notícias, geradoras de fundado e suficiente alarme público, não são suficientes?

Não há indícios suficientes para abrir averiguações a propósito das mais de 500 mortes "registadas", desde as autoridades políticas, às sanitárias e aos gestores de instituições de saúde?

A expressão do artigo 86.º, n.º 13, al. b) do Código de Processo Penal, «Para garantir a segurança de pessoas e bens ou a tranquilidade pública», caiu em desuso?

Já vale tudo no estado de emergência em Portugal?

É que por essa Europa fora tem sido noticiada a abertura de inquéritos às circunstâncias em que os idosos estão a morrer às mãos do COVID2019, por exemplo em Wolfsburg, no Estado da Baixa Saxónia (noroeste da Alemanha), onde ocorreram 22 mortes.

De notar que a investigação do MP alemão foi aberta após queixas que apontaram para a eventual negligência, a situação de higiene catastrófica e a proibição tardia da entrada de visitas externas.

Se da parte da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, já se espera pouco, e muito menos depois de afirmar que não há sobrelotação nas prisões, decerto esperava-se muito mais da PGR.

E, já agora, também falta uma palavra de António Ventinhas, presidente do sindicato dos magistrados do MP, sempre atento e activo às questões corporativas.

Há silêncios que matam aos olhos dos cidadãos, ainda mais aos olhos das famílias impotentes face aos seus a morrer em condições extraordinárias que, em abono da verdade, nem a incúria governamental, nem a conivência institucional e política, nem a propaganda conseguem abafar.




segunda-feira, 6 de abril de 2020

COVID2019 E O ABAFAMENTO


O governo de Portugal desperdiçou mais de dois meses para se preparar para enfrentar a COVID2019, ignorando desastradamente os sucessivos alertas na China e o disparar dos casos na Europa.

É preciso recordar uma data fundamental: a 31 de Janeiro de 2020, a OMS declarou Emergência de Saúde Pública Internacional e a notícia da infecção de dois turistas chineses em Milão, Itália, correu mundo.

Não foi suficiente para despertar a atenção das autoridades portuguesas.

Mais grave ainda: face ao pânico então já instalado, António Costa demorou a adoptar a medida mais exigente: o fecho das fronteiras.

Áustria, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Polónia, República Checa e Suíça, mesmo sem cenários internos de contágio exponencial, não esperaram pela brutalidade dos números nos países vizinhos para fechar as portas ao exterior.

E, para ter um termo de comparação mais concreto: António Costa demorou exactamente mais oito dias do que os austríacos para fechar as fronteiras com Itália.

Disfarçar o erro e a manipulação da realidade têm contado com a "distracção" da imprensa e dos partidos da oposição que enveredaram por uma cumplicidade com as autoridades que lhes vai custar um elevado preço em termos de credibilidade junto dos portugueses.

E não é preciso confirmá-lo com o tristíssimo episódio do uso de máscaras, pois todos já compreendemos que tal só ocorreu porque, simplesmente, não havia reserva estratégica e/ou stock em Portugal.

E nem é preciso lembrar Graça Freitas, a especialista do Estado ao serviço do governo, que afirmou que testar podia dar uma falsa sensação de segurança, depois anunciou que a prioridade é testar, testar, testar e agora acaba admitindo que há atrasos na realização de testes.

As alarmantes faltas de preparação e a incompetência, a roçarem a incúria criminosa, atingiram outros níveis ainda mais inimagináveis se levada em linha de conta a situação descontrolada do outro lado da nossa fronteira terrestre.

Com o mundo apavorado com a evolução dos contágios em Espanha, Portugal só encerrou de facto o seu espaço interno aos nuestros hermanos no dia 18 de Março de 2020.

E - pasme-se! -, a decisão foi tomada dez dias depois da polémica pública à volta da autorização das autoridades espanholas à manifestação do Dia da Mulher, a 8 de Março de 2020.

Nada conseguiu despertar António Costa para os riscos terríveis da inacção.

E quanto ao argumento estapafúrdio que a primeira morte de COVID2019 em Portugal só ocorreu no dia 16 de Março de 2020... Não vale um único comentário!

Por sua vez, se já começámos a compreender que Marcelo Rebelo de Sousa sem os afectos e as selfies fica reduzido à mais cruel redundância política, nunca é tarde para denunciar que a unidade não pode ser sinónimo de branqueamento.

E muito menos abafamento!

Com os últimos dados, que traduzem uma estranha "curva errática", acreditar piamente nas autoridades políticas e sanitárias, que decidem tarde e a más horas e ainda faltam à verdade, parece ser cada vez mais um exercício masoquista, quiçá suicida.

A realidade dos factos é indesmentível: Portugal é dos países da União Europeia com os maiores rácios de infectados, como comprova a taxa de mortalidade (óbitos/contaminados) que já ultrapassou os 2,5%.

O mundo pode estar a morrer, mas a razão tem de continuar viva. 

É nos momentos de crise extrema que podemos avaliar a qualidade dos nossos governantes, pelo que não pode passar impune esta forma de fazer política e propaganda em vez de acautelar a saúde dos portugueses.

António Costa bem pode continuar a adiar a divulgação do modelo e dos dados da COVID2019 aos cientistas, mas o segredo não vai durar eternamente.

Com a pandemia ainda instalada no adro apenas há uma certeza: temos o direito de saber toda a verdade sobre como a preparámos e a estamos combater, através de um Livro Branco da COVID2019 ou de qualquer outra iniciativa da cidadania.

A primeira resposta a que todos temos direito é muito simples: Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se o poder político português tivesse sido verdadeiro, competente e diligente?