segunda-feira, 11 de julho de 2016

A minha alegre casinha



Anda por aí uma felicidade alucinante que só incomoda quem não tem o mínimo contacto com a realidade dos portugueses, os de cá e os de lá de fora.

E não percebeu, nem em directo, nem agora, a transcendência do momento em que milhares e milhares de emigrantes portugueses em França celebraram a vitória no Euro, o do futebol, está claro, no Stade de France, em Saint-Denis, cantando em delírio "A minha casinha", dos Xutos & Pontapés.

Os craques da selecção conseguiram muito mais do que a taça, libertaram o país, durante um mês, de uns malvados que continuam a ameaçar Portugal com sanções por não sermos capazes de cumprir as regras da União Europeia, consagradas num tratado que foi baptizado, sem ironia, com o nome de Lisboa.

Não faltaram elogios para qualificar os novos heróis da bola e até adjectivos para castigar os diabos azuis, os de Bruxelas comandados pelos alemães, evidentemente.

Até já lhes chamaram terroristas, aos “meliantes” de Bruxelas, inquestionavelmente. Nem mais. Portugal está sob ataque cerrado, mas conseguimos ganhar o Euro 2016, contra tudo e todos.

Também não faltaram outras explicações para condenar os monstros impiedosos, os da Europa insensível, pois claro, à medida que se adivinhava uma espécie de Cavalgada das Valquírias com tons lusos (alemão à parte) na final das finais.

É um escândalo!

Não querem pagar o nosso Estado Social e as nossas aventuras salteadas com muita corrupção.

E ainda nos querem vergar, sobretudo as esquerdas que se juntaram para apoiar um governo que tarda em encontrar a prometida receita mágica do fim da austeridade.

No Euro, o outro, o de futebol, depois de uma prestação sofrida conseguimos a desejada vitória na final.

De Griezmann, Draxler, Giroud e até de Dimitri Payet não reza a História, e a luta continua contra quem ainda não nos venceu: Angela Merkel e Wolfgang Schäuble.

Podemos estar à beira de um novo resgate, de ficar de fora do Euro, o da moeda, manifestamente, mas não precisamos de lições sobre o défice, as contas públicas, os clubes falidos e os estádios abandonados.

Com os novos heróis do Euro, o da bola, pois claro, e José Manuel Durão Barroso na liderança do maior Banco do Mundo, o Goldman Sachs, só há um limite: a memória.

José Saramago escreveu a “Jangada de Pedra” em 1986. No momento oportuno. No preciso momento em que as actuais virgens ofendidas com Bruxelas e com o aproveitamento do futebol se lambuzavam com a promessa de milhões e milhões de ajudas comunitárias. 

 E com a glória do Euro, o da moeda, obviamente.

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