A reunião entre José Sócrates e o novo líder do maior partido da oposição, Pedro Passos Coelho, durante mais de três horas, contribuiu para reforçar a suavização do discurso político.
O país voltou ao ram-ram habitual, depois do longo ciclo eleitoral.
O presidente da República prepara a reeleição, a Assembleia da República cumpre o ritual parlamentar, o governo está em funções, os restantes poderes instituídos mantêm a rotina do dia-a-dia e os cidadãos trabalham e tentam sobreviver à crise.
Se a calma está reinstalada, por que será que o ambiente continua pesado?
A resposta é a mesma de sempre: A consciência colectiva do adiamento da resolução dos problemas.
Nas finanças públicas, o espectro da falência é uma realidade, mas a prioridade continua a ser falácia.
Na economia, a retoma só é possível com mais empréstimos do exterior, mas o país já está endividado até ao limite.
Na política, o ritual institucional já não consegue esconder o abandalhamento da ética republicana e da responsabilidade política.
Na Justiça, a crescente opacidade não é suficiente para evitar a percepção do caos instalado e da governamentalização das principais instituições judiciárias.
Na Educação, Saúde, Administração Pública, entre outros, as reformas estruturais não resistem ao tempo.
A calma aparente não é saudável, muito pelo contrário, pode ser um mau prenúncio.
Os problemas, um a um, há mais de uma década, continuam por solucionar, com a corrupção a ganhar terreno de uma forma impune e assustadora.
Ainda que a sensação de progresso possa mitigar as dúvidas, mais tarde ou mais cedo o país vai ter de confrontar-se com os responsáveis pela criação de uma realidade negra.
Não há crimes perfeitos.
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