O debate político sobre os Serviços de Informações continua a ser pautado pela tradicional promiscuidade, indigência e desonestidade intelectual.
Um coro de protestos tem sido audível a propósito da transferência de um espião para uma empresa privada: a Ongoing.
É uma crítica tardia, mas certeira.
Mas, já agora, onde estavam estes críticos quando o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, transformou um espião no seu principal assessor político?
Ou melhor, se um alto quadro do governo pode passar para o topo da gestão de uma empresa pública ou privada, e vice-versa, por que razão um espião não pode passar para a consultadoria empresarial pública e privada, quiçá, e vice-versa?
Afinal, a existir critério, então estamos a falar de altos quadros com acesso a informação classificada que circulam por onde querem sem qualquer regra de prudência instituída.
Não terá chegado a hora de acabar com esta farsa?
A trapalhada que ficou conhecida como o "caso Bairrão" é a consequência do caos em que os serviços vivem há demasiado tempo.
Infelizmente, a forma como o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, reagiu às notícias é mais do mesmo.
Não basta anunciar inquéritos. É preciso fazer mais. É urgente cortar com os lobbies que sustentam este modelo de Serviços de Informações porque eventualmente lhes garantem impunidades e/ou privilégios injustificados.
Os Serviços de Informações não podem funcionar à solta pelo simples facto de que o Segredo de Estado garante uma total impunidade, nem tão pouco podem sustentar a sua utilidade com os préstimos a este ou aquele governo, a esta ou aquela empresa, em detrimento dos interesses colectivos e de Estado.
Pedro Passos Coelho tem de libertar-se dos lobbies que defendem o actual modelo, promovendo uma reforma das secretas no sentido de uma profissionalização urgente, em que a regra do segredo não sacrifique a fiscalização e a transparência.
Resta saber se tem competência para a fazer, liberdade para a levar a cabo e vontade para a concluir no espaço de uma legislatura.