Há
muito tempo que a opinião pública assiste a um debate estéril, alimentado por políticos
e governantes sem vergonha, por banqueiros e financeiros que mais parecem
vampiros e por uma certa opinião publicada instrumentalizada.
Se a
direita escolheu o caminho da austeridade draconiana, com uma clareza diáfana, a
esquerda continua com um discurso pardo e dogmático, omitindo que há um preço muito
elevado a pagar para enfrentar os tecnocratas de Bruxelas e os grandes
banqueiros.
O
debate tem de partir de uma escolha cristalina: ou os povos europeus são
mobilizados para travar a batalha do século, consciente e voluntariamente, ou
então a globalização vai continuar a prosperar num clima de selvajaria
financeira.
O
impasse entre a Europa dos ricos e a Grécia é muito mais do que uma questão europeia
e de dívidas soberanas: é mais uma batalha pela liberdade.
Sem falar
verdade aos povos, a esquerda vai continuar a abrir caminho à direita mais
financista e retrógrada, a mesma que rejubila com os esquerdistas que defendem
o fim das offshores e depois beneficiam
desses mesmos paraísos fiscais para encobrir os gamanços à má fila.
A
vitória do Syriza, em 26 Janeiro 2015, não foi nem mais nem menos do que a
expressão da adesão popular a quem não está com meias-tintas, com meias
verdades, ou seja, a vitória de uma certa extrema-esquerda e a forte
penalização em relação aos políticos, governantes e partidos do arco da governação
que atiraram os seus países e respectivos povos para o abismo.
A
convocação dos gregos para o referendo do próximo dia 5 de Julho é uma consequência
legítima de quem optou (ou já não tem outra alternativa) por enfrentar o
monstro de caras, em campo aberto.
E não há volta a dar: só com mais democracia e
cidadania é possível romper o ciclo vicioso instalado na Europa dos 19, a dos
países que aderiram ao Euro, enquanto os restantes nove membros da União
Europeia continuam a assobiar para o lado.