A
vitória da extrema esquerda grega é um facto político que implicará profundas
mudanças. E Alexis Tsipras, líder do Syriza, passou a ser o nome da esperança
para a maioria dos gregos.
Atolados
na corrupção, fartos das mentiras da direita e da esquerda, desde os
socialistas à Nova Democracia, os gregos conseguiram implodir o sistema
político tradicional que os têm governado, ou seja, um recado cristalino para
os partidos do arco da governação dos restantes membros União Europeia.
Nem
a "bazuka" tardia os demoveu.
Os
gregos estão determinados em assumir o futuro nas suas mãos, carregando com
orgulho o peso de terem sido o berço da civilização ocidental e os fundadores
da democracia.
E é
da maior relevância que a implosão do "centrão" tenha acontecido na
Grécia, precisamente o país mais endividado e em maiores dificuldades da União
Europeia.
Enquanto
Portugal continua distraído com a detenção de um ex-primeiro-ministro,
aceitando com indulgência salazarenta as alarvidades dos "barões" e
afins, todos os holofotes do poder e do grande capital europeus estão
concentrados no previsível abanão que veio da Grécia.
Nos
últimos anos, os gregos não desistiram de lutar pela dignidade e de colocar a
renegociação da gigantesca dívida sempre em cima da mesa.
Nunca
cederam. E, por isso, pagaram uma redobrada factura!
Mas
a resposta está aí, chama-se Syriza, que acaba de derrotar e humilhar
politicamente a esquerda e a direita tradicionais.
Contrariamente
ao caso irlandês, português e espanhol, a Grécia escolheu um caminho de desafio
permanente aos mercados. E nem os dois resgates de 240 mil milhões de euros (em
2010 e 2012) e o posterior perdão de parte da dívida implicaram qualquer tipo
de capitulação.
Para
o bem ou para o mal, o resultado eleitoral grego vai determinar o futuro de
cerca de 500 milhões de pessoas que residem nos 28 Estados membros da União
Europeia.
A
identidade dos gregos é forte e suficientemente sólida para enfrentar os grandes
senhores da Europa, mas será que alguém de bom senso acredita que qualquer um
deles vai dar a Alexis Tsipras, de mão beijada, a possibilidade de ser um novo
herói para os críticos da austeridade?
Regada
com sangue, suor e lágrimas, a escolha dos gregos não pode ser desperdiçada por
Portugal. Apesar de Pedro Passos Coelho ter optado pelo escrupuloso cumprimento
do memorando da Troika, acatando as ordens de Bruxelas, agora chegou o momento
de começar a olhar para Berlim com outros olhos de ver.
Não
se trata de repetir as aventuras politicamente criminosas dos dois últimos
Executivos socialistas que nos levaram ao abismo, nem tão-pouco abrir os
cordões à bolsa para ganhar as próximas legislativas.
Com
os portugueses fartos de incerteza, PSD/CDS-PP ainda têm uma janela de oportunidade
para demostrarem que têm fôlego para aproveitar a onda grega.
É
preciso criar uma nova perspectiva, uma nova fronteira. Sem repetir os erros do
passado. Nem que seja à boleia da Grécia.
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