terça-feira, 7 de junho de 2011

O lado paradoxal da derrota da esquerda


Numa primeira análise dos resultados eleitorais, a derrota à esquerda é muito mais séria e paradoxal do que era possível de imaginar.

Em primeiro lugar, é uma derrota séria porque a esquerda passou a ser globalmente minoritária.
PSD e CDS passaram a pesar mais do que PS, PCP e BE.

Em segundo lugar, é uma derrota paradoxal porque a esquerda, a verdadeira esquerda, não transferiu o voto para os comunistas e bloquistas, como era previsível.

Ou seja, o partido supostamente de esquerda, que governou à direita nos últimos seis anos, foi despedido pelo voto do centrão e não pelo voto da verdadeira esquerda.


Ou dito ainda de uma outra forma, a maioria de direita acabou por ser eleita pelos eleitores do centrão (tanto votam PS como PSD), para quem Sócrates piscou o olho, nos dois últimos anos, com o maior descaramento.

Haverá maior paradoxo eleitoral do que este?

Ainda é cedo para tirar conclusões, mas urge uma explicação sócio-política para este fenómeno eleitoral.

Como se não fosse suficiente, outro argumento pode ainda adensar mais as dúvidas numa primeira leitura dos resultados.


De facto, a campanha milionária do PS acabou por conseguir estancar a previsível transferência de votos para a sua esquerda, isto é, o marketing político acabou por condicionar o voto dos intelectuais mais à esquerda, enquanto o eleitor tipo não foi em cantigas e demais folclores.

As eleições de 5 de Junho podem ser resumidas assim: a Maria, o António, o comerciante da esquina, o reformado da guerra colonial, o empresário do carro desportivo e o senhor da vivenda ali ao lado foram votar e correram com Sócrates; por sua vez, a maioria dos intelectuais do PS e dos jovens irreverentes do Bloco de Esquerda optaram por ficar em casa; por último, os comunistas provaram mais uma vez que assim se vê a força do PêCêPê.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A surpresa eleitoral

Sem poder esconder que está refém dos compromissos assinados com a Troika, os últimos trunfos deste PS têm sido centrados na campanha do medo e num apelo lancinante ao consenso e/ou ao Bloco Central.


Este PS, cada vez mais isolado, deixou de contar para qualquer tipo de cálculo pós-eleitoral, tanto para a esquerda como para a direita.


Na recta final da campanha eleitoral, a grande interrogação é a seguinte: qual vai ser o voto do eleitorado verdadeiramente de esquerda?


Com a previsível eleição de uma maioria de direita, que elimina qualquer vantagem do voto útil no PS, os indefectíveis de Sócrates, incluindo o próprio, entraram em pânico com a perspectiva do ressurgimento de um sentimento capaz de dar maior expressão eleitoral à esquerda fiel aos seus compromissos e ideais.


É que a verdadeira esquerda está desiludida com a governação de Sócrates pelo que pode concentrar o apoio no Partido Comunista e no Bloco de Esquerda, garantindo uma oposição forte e determinada a enfrentar um governo de maioria PSD/CDS-PP.


O comportamento do eleitorado de esquerda, da verdadeira esquerda que não se revê em José Sócrates, António Costa, António Vitorino, Augusto Santos Silva e Francisco Assis, entre outros, vai ser o principal ponto de interesse da noite eleitoral do próximo dia 5 de Junho.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Cinco dias para mudar

A situação política portuguesa continua refém de um abandalhamento extraordinário do debate público, num tempo de "salve-se quem puder".

Sustentada por operacionais e especialistas que mais parecem mercenários da informação, a propaganda tem conseguido manipular, esconder e até adulterar os factos, condicionando a percepção da realidade de uma forma impressionante.

Como nunca tinha sido visto, o país é confrontado com uma agenda em que nada é esclarecido com rigor e até ao fim, em que a responsabilidade morre solteira.

Num momento dramático, o que resta da imprensa plural, e dos jornalistas livres, já não é suficiente para inverter o curso desastroso da informação.

Em Portugal, o que é, já não é. E o que nunca foi, talvez ainda possa vir a ser.

Neste ambiente, em que nada é transparente, o líder da equipa responsável pela pior crise portuguesa continua ainda a discutir, pelo menos nas sondagens, o resultado das eleições de 5 de Junho.

Por isso, a cinco dias de poder contribuir para a mudança, é fundamental mobilizar quem tem estado calado e tem obrigação de falar, quem ainda está indeciso, mas tem o dever de escolher.

E que não haja qualquer dúvida: A falsa "união nacional" que nos querem impor apenas visa tentar branquear a governação politicamente criminosa e perpetuar a corrupção que continua a beneficiar o sistema que domina a seu belo prazer políticos e dirigente iníquos.

O que está em jogo, agora, é tão importante que não é possível ser um cúmplice passivo da crise que Portugal está a atravessar.

O exemplo de quem não tem medo de enfrentar o poder do presente é essencial para o país poder ter esperança num futuro melhor.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Por portas travessas

O debate entre Paulo Portas e José Sócrates foi esclarecedor. Muito mais esclarecedor do que a evidência da responsabilidade de Sócrates no estado de bancarrota em que atolou o país.

O líder do CDS/PP estava preparado para a cassete de Sócrates, mas não estava devidamente preparado para prestação de Judite Sousa, designadamente para uma pergunta incisiva.

E qual foi a pergunta a que o líder do CDS/PP não respondeu, taxativamente, como é seu timbre, sobretudo quando não tem nada na manga?

Num cenário de vitória eleitoral do PS, com maioria simples, o líder do CDS/PP está disponível para governar com o líder do PS?

A resposta foi hábil: sem nunca dizer "Não", taxativamente, Portas deu a entender, com argumentos verdadeiros e factuais, que nunca fará governo com José Sócrates.

Mas, por incrível que possa parecer, ou não, nunca disse a palavra "Não".

Quem conhece Paulo Portas, sabe que se ele recusa dizer, taxativamente, que "Não" formará governo com José Sócrates, então é caso para tentar saber o que está a acontecer nos bastidores, quiçá, por portas travessas.

E das duas uma: Ou Portas esclarece qual vai ser a sua posição sobre uma eventual aliança com Sócrates, ou Sócrates esclarece o que eventualmente sabe (insinuou, mas não disse!), durante o debate, sobre os submarinos.

Tempo e campanha não faltam.