Mais de 70 mil milhões de dólares foi o preço que a empresa de Mark Zuckemberg pagou pelo gigantesco "descuido" na protecção de dados dos seus "amigos".
De imediato, alguns dos oportunistas do costume "apagaram" as suas contas e vociferaram contra a nova era digital de "insegurança", armados em vítimas de uma devassa com a qual, aliás, nunca se importaram no passado.
Se não fosse caricato até dava vontade de rir, mas no mundo actual, em que um cone de informação veiculado pelos canais adequados faz lei, tudo é tão etéreo como o mercado global.
É caso para dizer: no passa nada.
Obviamente, esta indignação "colectiva" tem um alvo: Donald Trump.
O que está em causa, verdadeiramente, não é prevenir e reagir contra um dos maiores perigos que a Democracia atravessa, mas sim o combate político ao mais heterodoxo presidente eleitos dos Estados Unidos.
A violação dos direitos individuais dos cidadãos, bem como do seu inalienável direito à privacidade, passou a ser a regra, a política impune da generalidade dos Estados, democráticos e ditatoriais.
Não é o Face que representa o maior perigo.
São os departamentos de Estado, as secretas e as polícias que representam a maior ameaça aos valores democráticos.
Aliás, quem já não se recorda do telefonema que Zuckemberg fez a Barack Obama, em Março de 2014?
O grande Executivo chegou mesmo a dizer que o governo dos Estados Unidos «deveria ser o paladino da Internet, não uma ameaça».
O "protesto" ocorreu depois de documentos secretos revelarem que a Agência de Segurança Nacional (NSA) se disfarçou de um servidor do Facebook para infectar milhões de computadores de usuários suspeitos.
O mais extraordinário é que estes "ataques" com face deram origem a uma extraordinária "aliança": Facebook, Google, Apple, Microsoft, Twitter, AOL, Linkedin e Yahoo formaram a chamada "Reforma da Vigilância do Governo".
Quem ouviu Edward Snowden, nas Conferências do Estoril, em Maio de 2017, não tem quaisquer dúvidas sobre o que está em causa, em termos gerais e também no que diz respeito ao jornalismo.
Apesar da comunicação não ter merecido a cobertura mediática ao nível do que estava (e está!) em jogo – revelando um desinteresse obsceno da parte dos jornalistas e patrões da imprensa –, a verdade é que Snowden colocou o dedo na ferida: como podem os jornalistas investigar, proteger as suas fontes e publicar notícias se são escutados e vigiados?
Neste, como noutros dossiers sensíveis, o papel dos jornalistas assume relevância maior, desde que queiram continuar a ser jornalistas.
No caso da mais recente polémica sobre o Facebook, não há inocentes.
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