As decisões dos países da zona euro podem não ter resolvido
todos os problemas, mas têm um alcance muito maior do que os resultados
imediatos: Em primeiro lugar, a banca foi metida na ordem, partilhando os
prejuízos em situação de crise; de seguida, acabou o tempo em que a banca, a
troco de juros especulativos, se limitava a alimentar o endividamento
desenfreado de Estados soberanos; por último, os 17 da zona euro têm de
inscrever nas respectivas Constituições, até final de 2012, limites para os
défices e para as dívidas públicas.
Estas orientações são fundamentais, desde logo porque
salvaguardam países como Portugal, demasiado vulneráveis, até aqui, a uma
governação politicamente criminosa, à qual o conjunto dos órgãos de soberania e
demais instituições nunca conseguiram fazer frente.
O caminho seguido pode não agradar a uma esquerda delirante
que, paradoxalmente, clamava por mais uma fuga em frente, com eurobonds e
afins, sem cuidar previamente de introduzir mecanismos de rigor orçamental e de
disciplina no sector financeiro. Todavia, os 17 demonstraram que o projecto da moeda
comum não é só um desígnio institucional, político, económico e social, também
pode servir para travar a ganância e a corrupção que resultam da desregulação.
O regabofe que ocorreu em Portugal não seria possível se
estas medidas já estivessem em vigor. Ou seja, se a banca portuguesa,
certamente liderada por gestores de topo, soubesse que poderia perder 50% do
investimento em dívida grega, seguramente não teria alavancado muitos dos
investimentos públicos desastrosos que foram contratualizados nos últimos seis
anos em Portugal.
Para ter uma noção do que está em causa, basta recordar as
últimas revelações sobre os escandalosos negócios das SCUT's, designadamente a
da Grande Lisboa e a do Norte, cujos encargos para o Estado passaram de zero
para 1,42 mil milhões de euros, em 2010, após uma renegociação entre o anterior
governo e a Mota Engil.
Passos Coelho tem razões para poder sorrir, pela primeira
vez, desde que assumiu a liderança do Executivo. O desanuviar da crise europeia
permite consolidar o ajustamento, em que se destaca a firmeza exemplar do
ataque ao desperdício na RTP, no quadro de um horizonte menos carregado de
dúvidas e incertezas.
As prioridades do governo, vertidas na proposta de orçamento para 2012,
estão a dar resultados positivos. O facto dos 17 reconhecerem que os
portugueses estão a dar a volta à crise, ainda que à custa de sacrifícios
terríveis, é o trunfo que faltava a Passos Coelho para demonstrar que, afinal,
há uma luz no fundo do túnel.
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