segunda-feira, 30 de março de 2020

PORQUE NÃO SOMOS CARNE PARA CANHÃO


No momento de antecipar demorámos a encomendar equipamentos de protecção, a garantir testes, a fechar as fronteiras, a encerrar as escolas e a impor o confinamento. 

E porquê? 

Porque PM e PR andaram a fazer a política dos pequeninos em vez de preparar o país para salvar vidas.

O resultado está aí: a realidade vai emergir ainda mais brutal e terrível, com mais ou menos manipulação do número de testes realizados à COVID2019.

E, hoje, também já é certo para todos que não valeu a pena deixar o SNS à sua sorte.

Nem fazer de conta que o dinheiro desviado pela corrupção não nos faz falta nos momentos decisivos.

E, de igual modo, ainda é mais patente que a receita do recurso ao dinheiro sujo pouco valeu para termos serviços preparados para acorrer às necessidades dos cidadãos.

Apelar para nos protegermos quando não temos com que nos proteger é simplesmente grotesco.

Branquear o passado e o presente à custa de atitudes repugnantes de terceiros é ainda tão ou mais repugnante, porque só serve para acobertar decisões políticas que roçam o criminoso e alimentar a impunidade.

E, convenhamos, não faz sentido falar em unidade quando o PM mente grosseiramente ao país e é, aliás, barrado pelos Bastonários dos médicos, farmacêuticos e enfermeiros, exemplares a cumprir o seu dever ético.

Sim, vale a pena ir para o terreno e mostrar o país que trabalha, mas de nada adianta esconder o outro lado, o da vida esquecida, condenada por políticas públicas erradas ou por empresários desqualificados.

Não, não nos podemos resignar às "atitudes de Estado", nem ao empreendedorismo selvagem, nem permitir o "lava mais branco" do passado para proteger as clientelas do costume, porque não somos carne para canhão.

Os últimos acontecimentos envolvendo os mais idosos, bem como os mais de 14% de profissionais de saúde infectados, já são uma vergonha nacional, e fazem prever o pior no momento crítico que está aí à porta.

À medida da progressão da pandemia, os números podem servir para tudo, mas os cenários dantescos de sucessivas falhas, passadas e presentes, ganham contornos insuportáveis.

Mesmo sabendo que há quem esteja a fazer o seu melhor, com abnegação e generosidade, em prol da saúde pública, é sempre a hora para questionar quem propala que "ninguém fica para trás", bem como aqueles que ainda têm a audácia de afiançar que "ninguém está a mentir".

Habituados ao que a casa gasta, é preciso lembrar enfaticamente: por um lado, não ficará impune quem adiou medidas que acabaram em mortes; por outro, não ficará pedra sobre pedra sobre quem já começa a desistir e apressa os critérios para escolher quem vive e morre.

É o momento de recordar: o vírus pode estar a liquidar homens e mulheres, mas ainda não matou a Justiça e a Democracia.

E não bastam as sondagens de última hora, nem os elogios ditirâmbicos encomendados aos serviçais do costume, nem a fabricação de um qualquer inimigo externo de última hora.

O recurso às tácticas serôdias para tentar alijar responsabilidades próprias só agrava mais o fosso entre os cidadãos e os governantes.

De Costa a Marcelo, de Macron a Merkl, de Sanchez a Conte, há uma geração de políticos da União Europeia que não esteve à altura da exigência dos tempos e da governação, pelo que dificilmente serão capazes de liderar a reconstrução da economia e a reinvenção da própria Democracia.

A COVID2019 representa um momento extraordinariamente negro, mas também poderá ser uma oportunidade luminosa para extirpar uma certa forma de fazer política e de governar.

Resta saber se a mudança vai servir para mais e melhor civilização.



segunda-feira, 23 de março de 2020

COSTA FALHOU... MARCELO TAMBÉM!


António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros exemplos por esse mundo fora, não estiveram à altura de um desastre anunciado que desvalorizaram e deixaram ampliar de uma forma gigantesca.

Mais de três meses depois da epidemia estalar na China, cada vez mais ditatorial e perigosa, Portugal foi apanhado, como sempre, historicamente, com as calças na mão.

Aliás, quando chegar o material de protecção individual, adquirido tarde e a más horas, só faltam mesmo apelos lancinantes das autoridades para os portugueses usarem máscara e luvas...

Hoje, não há uma única pessoa que acredite que os nossos governantes estiveram à altura da exigência do desafio com que o país está confrontado.

E se ainda não é o momento de assacar responsabilidades, é tempo de afirmar que a falta de liderança e a incapacidade de antecipação foram insuportavelmente estrondosas.

E a mediocridade política revelada - mesmo na reacção tardia, para já não falar do estado de impreparação do SNS -, não pode passar em branco no momento de fazer as contas finais e a tristíssima contabilidade do número de mortos.

O falhanço gritante tem sido global, mas tal não iliba quem, em Portugal, é responsável por cada morte que eventualmente poderia ter sido evitada.

A incapacidade da União Europeia, já denunciada pelo BREXIT, é por isso também de assinalar, e motivo de reflexão séria no futuro próximo.

Sinceramente, não seria de esperar nada de diferente de governantes que convivem irresponsavelmente há largos anos com uma desvalorização politicamente criminosa da política de Saúde.

Mas a responsabilidade não será também nossa, já que permitimos repetidamente que tal tenha acontecido?

Somos o resto há demasiado tempo, o resto que paga as crises com o bolso e, agora, com a carne.

Não, não nos deixemos enganar por mais discursos pomposos, em prime time, enquanto o povo vai morrendo às mãos de uma qualquer crise económica e financeira e, agora, pandémica.

Não, não nos deixemos impressionar por papagaios paternalistas nem por palavras que visam infantilizar os cidadãos para melhor esconder os erros de avaliação de quem gere a coisa pública.

O lixo ocultado debaixo do tapete ainda vai surgir em todo o esplendor, por mais apelos à emoção para diminuir a razão.

E quando passar a crise, mais uma crise, porque há-de passar, não poderemos deixar de fazer um balanço implacável, sem esquecer aqueles que jogaram a ideologia para cima da tragédia, pensando mais em mercearia política do que em salvar vidas atempadamente.

Aliás, a tentativa de confundir o papel do Estado, do regular funcionamento do mercado e da economia de casino diz tudo sobre a indigência intelectual e o oportunismo político presentes no debate público. 

Disfarçar o falhanço e manter a indiferença, depois de cada crise que coloca em causa a nossa vida, é muito mais grave do que a pandemia do #coronavírus.

Há governantes em Portugal, bem como por esse mundo fora, que já têm a porta aberta na era do pós #COVID2019.

Até lá, é preciso ajudar Costa e Marcelo a sair pelo seu próprio pé, com a dignidade que eles sempre nos regatearam.

Pela nossa Saúde!





segunda-feira, 16 de março de 2020

COVID2019: FOLCLORE É IGUAL A MAIS MORTES


Há crises e crises, mas não há crises boas e crises más.

Nos momentos mais críticos, há quem insista na receita: acreditar e confiar no poder, porque sim, porque são eles que sabem!

No actual período excepcional, tal como aconteceu durante a Troika, é sempre salutar não perder a noção e a perspectiva da crítica das decisões do poder.

E é a hora do escrutínio implacável, agora, pela nossa Saúde!

Basta de papagaios, com boas intenções ou em competição populista desenfreada.

E também basta do discurso paternalista daqueles que julgam ser possível transformar a informação rigorosa em "x", quiçá para esconder a realidade e/ou a incompetência, em conferências de imprensa pouco úteis e credíveis.

E, por amor de Deus, chega de tiradas incompreensíveis para a generalidade dos cidadãos, designadamente aquela que pede aos portugueses para se afastarem das Urgências quando estão doentes.

Não!

Os portugueses têm o direito à Saúde!

E a Linha SNS24 tem de estar, com eficácia, à sua disposição.

E merecem saber a verdade, sobretudo no momento em que chegou a progressão exponencial da transmissão do COVID2019.

E também têm legitimidade para questionar as decisões hesitantes e tardias do poder, porventura para ganhar tempo e esconder um sistema de Saúde falido que vai deixando morrer os portugueses mais pobres e desvalidos.

Quantas camas preparadas existem?

Quantos ventiladores estão disponíveis?

Por que razão os profissionais de Saúde ainda não têm os instrumentos necessários para estarem a salvo da contaminação galopante?

Como foi possível que um surto epidémico na China tenha sido transformado numa pandemia com epicentro na Europa?

E mais: onde andam as autoridades para impedir que gestores e empresas rascas, entre outros miseráveis oportunistas do mercado, que se aproveitem da tragédia para praticar preços especulativos e escandalosos de bens que passaram a ser de primeira necessidade?

Não, nada disto é falso, subjectivo e radical, muito menos de Esquerda ou de Direita...

É o corolário da opinião expressa pelos profissionais de Saúde - que ainda têm coragem para dar a cara - num país em que aqueles que desafiam a verdade oficial arriscam pagar um elevado preço.

Por mais que alguns fanáticos estejam determinados a alimentar o folclore por razões meramente ideológicas e tácticas, a vida de cada um - a nossa e as deles - vale muito mais.

Não há uma única vida de um cidadão português que valha menos do que a vida do PR. 

Costa nunca o percebeu, porque o partido e o Estado são os seus mundos. 

Pode ser que cada um de nós, um dia, exija mais e de uma forma mais ruidosa do que a cantoria e as palmas de circunstância à janela.






segunda-feira, 9 de março de 2020

PS, COSTA E AS FANFARRONICES


A arrogância política está no ADN dos socialistas que sempre se comportaram como os donos da Democracia.

E a história do PS confunde-se com a de António Costa.

Desde que chegaram à liderança do Executivo, por via da maioria então formada no Parlamento, após as Legislativas de 4 de Outubro de 2015, ambos têm multiplicado as atitudes de sobranceria política.

Entre muitos exemplos basta apontar a comunicação governamental a propósito da epidemia (pandemia?) do coronavírus designado por Covid-19: não há problemas orçamentais, está tudo preparado, venham os infectados.

Num país com uma das maiores dívidas do mundo, com o SNS à beira do colapso, em que faltam médicos e enfermeiros por todo o lado, e com a trágica incapacidade de organização a que já estamos habituados, o impacte do Covid-19 parece uma brincadeira de crianças para o Governo liderado por António Costa.

De facto, este discurso não sossega ninguém.

A questão não é evitar o alarmismo sempre presente nestas circunstâncias, mas sim a habitual fanfarronice politicamente irresponsável.

Este padrão, que se tem repetido ao longo dos anos, também é verificável na governação no sentido lato.

Depois de uma vitória pequenina, nas últimas Legislativas de 6 de Outubro de 2019, António Costa entendeu que já não precisava de uma base de apoio político trabalhado e previamente formalizado.

Num gesto de saloiice política inimaginável, o primeiro-ministro acreditou que seria possível governar alternando o apoio parlamentar de que necessita à esquerda e à direita, subestimando claramente Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Rui Rio.

O resultado está à vista: «vamos governando!», como diz candidamente Siza Vieira, o advogado de negócios transformado no poderoso número dois do Executivo.

Com uma crise mundial de dimensões ainda não definidas, com a Europa a desfazer-se aos pedaços e com o horizonte internacional carregado, lá vamos andando... 

Até quando? 

Até ao próximo flick-flack de Costa. 

Mas será que ainda vai a tempo de não hipotecar o futuro do país?


segunda-feira, 2 de março de 2020

JUÍZES: RUIU O ÚLTIMO MITO DA DEMOCRACIA


Quantos casos existem de viciação na distribuição de processos por esses tribunais fora?

E, a comprovarem-se estes crimes, quantos processos vão rebentar nas mãos do sistema judicial?

O mito da incorruptibilidade dos juízes ruiu com estrondo.

Depois de Rangel e Galante porventura vamos assistir a um rosário penoso de outros juízes a braços com a Justiça.

Esta enorme pedrada no charco do que resta do regime democrático tem de ter consequências disciplinares para os prevaricadores, mas também tem obrigatoriamente de haver uma leitura política.

Se no primeiro caso ninguém dúvida que desde já se vai sentir a mão pesada do Ministério Público, no segundo tudo indica que o Governo vai tentar varrer o caso para debaixo do tapete, a avaliar pela primeira reacção pífia de Francisca Van Dunem.

Mas a nódoa continuará a pairar no espírito dos portugueses, minando a Justiça de alto a baixo.

Por isso é necessário começar desde já a debater as famosas comissões de serviço em que os magistrados saltitam entre os tribunais e a política, sem esquecer outros cargos no mundo do desporto, deixando um rasto de favores e cumplicidades que em nada abonam a credibilidade.

À Justiça o que é da Justiça, à política o que é da política, lembrava, e muito bem, António Costa.

Eis uma oportunidade para impulsionar e reforçar na prática esta necessária separação de poderes fundamental para a transparência do regime democrático.

E, certamente, não faltará ao primeiro-ministro apoio no Parlamento, nem na Esquerda nem na Direita.

Entre os magistrados também não faltará quem esteja disponível para abraçar esta reforma, pois a esmagadora maioria fez, faz e fará o seu trabalho nos tribunais com dignidade e competência.

Travar a aproximação pegajosa entre a esfera judicial e a política, dois mundos que devem estar claramente separados, é uma reforma essencial para começar a regeneração da Justiça em Portugal.

Quanto a Marcelo Rebelo de Sousa nada a esperar, a não ser saber qual a direcção dos ventos...

É que a campanha eleitoral para as presidenciais em 2021 já está em curso há muitos e muitos meses.