segunda-feira, 26 de abril de 2021

FAZER DE CONTA 47 ANOS DEPOIS

 

A luta contra o absolutismo, a escravatura, o obscurantismo, a discriminação, a guerra e a selvageria capitalista e comunista fazem parte do espírito de Abril.

Por mais branqueamento do colonialismo, por anacronismo, negacionismo ou revisionismo, nunca será possível baralhar quem esteve (e está) do lado dos valores da civilização e os que estiveram (e estão) do outro lado.

Hoje, tal como caberá aos nossos filhos e netos daqui a 47 anos, a luta continua contra os relativismos paternalistas e professorais.

A memória dos que sofreram e tombaram por ideais de humanidade, e nunca calaram por um punhado de mordomias, é um património inalienável da cidadania.

O exemplo daqueles poucos que não se resignaram e enfrentaram a ditadura cruel e ignorante é acolhido na alma do povo e reconhecido pela História.

O 25 de Abril não pode servir para fugir ao presente, para fazer de conta, quando há, agora, tanto ainda para conseguir – na educação, na justiça e na saúde – quase 50 anos depois.

Reconhecê-lo, aberta e humildemente, sem marketing, truques semânticos e subterfúgios da linguagem, é mais do que um sinal de inteligência, é viver a mensagem de Abril.

Tentar diluir o passado na reconciliação fabricada no calculismo, ou na diversidade instrumental, é tão-só mais um sinal dos tempos de logro.

Porque a união não vence na dissimulação.

Porque é tão duro ser jovem, hoje, que é quase temerário esperar que restem forças para renovar e cumprir o sonho.

Iludir a dignidade humana e os carrascos da liberdade – os de ontem, como os de hoje – é atraiçoar o passado e condenar o futuro.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

SÓCRATES SEGURO

 

A Operação Marquês é apenas a ponta do iceberg da corrupção em Portugal.

Tendo em conta a evolução do processo, das decisões dos sucessivos recursos para os tribunais superiores até à decisão instrutória, o momento de fazer Justiça não tardará.

E, no momento do trânsito em julgado, será mais fácil ver com nitidez o filme da corrupção que tem liquidado o desenvolvimento e o crescimento de Portugal.

A confirmarem-se as provas que constam do megaprocesso, que nos dão um retrato fiel e alargado do poder político e executivo, da banca e das empresas, tudo indica que o ex-primeiro-ministro acertará contas no instante próprio.

Em todos os grandes processos judiciais contra a corrupção, à medida da plausibilidade da condenação, não fica pedra sobre pedra.

Desde a "Operação Mãos Limpas até à "Lava Jato", ao passo que a Justiça cumpriu o seu papel, foram vários os condenados que desvendaram o que não fora então alcançado pela Justiça.

E se não foi possível atacar o "polvo" de uma forma mais profunda e eficaz, tal apenas se deveu à interferência do poder político, das mais diversas formas, para se proteger a si próprio.

Que ninguém vá ao engano: Quando se diz que à Justiça o que é da Justiça, à política o que é da política, estamos a falar de interferências políticas in extremis na esfera judicial, pela via legislativa ou por decisão de "tribunal" de cariz político.

Não vale a pena tentar confundir esta realidade histórica com um eventual alheamento da política no funcionamento da Justiça.

Usar uma mentira instrumental com objectivos outros, quiçá, pessoais e partidários, nem serve a transparência nem a República.

José Sócrates não tem perfil para aceitar ser um bode expiatório, quando conhece bem como funciona o país ao mais alto nível.

Se é fundamental que Sócrates tenha direito a que se faça Justiça, com todas as garantias processuais, não é menos importante deixar a Justiça funcionar, garantindo-lhe toda a segurança até ao fim do processo.

Portugal ficaria a ganhar.



 


segunda-feira, 12 de abril de 2021

OPERAÇÃO MARQUÊS: O CLIQUE QUE FALTAVA


O despacho de pronúncia da Operação Marquês já fez correr rios de tinta, entre vestes rasgadas por um lado e pelo outro, tal e qual como no intervalo de um jogo de futebol.

E, pasme-se, tudo resumido à "derrota" do Ministério Público e à "vitória" do ex-primeiro-ministro que foi corrompido e pronunciado por seis crimes que ainda lhe podem valer muitos anos de cadeia.

A futebolização do país dá nisto, uma mescla de boçalidade, cinismo e fanatismo.

Ivo Rosa disse ao que vinha: colocou sob suspeita a distribuição inicial do processo e acusou o Ministério Público de incompetência e motivações políticas.

Os críticos acusam o juiz de acolitar Sócrates e demais arguidos, mas ainda ninguém aventou a hipótese de também ter sido corrompido, quiçá estar debaixo de coacção ou chantagem.

O despacho de Ivo Rosa é apenas mais um.

Coube-lhe decidir e fundamentar o seu juízo que, felizmente, está sob recurso, pelo que é grotesco fazer a discussão típica do fora de jogo e do penalti que foram ou ficaram por marcar.

O desfecho instrutório não pode ser desvalorizado, nem tão-pouco aliviados os seus termos, erros grosseiros e legalidade, porque até Sócrates e amigalhaços têm direito a um colectivo.

Para já, antes de perder tempo com o copo meio cheio ou meio vazio, importa reconhecer, sem fatalismos, que se cumpriu mais uma etapa.

A lentidão é exasperante?

É verdade!

Assim é impossível combater a corrupção?

Também é verdade.

Não está nas mãos do juiz compensar a balburdia legislativa e a falta de meios que têm condenado os megaprocessos, seja no caso Marquês ou Portucale (submarinos).

E também não cabe a Sócrates e demais arguidos, pronunciados ou não, prescindir de garantias, por mais mirabolante que seja a fabricação, mais Kafka menos Zola, do previsível truque à brasileira em curso.

O esgar que traiu Sócrates, ao vivo e a cores, em directo, no preciso instante em que o juiz o começou a tratar como mentiroso, corrupto e meliante, com estrondo, vale mais do que mil palavras.

A competência, a racionalidade e a transparência continuam a ser antídotos contra os “justiceiros” e os branqueadores de prime time.

O debate é sempre útil, porque acrescenta escrutínio, mas continua a valer o princípio da separação de poderes: à justiça o que é da justiça, à política o que é da política.

A Operação Marquês pode ser o clique que faltava para despertar os magistrados, porque Portugal está a morrer às mãos dos tribunais que estão a administrar a Justiça em nome do povo.


segunda-feira, 5 de abril de 2021

PORTUGAL: OS EXPEDIENTES E OS "NÃO-CONVERSÁVEIS"


Enquanto os direitos individuais são cortados pelos regimes "democráticos", antes e depois da pandemia, muitos continuam a olhar para o lado para melhor esconder os problemas existentes.

Aliás, poucos são aqueles que têm legitimidade para falar dos perigos do extremismo político, porque simplesmente há uma maioria que (ainda) não quer ver o que se está a passar por cá e por essa Europa fora.

À excepção de Ana Gomes e de mais uns poucos, que não cessam de denunciar que o rei vai nu, as decisões políticas de geometria variável ou o papão do fascismo que vem aí têm servido para distrair os cidadãos das brutais contradições em que vivemos.

A táctica do pragmatismo já é velha: quando algo vai mal é criado um risco de um mal ainda maior que não existe.

É assim que as democracias vão apodrecendo, hoje como ontem.

Portugal está cheio de expedientes: a lei é ilegal, mas é justa; o gesto é arruaceiro, mas fruto de uma frustração; a prioridade é salvar vidas, mas os cidadãos são condenados à miséria; em suma, há políticos que roubam, mas fazem.

Estas soluções “criativas” estão a criar um país de ficção, de faz-de-conta e de mentira em que, dia-a-dia, os portugueses se estão a deixar enredar perigosamente.

A excepcionalidade não justifica abrir a porta ao capricho ou ao arbítrio, nem a tolerância alguma vez se pode confundir com o império da bandalheira.

Os fanáticos e os “justiceiros” não acrescentam.

Mas abafar quem, com independência, enfrenta esta “arte” de empurrar com a barriga não é uma solução de futuro.

Reconhecer os cidadãos “não-conversáveis”, como se auto-intitulou Maria José Morgado, no programa “Primeira Pessoa”, da RTP, faz cada vez mais falta neste país à deriva.



 

 

 

 

 


segunda-feira, 29 de março de 2021

CAMBALHOTA

 

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, marcados pelas cumplicidades e branqueamentos dos últimos cinco anos, entraram numa nova fase nebulosa. 

No presente momento, em que o presidente promulgou os apoios sociais aprovados pela oposição parlamentar, contra a vontade do governo, vale a pena recordar a crise de 2019.

A então ameaça de demissão de António Costa, quando esteve em causa a “lei dos professores”, foi substituída, agora, por uma pífia ameaça, em jeito de «informação ao presidente», de recurso ao Tribunal Constitucional.

Aparentemente, o presidente não deixou passar os ódios de estimação de António Costa aos privados, sejam eles trabalhadores independentes ou sócios-gerentes.

Falta saber quando os apoios chegarão aos destinatários, pois qualquer eventual recurso ao Tribunal Constitucional não os suspendem.

Seja nos anúncios que tardam em concretizar-se, seja neste caso concreto em que o governo foi vencido, uma reinvenção comporta todos os riscos.

O cimento da dupla não resistiu à conjuntura avassaladora da pandemia.

Nem à promessa de chuva de dinheiro que vem da Europa.

No primeiro caso, emerge sempre o impulso rasteiro de uma das partes tentar salvar a pele; no segundo, a redistribuição pelas clientelas obriga a todas as aventuras.

A cambalhota vai desvendar uma nova “normalidade” institucional.

Com uma leitura criativa da Constituição, Marcelo dá o primeiro sinal que o presidente e o primeiro-ministro continuam (des)amarrados, mas não consegue apagar o passado.

E os avisos à prova de crise política valem o que valem.

A tentativa de saída presidencial airosa vai obrigar a um redobrado fazer de conta no regime em que continua a valer tudo.

É uma má notícia para Portugal.

segunda-feira, 22 de março de 2021

RIO DE VOLTA


Três anos após a eleição como líder do PSD, duas derrotas eleitorais depois e decorrido mais de um ano de pandemia, Rui Rio saiu da zona de cumplicidade e conforto.

Ao propor a obrigatoriedade de deputados e titulares de cargos públicos declararem se pertencem a associações e organizações "discretas", o líder do PSD conseguiu marcar a agenda com legitimidade e razão.

É preciso acabar de vez com a suspeição que paira sobre a política e a governação.

Pena é que Rui Rio apenas tenha concentrado baterias nos "suspeitos" do costume, evitando outras classes e profissões sem as quais todos os tráficos seriam mais difíceis.

Haverá maior intrusão na esfera pessoal e privada do que o "Controle Público da Riqueza dos Titulares de Cargos Políticos"?

Não!

O princípio da transparência levou a legislar uma medida que, hoje, ninguém se atreve a contestar, ainda que a história da sua aplicação e eficácia sejam em si mesmo sinais do nosso atavismo democrático.

A obrigatoriedade de apresentação de declaração dos rendimentos, bem como do património e cargos sociais, coloca os deputados e os titulares de cargos públicos num patamar de exigência ímpar.

A transparência assim o exige, em tempos em que a responsabilidade política já finou há muito.

Mas Rui Rio não pode ficar por aqui, pois já todos conhecemos o “entusiasmo” governamental pelo combate à corrupção, nepotismo e branqueamento de capitais.

O país vai atravessar uma crise de pobreza sem paralelo, pautada por mais uma chuva de dinheiros comunitários, pelo que se justifica um escrutínio preventivo e levado a sério.

Se não há espaço para a perseguição de inimigos de estimação, certamente também não se pode repetir o que se passou com os 130 mil milhões de euros recebidos em fundos comunitários.

E não se pode deixar ao governo a tarefa de se vigiar a si próprio, dado o habitual desplante político de António Costa e o exímio fazer de conta de Marcelo Rebelo de Sousa.

A reacção descabelada à proposta de Rui Rio, que surge no seguimento de uma iniciativa do PAN, é a prova que há demasiados "elefantes" no meio do nosso regime, em que os próprios sociais-democratas não escapam.

É preciso fazer mais do que encenar escrutínios ao sabor de eleições, maiorias conjunturais e grupos mais ou menos informais ou secretos.

Temos de começar, de uma vez por todas, a enfrentar os nossos próprios anjos e demónios em nome de um país mais justo e com futuro.

Aparentemente, Rui Rio alcançou que o silêncio na oposição mata.

segunda-feira, 15 de março de 2021

MARCELO E COSTA: PRIORIDADES


Limitar as liberdades para salvar vidas sem cuidar das condições para as manter a salvo do desemprego, da miséria e da fome é a solução?

A resposta é muito mais difícil do que as declarações avulsas de governantes.

O resultado desastroso, por cá e por essa Europa fora, é tragicamente evidente.

A verdade é que o poder, mesmo quando é ocupado pela soi-disant Esquerda, aproveitou a oportunidade para abrir a porta a todo o tipo de abusos e restrições à boleia da pandemia.

Não nos enganemos: não há presidente e primeiro-ministro que tenham recebido carta-branca para enjaular os cidadãos em casa, quando ao mesmo tempo não cuidam, desde o início da Covid19, de criar os serviços de saúde suficientes.

Mais uma vez, como sempre, a questão está nas prioridades, sobretudo num momento em que a "bazuca" enche bocas, apetites e horizontes.

E quando se avança para uma aventura de 7 mil milhões de euros rumo ao hidrogénio é caso para perguntar: então não há 45 milhões para desenvolver uma vacina e mais 100 milhões para investir numa infra-estrutura para passar à fase de produção em massa em Portugal?

Com a recuperação da última borla fiscal à EDP, o país poderia começar a preparar o caminho para enfrentar esta ou outra qualquer pandemia.

A aceleração dos riscos, desafios e até oportunidades aconselham menos arrogância do poder e mais consulta e participação dos cidadãos.

Depois desta clausura continuada, sem fim à vista, fruto de um simplismo avassalador, é preciso incentivar e premiar quem procura alternativas à violência do confinamento.

Perseguir quem não se conforma com o dogmatismo do Estado é uma estratégia condenada ao fracasso.

Marcelo e Costa representam um pensamento gasto, incapazes de perceber que a nossa liberdade não pode fazer parte de uma equação viciada à partida pela incúria e campanhas que têm aterrorizado desde os mais idosos aos mais novos.

Ambos não suportam a crítica aberta e frontal, nem tão-pouco a consciência individual daqueles que não se vergam face a um Estado arbitrário e autoritário.

Neoliberalismo, grita-se à Esquerda, a torto e a direito.

Entretanto, o governo de todas as esquerdas afaga os amigalhaços com mais apoios e impõe uma austeridade disfarçada ao comum dos mortais.

E o presidente faz-de-conta que escrutina…

Amarfanhar os cidadãos, em nome da saúde e da falsa segurança, não pode continuar a ser o único caminho para travar a pandemia (Ver Despacho 2705/2021, de 11 de Março).
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No dia em que regressamos a uma certa “normalidade” é preciso continuar a repetir bem alto que não abdicamos de viver nem dos nossos Direitos, Liberdades e Garantias.

segunda-feira, 8 de março de 2021

ROUBADOS



A pandemia trouxe à tona tudo de melhor e de pior que nos caracteriza como povo.

E permitiu ver ainda melhor o país cada vez mais pobre e desigual, aquele que fica muito além dos peditórios solidários e dos casos extremos de faca e alguidar que alimentam audiências.

Mas já cheira a dinheiro fresco.

E aos grandes projectos, leia-se nacionais, mais PIP menos PEP, já que as populações locais nada contam nesta avassaladora realidade vampiresca.

Com os mesmos promotores e comissionistas, agora com mais cabelos brancos, sempre com o mesmo descaramento.

Enquanto tratamos da pandemia, sabe Deus como, aguardamos com toda a estabilidade a chegada da tragédia em forma de mais desemprego, miséria e fome.

Com a certeza de que algum apparatchik chegará no momento certo para nos garantir que somos um exemplo no aproveitamento dos fundos comunitários. 

E partimos, novamente, para a construção da casa a partir do telhado.

De salto quantitativo em salto quântico, para os que ainda têm memória.

E depois logo se vê, pois, alguém há-de vir salvar-nos.

Entretanto, com este arrojo vanguardista, arriscamos o futuro de novas gerações.

Na semana em que Marcelo Rebelo de Sousa inicia o segundo mandato presidencial, uma única certeza: não podemos contar com Belém para muito mais do que assistimos nos últimos cinco anos.

Porventura, uma qualquer nova rábula em forma de encenação de mais escrutínio do governo, certamente para ficar tudo igual, rumo à cauda da Europa.

O orgulho governamental no sistema de ensino que distribui mais de 45 mil refeições a alunos de famílias carenciadas até pode ser reforçado por mais um feito presidencial em forma de um novo carrinho de compras para doar aos pobres.

E nem mesmo assim, perante esta indigência política, somos capazes de nos questionar e até indignar pelo caminho feito até aqui.

Remetidos a casa, física e civicamente, estamos a seguir, em directo, ao minuto, aos mesmos passos para o abismo.

O nosso "confinamento" é velho, muito anterior à Covid-19, como se um vírus paralisante nos tivesse infectado há décadas.

Não admira que continuemos a ser roubados.


segunda-feira, 1 de março de 2021

PODEROSOS A SURFAR


António Costa vive noutro mundo.

Certamente, até já terá chegado ao Olimpo, porque se julga autorizado a tudo poder fazer.

À medida que o seu poder alastra, e se impregna no aparelho do Estado  vai levar tempo a limpar! –, maior é o distanciamento do primeiro-ministro em relação ao dia-a-dia dos portugueses.

Minudências, pois claro, para uma tal mente que não hesita em apostar em altos voos sustentados na mediocridade de propagandear e enganar.

O percurso da impunidade e do distanciamento da realidade é sempre o mesmo.

Não faltam números para comprovar que o consulado de Costa – entre outros! – foi e está a ser um verdadeiro desastre para Portugal.

Desde 1986, e 130 mil milhões de euros de apoios comunitários depois, a taxa média de crescimento é da ordem dos 0,3%.

Depois deste maná, Portugal corre o risco de ser ultrapassado pela Hungria, Roménia, Polónia e Letónia, ficando a ser um dos quatro países mais pobres da UE, como alertou o “Forum para Competitividade”.

O resultado está à vista, com os poderosos a surfar e nós a pagar.

Mas não são só os indicadores macroeconómicos que explicam este percurso de desigualdade e miséria acompanhado por sucessivas declarações de preocupação com os mais pobres.

A questão também é cultural.

Após as presidenciais, quase à socapa, o poder tocou a reunir para vacinar os representantes dos órgãos de soberania mais um punhado de deputados e amigalhaços.

Entretanto, os alemães não temem que o Estado possa colapsar por não vacinar os seus líderes.

Já nos esquecemos dos custos da "eternização" dos políticos no poder em nome de uma estabilidade que favorece os “donos disto tudo” e os esquemas de corrupção.

Não aprendemos nada com Cavaco Silva nem com José Sócrates, mutatis mutandiporque não queremos viver e pensar como cidadãos livres.

Ficamos à espera do Estado, agora na versão politicamente trágica da dupla Marcelo/Costa, esquecendo que somos nós que pagamos o Estado de uns poucos sempre obrigados e venerandos em relação aos seus chefes.

Agora, que estamos à beira de receber mais 45 mil milhões de euros, voltamos a repetir os mesmos erros na terrível ilusão que a Troika foi apenas um pesadelo passageiro.

Até pode ser uma forma de vida.

Só é pena que ainda não tenhamos ganho consciência que há outras formas de viver, mais inteligentes, mais justas e com mais futuro.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

ANTÓNIO COSTA FACILITA A VIDA DOS CRIMINOSOS


Após mais de 15 anos de funções ao mais alto nível do governo e do Estado, António Costa tem um conhecimento ímpar da realidade do crime financeiro, económico e dos mais diversos tráficos em Portugal.

Bastar recordar que já ocupou a pasta dos Assunto Parlamentares (XIII governo), da Justiça (XIV), da Administração Interna (XVII) e é primeiro-ministro desde 2015.

É surpreendente que algumas das vulnerabilidades do país, que foram notícia na última semana, tal como nas últimas décadas, continuem sem merecer a atenção do primeiro-ministro.

Num dia, a Comissão Europeia dá dois meses ao governo para «transpor diretiva anti-lavagem de dinheiro», porventura farta de ver Portugal transformado numa "lavandaria" para todo o serviço.

No outro, salta para a ribalta, a partir do Brasil, a descoberta de mais de meia tonelada de droga num avião com destino a Tires, Cascais.

Dado o extenso histórico de "lavagens" de todo o tipo e de falta de controlo nos pequenos aeródromos, por que razão continua António Costa a facilitar a vida dos criminosos?

É para atrair investimento, venha ele donde vier, com dinheiro limpo ou sujo?

Os negócios com Angola, China e Venezuela, para não falar de outros com países bem quentinhos, têm tido custos reputacionais incalculáveis.

Uns já estão na mira da Justiça, outros estão a dar origem aos mais diversos escândalos fiscais, entre os quais o último das barragens da EDP denunciado pela deputada Mariana Mortágua.

Esta resistência em abraçar as melhores práticas económicas e financeiras, que nos podiam trazer respeito e interesse por parte de investidores internacionais credíveis, continua a ser, ou não, um dos maiores mistérios do regime democrático.

Tanto mais que a Justiça não tem meios nem autonomia financeira para perseguir os meliantes de colarinho branco, alguns dos quais sentados, confortavelmente, à mesa do poder.

António Costa pode queixar-se do alheamento politicamente cínico do presidente que se remete ao silêncio quando os assuntos são da maior gravidade e de Estado.

E lamentar que a “casa” gasta actualmente o que já gastou no passado com os governos do PSD e CDS/PP.

E, por último, até pode beneficiar por Rui Rio entender que o escrutínio e a oposição devem ser assim-assim em tempos de pandemia.

Mas, passados todos estes anos, com o país a assistir a tanta dor, desigualdade e miséria, em plena presidência da União Europeia, não terá chegado a hora de António Costa agir?

É que já chega de fazer de morto, quando se trata de combater a “via verde” que facilita a vida dos corruptos.


domingo, 14 de fevereiro de 2021

BASTONÁRIOS SEM MEDO




Poucos são capazes de recordar quem era o Bastonário da Ordem dos Engenheiros em 2017.

E que, nesse ano, a instituição emitiu um comunicado afirmando que «José Sócrates não está, nem nunca esteve, inscrito na Ordem dos Engenheiros».

Desde então,  o país passou a estar mais atento e a acertar a hora pelas intervenções dos bastonários que deixaram de ser meras figuras decorativas, emproadas e em fim de carreira.

À medida que a maioria dos sindicatos desapareceram da cena social, política e mediática, quais obsoletas correias de transmissão dos partidos de Esquerda, agora no poder ou à volta dele, os líderes das classes profissionais assumiram um papel preponderante.

Ana Rita Cavaco, Luís Menezes Leitão e Miguel Guimarães, para só falar, respectivamente, nos actuais bastonários dos enfermeiros, advogados e médicos, têm estado à altura da prova de rectidão de Carlos Mineiro Alves.

A defesa dos profissionais que representam, desde a ética à deontologia, sem esquecer as condições em que trabalham, permitiu-nos conhecer melhor a realidade em que vivemos.

As denúncias de cada um dos três bastonários traduziram-se em veementes alertas para o que se estava, e está, a passar no sector da Saúde, em particular no SNS, e na Justiça, valeram-lhes o ódio descabelado de António Costa e afins.

Nunca as desigualdades foram tão cristalinas e gritantes.

Apesar do discurso de Estado, politicamente tão pomposo quanto mentiroso, assente numa propaganda desenfreada, ficou ainda mais visível o calvário diário de quem presta serviço e desespera por cuidados de saúde e um Estado de Direito.

Com a realidade da pandemia, os três bastonários continuaram a não abafar os extraordinários erros de gestão em sectores vitais para a população, alguns dos quais passíveis de envergonhar o mais incompetente dos canalhas.

O que ganharam Ana Rita Cavaco, Luís Menezes Leitão e Miguel Guimarães?

O respeito dos seus pares e da população, além de terem de enfrentar campanhas orquestradas e a perseguição da parte do poder e afins incapazes de lidar com a independência, o escrutínio e a competência.

Felizmente, temos bastonários sem medo.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

QUAL É O NOSSO LIMITE?


Os indicadores são avassaladores, e vão piorar ainda mais.

O ritmo do plano de vacinação continua aquém do exigível.

O socorro do Estado continua a ser tardio ou um verbo de encher.

Os indicadores de pobreza, a visível e a escondida, já dispararam.

E os números do passado são escondidos pelos do presente: 25,8% das crianças com menos de 12 anos vivem em casas com humidade ou em que chove; quase 13% não têm a habitação devidamente aquecida; 9,2% não têm luz suficiente; 6,5% vivem em zonas consideradas violentas.

O que fazem o presidente e o primeiro-ministro?

Dizem coisas, prometem, enganam e sorriem!

E o que fazem os cidadãos?

Continuam à espera do Estado, resignados ao desabar do mundo de cada um, remediado, construído com trabalho e persistência.

Por sua vez, as poucas excepções de cidadania são pública e fortemente silenciadas pela lógica cacique impregnada do mais alto ao mais baixo nível do Estado.

As imagens horrendas que pareciam longe estão agora tão perto, apesar da comunicação social continuar mais orientada em mostrar cadáveres do outro lado do Atlântico do que em filmar aqueles que estão mesmo ao nosso lado.

Entretanto, continuamos agradecidos com uma Saúde que nos faz esperar meses e anos por uma consulta ou uma cirurgia e até nos deixa morrer.

Mantemos a calma com a Justiça que demora anos, às vezes mais do que uma década, a punir ou absolver os culpados.

Toleramos uma Educação velha e burocrática que resiste ao ecletismo.

Até permitimos que a voz da nossa Igreja, pelo menos a da maioria dos portugueses, continue fraca e cúmplice da desigualdade.

Quanto ainda somos capazes de aguentar?

Os diagnósticos estão feitos, já têm décadas, e até nem tem faltado dinheiro despejado por quem continua a tentar salvar-nos.

Com o país a afastar-se da União Europeia, qual é então o problema?

Porventura somos mesmo nós, de tão habituados a esta vida, à resignação, a sobreviver assim-assim, cronicamente incapazes de antecipar e enfrentar a realidade, sempre com medo de assumir a liberdade individual.