quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

ANGOLA E PORTUGAL: ESTADISTAS DE PACOTILHA


Portugal continua a viver assim.

Num pântano político que é sempre pautado por dois momentos: o primeiro, em que os políticos e governantes não olham a meios para defender os seus interesses e de facção, hipotecando o futuro do país; o segundo, em que os mesmos revelam o auto-proclamado sentido de Estado para consertar a situação, qual pragmatismo que tem vendido o país aos pedaços e aberto as portas ao dinheiro sujo da corrupção e das ditaduras sanguinárias.

Da esquerda à direita, de Costa a Marcelo, nada de novo no horizonte, pois o que interessa é captar investimento e vender a qualquer custo a Angola, China, Guiné Equatorial, Venezuela, etc, e, se possível, tentar tapar o buraco na banca, da responsabilidade de bancários incompetentes, com dinheiro venha ele donde vier.

Não há limites para esta triste realidade em que o país se tem afundado, mais e mais, para depois se tentar levantar chafurdando no pior do pior.

A mais recente cena desta novela de má qualidade é o adiamento da visita de Francisca Van Dunem a Angola.

Imposto pelas autoridades angolanas, num curto comunicado, emitido à última hora.

Sem apelo nem agravo. Humilhando a ministra da Justiça e o governo de Portugal.

Já todos tinham percebido que António Costa tinha angariado Francisca Van Dunem essencialmente por causa da sua origem, visando acalmar qualquer irritação do ocupante do Palácio do Futungo, e não para fazer obra na Justiça.

Para já, o trunfo de Costa saiu furado, pois os problemas de Manuel Vicente com a Justiça portuguesa vão arrastar, inevitavelmente, as relações entre Angola e Portugal para um período sombrio.

Mas com estes estadistas de pacotilha tudo se pode arranjar. Quem sabe com mais um investimento angolano ou um par de malas de dólares bem lavadinhos, quiçá com o carimbo da família de José Eduardo dos Santos, tudo se pode compor.

Como serve a Angola e a Portugal, dizem eles, o que lá vai lá vai, até ao dia em que o povo angolano se livrar de uma ditadura corrupta e implacável.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Mário Soares: um par de segundos


Não fui um dos 785355 cidadãos portugueses que votaram Mário Soares em 2006.

Foi no comício de encerramento da campanha presidencial, na FIL, em Lisboa, que me despedi da lenda.

Mário Soares, no palco, derrotado, ficou frente-a-frente com os milhares de socialistas depois das principais figuras do PS terem dado uns passos atrás, já certos que o fundador do PS seria estrondosamente batido por Manuel Alegre, permitindo a eleição de Aníbal Cavaco Silva à primeira volta.

Durante um breve momento, um par de segundos, cruzámos o olhar.

Eu fascinado por assistir ao momento histórico da queda de uma referência da Democracia; ele curioso por causa do meu insistente olhar para quem, sem precisar de provar nada, arriscou, perdeu mas condicionou a História.

Olhos nos olhos, naquele preciso momento, percebi claramente que nem o desaire monumental diminui a Liberdade.

Os erros e as venalidades de Mário Soares nunca diminuíram o Homem que escolheu, lutou e caminhou até ao fim.