Os mais
recentes indicadores apontam para uma ténue recuperação da economia e para a
sobrevivência da maioria política que governa o país.
À beira de
entrar na campanha eleitoral para as autárquicas, que as principais televisões
querem reduzir a uma passerelle de “notáveis”,
quem segue a informação escrita e falada não poderia ter ficado mais
surpreendido com estes dados que valem o que valem, mas que deveriam merecer a
maior ponderação dos partidos políticos da oposição parlamentar, nomeadamente do
Partido Socialista.
Não
obstante os ex-governantes “chocados” com as medidas governamentais e demais populistas
que se limitam a chafurdar na onda mediática, como é possível que o PSD e o
CDS-PP mantenham índices tão elevados junto dos portugueses?
O país está
farto de assistir aos palpites de quem cavou a crise; e já não tolera mais o
radicalismo de uma oposição que está mais interessada em regressar ao poder a
todo o custo do que em defender os interesses dos portugueses.
O passado
revela que são os governos a perder as eleições, não são as oposições a
vencê-las. Todavia, com a crise, tudo mudou. Os portugueses já não acreditam
neste sistema partidário, nos partidos do chamado “arco da governação”, numa
Constituição de fachada que distingue os funcionários públicos dos trabalhadores
do sector privado.
No momento
em que a troika voltou a aterrar em Portugal, António José Seguro deveria antecipar
os riscos de adoptar uma atitude de crítica pela crítica; deveria saber o preço
a pagar por se deixar confundir com alguns dos seus compagnons de route; e deveria ponderar os custos da colagem ao extremismo
do PCP e ao Bloco de Esquerda.
Num país
intervencionado, dependente dos credores externos, a acção do maior partido da
oposição não pode ser feita da mesma forma que num país soberano e
independente. Porventura, os resultados das próximas eleições autárquicas
ajudarão o líder socialista a percebê-lo. Só resta saber se já não será
demasiado tarde.
Ao insistir
na demagogia fácil, de tudo prometer, e na recusa de assumir os erros do
passado, com base na ingenuidade que o marketing político tudo fará esquecer,
os socialistas dão sinais que ainda não estão preparados para regressar ao
poder. O mais grave é que permitem que a maioria, que já deu bastas provas de
impreparação, desnorte e falta de coesão, continue a ter condições para liderar
o país, face a uma alternativa que está mais concentrada nos acertos de contas
e nas tricas internas do que em preparar um caminho alternativo sério e
fundamentado.
Ninguém
pretende que o PS abrace uma espécie de união nacional. Nem tão-pouco é
admissível esperar que renegue aos seus princípios. O que os portugueses
esperam do PS é uma atitude consentânea com as suas responsabilidades no estado
em que deixou o país e, sobretudo, que ajude o Governo e a troika a aceitar um
plano de recuperação razoável e justo.
Neste momento, e passados mais de dois anos da
eleição de um novo Governo, Pedro Passos Coelho está condenado a manter o poder?
A resposta cabe
aos portugueses quando forem chamados a votar em 2015, mas tudo depende de uma
nova atitude da oposição, designadamente do PS. E das duas uma: ou António José
Seguro e os socialistas ajudam o país a sair da crise, poupando os portugueses
a mais sacrifícios desnecessários, ou então serão ambos responsabilizados por
contribuir para a sustentação de um Governo que confunde a inevitável
austeridade com a governação sustentada por um discurso cada vez mais politicamente
mesquinho.