À primeira vista estamos mais seguros, desde logo porque atentados da dimensão do de Nova Iorque, entre outros, não se repetiram. Apesar de vivermos em permanente estado de ameaça, com constantes alertas de atentados, a cooperação internacional e a crescente monitorização das redes terroristas têm permitido uma prevenção razoável. Tal só tem sido possível em virtude de um reforço extraordinário das verbas destinadas à segurança, às polícias e aos serviços de informações de todo o mundo.
De facto, na última década, muitos têm consentido, e até apoiado, o reforço das políticas securitárias, sustentadas por um Big Brother à escala planetária, ou seja, entendem que vale a pena abdicar de direitos, liberdades e garantias porque o Ocidente está a combater assassinos impiedosos.
Será este o melhor caminho?
Não.
O retrocesso civilizacional nunca foi uma solução duradoura para enfrentar os facínoras. É preciso olhar para trás para perceber quanto custou este aparente sossego. É preciso não esquecer a lei Patriot (26 de Outubro de 2011), Guantánamo, os voos secretos da CIA, as prisões secretas na Europa, a tortura ("waterboarding"), o custo astronómico em recolha de informações e as alianças pontuais com assassinos a nadar em petróleo que sustentaram ideológica, religiosa e financeiramente o terrorismo internacional. O espectacular assalto militar que liquidou Osama Bin Laden a tiro não derrotou definitivamente quem nasce e cresce a acreditar na força das armas. Muito pelo contrário, fez dele um mártir, uma inspiração para os fanáticos.
O mais grave é que vivemos hoje num permanente estado de sítio light, em que os governos continuam a ignorar os principais fermentos que alimentam a guerra santa, com mais ou menos invasão ou revolta popular no Médio Oriente.
Entre poderosos e democracias à la carte, ditadores e ditaduras, a verdade é que o nepotismo, a corrupção, o analfabetismo, o subdesenvolvimento e o fundamentalismo religioso continuam a florescer, perpetuando um risco infindável de extremismos sanguinários e inaceitáveis. Aliás, actualmente, a ameaça já não é apenas bombista, mas também de exércitos de pobres e famintos que estão dispostos a morrer pela ilusão do El Dourado ocidental. Num mundo global, comandado por uma economia em que milhares de milhões de dólares e de euros mudam de mãos numa fracção de segundo, a guerra e o terror estão esgotados. Ambos representam a cara e a coroa da moeda que tem adiado a resolução dos problemas que continuam a alimentar todos os tipos de terrorismo.
Em tempos de crise, mesmo nos países mais desenvolvidos, é notória a falta de lideranças com uma visão que ultrapasse o umbigo das suas fronteiras históricas, políticas, culturais e geoestratégicas.
Uma década depois do 11 de Setembro, o grande desafio é a mudança do paradigma estafado que está a condenar a civilização. É preciso mais educação, mais redistribuição da riqueza e mais liberdade para enfrentar o futuro. O caso não é de esquerda nem de direita, não é um confronto entre falcões e pombas, nem tão-pouco uma luta entre ricos e pobres; é apenas uma questão de racionalidade, em suma, de humanidade.
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