O
primeiro-ministro surpreendeu tudo e todos com uma afirmação que ficou célebre:
«Que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal».
O
alcance desta declaração permitiu várias análises, embora tenha ficado consagrado
que o primeiro-ministro pretendeu passar uma mensagem e um compromisso claros: respeitar os interesses do país.
Quase
três anos depois da tirada, que tirou o apetite a alguns deputados
social-democratas, o que lá vai lá vai, pois Pedro Passos Coelho continua a dar
sinais que está cada vez mais preocupado com as eleições.
No
momento em que se especula em relação ao iminente anúncio da renovação da
coligação PSD/CDS-PP para as legislativas de 2015, a vantagem eleitoral dos
dois partidos se apresentarem coligados pode ser um imperativo óbvio, mas será
que tal implica obrigatoriamente a manutenção do ticket Passos Coelho/Portas?
Não
deve haver um único português que acredite na bondade da renovação da
coligação, tendo em conta os picos de crispação verificados entre os dois
líderes e a governação à vista que tem sido efectuada pela simples necessidade
de ter de ser encontrado constantemente um acordo entre ambos que, como é
público, discordam em quase tudo e não se suportam pessoalmente.
Seja
qual for a simpatia partidária e o ângulo de análise, não há qualquer dúvida: Pedro
Passos Coelho e Paulo Portas aparecem aos olhos dos portugueses como activos
tóxicos, mesmo até para aqueles que lhes reconhecem obra feita e algum sentido
de responsabilidade.
Independentemente
de saber se os dois teriam estômago suficiente para se aguentarem um ao outro
durante mais quatro anos, a verdade é que pensar primeiro em Portugal implicaria
no mínimo colocar em cima da mesa a hipótese de um ou dos dois cederem os seus
respectivos lugares a novas lideranças refrescadas eleitoralmente no seio de
cada um dos partidos.
Depois
de Passos Coelho anunciar que se vai bater por uma maioria absoluta, sem dizer
uma palavra sobre Portas, e de não fechar a possibilidade a um Governo de Bloco
Central, o país só pode ter esperança que a promessa proferida a 23 de Julho de
2012 não tenha caído em saco roto, como tantas outras afirmadas durante a
campanha eleitoral de 2011.
Ainda
há quem não tenha percebido que a velha forma de fazer política tem os dias
contados. Já não é mais possível encenar entendimentos, sacrificar o essencial
por caprichos e vaidades pessoais e prometer uma coisa e fazer outra, pois os
portugueses têm mais memória política. Que o diga António Costa, atracado à
tralha socrática, que não cessa de desiludir as suas hostes e até todos aqueles
que já não conseguem suportar a actual maioria por uma duplicidade de discurso
que não cessa de surpreender.
Passos
Coelho e Portas têm pela frente a última fronteira: qualquer político tem o
dever de saber a hora exacta para sair de cena, mesmo que essa hora seja muito
dolorosa.
Isso,
sim, seria a confirmação que ambos estão convicta e verdadeiramente
interessados em defender Portugal.
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