segunda-feira, 28 de outubro de 2019

XXII GOVERNO: QUANDO O PRESENTE FAZ LUZ SOBRE O PASSADO


É um início sombrio, envolto em golpes de teatro e várias suspeitas, certamente frustrando as expectativas de uma parte dos eleitores que votaram no PS e da generalidade dos portugueses.

E é muito mais do que um Executivo numeroso, repleto de tachos para os amigos, militantes e simpatizantes de quem tem o poder.

Em suma: é um passo no sentido do regresso ao passado, ainda que sem maioria absoluta, em que os princípios de convivência democrática são vergados pela prepotência e impunidade políticas.

O mais grave é que o XXII governo constitucional mereceu um cheque em branco presidencial no momento de tomada de posse.

E os riscos, mais do que glosados na comunicação social e no que resta de opinião publicada independente, voltam a valer apenas o que valem, ou seja, nada nos tempos que correm.

As nomeações de João Galamba, Antero Luís e Nuno Artur Silva são exemplos paradigmáticos do actual processo de abastardamento democrático.

O secretário de Estado Adjunto do Ambiente é protagonista de um dos negócios de Estado com cambiantes caricatos de que não há memória.

Nem mesmo o eventual inquérito aberto pelo Ministério Público ao negócio do lítio foi suficiente.

Não!

Quem manda é Costa, com Marcelo a sorrir para as câmaras de televisão...

Por sua vez, a participação no Executivo de um magistrado que liderou o SIS e o organismo mais importante da Segurança Interna também não deixa quaisquer dúvidas.

Hoje, tal como ontem, de triste memória, é a confusão entre Política e Segurança, como se fosse necessário recriar uma espécie de cordão sanitário à volta do poder político.

Mas ainda faltava a pérola...

A nomeação de Nuno Artur Silva para a secretaria de Estado do Cinema, Audiovisual e Media traduz a teimosia e a arrogância políticas de António Costa, com Marcelo a continuar a sorrir para as câmaras de televisão.

E nunca é de mais recordar: as críticas decorrem da violação da mais elementar transparência política, e não de qualquer a priori de carácter de quem quer que seja.

De truque em truque, de formalismo em formalismo, os tiques autoritários bem podem servir para a alimentar os senhores do poder, mas tal mina a confiança dos cidadãos.

Who cares?, dizem alguns, contrapondo que o fundamental são os dados macro e estatísticos, as contas mais ou menos certas e a vertigem da modernidade com o lixo debaixo do tapete.

Para quem ainda tinha dúvidas, tudo ficou mais claro...

É o país das elites que temos e merecemos, é a consagração de um bailete ainda mais refinadamente cínico, com Marcelo sempre à espreita de uma qualquer câmara de televisão para continuar a sorrir.

A marca é inconfundível, chancelando a afronta ao bom senso e à ética republicana, a qual, aliás, já nos conduziram ao pântano e ao período mais negro da história da Democracia em que, aliás, António Costa assumiu o lugar de um dos protagonistas.

No arranque da 14ª Legislatura fica cristalino, mais uma vez, todo o descaramento político.

Em que volta a importar tão-só a ilusão de normalidade, em que não cabem os desafios adiados, o desrespeito pelos cidadãos e os esqueletos da República, sejam os cadáveres da Saúde ou as negociatas de Estado, sem esquecer Tancos, entre outros...

Desta vez, António Costa não poderá voltar a dizer candidamente que não sabia de nada, por mais que Marcelo continue a sorrir para as câmaras de televisão.

Vamos assistir aos mesmos erros, abusos e desmandos, outra vez?

domingo, 20 de outubro de 2019

PANTOMINA POLÍTICA SEM LIMITES


A degradação do regime democrático está a atingir níveis impensáveis.

Entre muitos outros, e só para falar nos mais recentes, alguns exemplos sucedem-se: no Estado – com o negócio do lítio –, no governo – com novas nomeações ministeriais escandalosas –, nas Forças Armadas – com a tentativa de enterrar Tancos –, na comunicação social – com o escândalo do Sexta às 9 na RTP –, na Saúde – com o encerramento de Urgências – e na Justiça – com os processos Operação Marquês e Rui Pinto.

E, já agora, depois de todo o branqueamento descarado relativamente ao escândalo do familygate, é o próprio primeiro-ministro, António Costa, a dar sinais, aparentemente, da imperiosa necessidade de travar a promiscuidade ao mais alto nível da governação.

Não há palavras para toda esta pantomina política...

E tal só tem sido possível por força de um governo liderado pelo PS, agora reconduzido em eleições, de uma maioria de esquerda parlamentar que o sustenta por razões de táctica partidária, de uma máquina de propaganda travestida de opinião independente e de um presidente da República que exerce o seu mandato com uma ligeireza que poderá eventualmente estar a roçar a afronta constitucional.

Obviamente, os portugueses querem, antes de tudo, ver a sua vida melhorada e os seus direitos repostos, mas o que está a acontecer é demasiado grave para poder ser ignorado.

A falta de reacção dos cidadãos ao atropelo dos mais elementares deveres de responsabilidade política e de ética republicana constituem o mais perigoso sinal de tolerância, uma espécie de incentivo que já está a resultar num abastardamento democrático com consequências imprevisíveis.

O que se segue?

Uma nova versão da asfixia democrática?

Aliás, paradoxalmente, e de uma forma bem paradigmática, é a própria RTP a dar o "exemplo", conferindo visibilidade ao crescimento do arbítrio e da opacidade que tomaram conta do país.

E, então, o que dizer da indigitação do novo governo sem estarem apurados os resultados eleitorais?

Por um segundo devemos colocar a questão a nós próprios: alguém imagina o que aconteceria se algum destes casos tivesse ocorrido nos anos 80, 90 ou na primeira década do século?

Mais uma vez, com a esquerda no poder, os direitos individuais, a transparência na governação, a liberdade de informação e o combate à corrupção são esmagados pela prepotência de quem tem o poder.

domingo, 13 de outubro de 2019

PORTUGAL: NA ROTA DE UMA NOVA ERA


Portugal é um país abençoado e feliz.

De facto, os votos expressos nunca enganam.

E às vezes são exactamente como o algodão: limpam, limpam, limpam...

Ou seja, os portugueses foram indiferentes a Tancos e aos órgãos de soberania colocados "a salvo" in extremis, à decapitação da cúpula do MP que mais combateu a corrupção, à corrupção instalada ao mais alto nível, à degradação galopante da credibilidade do Estado, ao preocupante abrandamento da economia e à astronómica dívida.

Ah, mas isso não interessa nada!

E nem o dia-a-dia dos últimos quatro anos mudou a sua indiferença: os cadáveres do SNS, os pensionistas que esperam e desesperam pela sua reforma, as demissões governamentais, o recuo na aplicação da Lei das Incompatibilidades (chancelado pela PGR), o nepotismo e a partidarização de instituições como a Protecção Civil, entre outras, sem esquecer os desastres florestais e a tragédia humana, a degradação inimaginável dos serviços públicos e a carga fiscal que não pára de aumentar.

Ah, mas isso também não interessa nada!

O que importa é que os portugueses gostaram e votaram pela "geringonça".

E conseguiram!

Resultado: depois de conhecidos os resultados eleitorais, a morte da "geringonça" foi decretada em 24 horas, com mais ou menos truque agora em versão classificada como coreografia.

Uau!

Aqui e ali ainda se vislumbraram algumas lágrimas de crocodilo, mas isso também não interessa nada.

E se o respeito pelo voto popular expresso é este, então o que dizer do silêncio pesado sobre os restantes 47,83% dos votos (abstencionistas, brancos e nulos)...

Ups!

Mais isso também não interessa nada...

Vamos ao que interessa: temos pela frente novos tempos.

Soberanamente, os portugueses abriram de par em par a porta a uma nova realidade, quiçá a um regabofe nunca visto.

António Costa pode não ter a maioria absoluta, mas tem os deputados suficientes para poder fazer o que quiser.

E até programar, mais uma vez, com mais truque menos truque, para serventuário elogiar, uma crise política artificial para almejar a tão sonhada maioria absoluta em eleições antecipadas.

É um Senhor, mais um entre tantos que por aí andam.

Entretanto, a selecção de futebol de Portugal continua a ganhar...

A RTP retoma o programa de investigação jornalística que suspendeu durante a campanha eleitoral...

O presidente da República arranca com um novo argumento - entre a ficção e a novela, desde a saúde pessoal à tentativa de reescrever a história recente -, que promete uma nova dimensão do bailete...

Sim, sim: Netflix, já!

Temos e teremos o que merecemos.

Somos os maiores.

Portugal entrou na rota de uma nova era.

Interesse ou não, seja bom ou mau para Portugal, fica a reflexão para mais tarde recordar.

sábado, 5 de outubro de 2019

DIA DE REFLEXÃO


Órgãos de soberania colocados "a salvo" in extremis, a decapitação da cúpula do MP que mais combateu a corrupção, o descalabro no SNS e o aumento da dívida pública devem fazer parte do dia de reflexão.

É que a degradação galopante da credibilidade do Estado, o preocupante abrandamento da economia e a astronómica dívida são demasiado graves para serem ignorados.

Num prato da balança, o bloco político alternativo, a estabilidade governamental e a reversão de alguns cortes - entre os quais aqueles perpetrados antes da chegada da Troika  -, objectivo aliás só possível pela intervenção do Banco Central Europeu.

No outro, não é possível esquecer os cadáveres do SNS, os pensionistas que esperam e desesperam pela sua reforma, as demissões governamentais, o recuo na aplicação da Lei das Incompatibilidades (chancelado pela PGR), o nepotismo e a partidarização de instituições como a Protecção Civil, entre outras, sem esquecer os desastres florestais e a tragédia humana, a degradação inimaginável dos serviços públicos e a carga fiscal que não pára de aumentar.

E sobre o futuro não faltaram promessas para consolidar na reflexão de cada um, até estar face à urna de voto: ou a confirmação de um caminho ou a mudança da forma como se faz política e se governa, em todos os casos tudo dissecado durante o período de campanha eleitoral, sobretudo nas entrevistas e debates televisivos.

Não nos deixemos enganar pelo primeiro impulso, pela súmula difusa sempre geradora de uma avaliação que nem sempre obedece a uma análise de exigência e a uma cultura cidadania, porque o que está em causa é demasiado importante.

Finda a campanha eleitoral, eis a questão principal: Quem falha, insulta, ameaça e perde a cabeça ao virar da esquina merece a confiança do voto?

Não!

Mas, em Democracia, a decisão soberana pertence ao voto expresso do conjunto dos cidadãos.