A
cerca de cinco meses das eleições legislativas, Pedro Passos Coelho não
conseguiu cumprir tudo o que prometeu, mas pode exibir a libertação do jugo da
troika e o país na rota do crescimento.
É
bem verdade que o desemprego continua alto e que uma parte considerável do
"milagre" português se deveu à descida do preço do petróleo e à
estratégia do Banco Central Europeu. Ainda assim, e factos são factos, a
diminuição da brutal carga dos juros a pagar pela dívida pública permite-lhe
continuar a exibir um sorriso (por vezes demasiado aberto), quando fala nos
feitos da maioria no poder.
Apesar
de ter tido o presidente da República ao seu lado, Paulo Portas mais ou menos acantonado
e António Costa enredado no labirinto do PS que ajudou a construir, Pedro
Passos Coelho falhou nos pequenos grandes detalhes. Quando se esperava uma nova
atitude em relação à corrupção, ao compadrio e ao abuso do poder, a verdade é
que nunca conseguiu fazer a ruptura com o passado. E como era fácil fazer a tal
diferença com Sócrates.
A
opacidade em relação ao seu passado profissional, a tolerância em relação às
trapalhadas de ministros e secretários de Estado, nomeadamente Paulo Macedo e
Paulo Núncio, a indiferença arrogante face à responsabilização das secretas em
roda livre, entre outros altos serviços do Estado, a condescendência em relação
a Manuel Dias Loureiro e a Marco António e a recondução de Carlos Costa à
frente do Banco de Portugal são apenas alguns dos muitos exemplos de casos que
correram muito mal.
Afinal,
em momentos decisivos, o primeiro-ministro, que gosta de afirmar que não tem
estados de alma, parece sucumbir às cumplicidades,
desde os amigos a quem verdadeiramente manda confortavelmente instalado nos
bastidores.
A
coragem ficou pelo corte dos direitos adquiridos dos mais fracos e pobres. E falemos
claro: não é a troika, a austeridade implacável, a detenção de José Sócrates e a
queda de Ricardo Salgado que nos está a mudar a alma.
O
que nos faz pensar de uma forma diferente, actualmente, é a realidade do que
vemos e vivemos, é a percepção do regabofe do passado e ainda assim ter de continuar
a assistir ao silêncio cúmplice de todos aqueles que sabem (sabiam) e nada
fazem (fizeram) para tornar a nosso regime mais limpo e justo.
O
funcionamento da Justiça nalguns casos não impede que o ambiente político
continue pestilento. Assim, mesmo depois de obrigado à renovação da coligação
com o CDS/PP, Pedro Passos Coelho tem de prestar contas. E que contas...
Em
Outubro de 2015, o primeiro-ministro que gosta de parecer um cidadão comum e
que apostou tudo nas contas públicas pode não ser suficiente para ganhar. E se
assim for, Pedro Passos Coelho –
bafejado por uma reviravolta na conjuntura europeia e internacional – só se
pode queixar de si próprio, de não ter estado à altura das suas promessas
eleitorais e da extraordinária exigência do mandato que os portugueses lhe
conferiram em 2011, em suma, de desvalorizar olimpicamente os pequenos grandes
detalhes que fazem toda a diferença em Democracia.