O país foi sacudido por um par de declarações avulsas de Gentil Martins sobre a "anomalia" homossexual e a "imoralidade" de um homem solteiro recorrer a uma barriga de aluguer para ter filhos.
O professor Gentil Martins proferiu uma opinião pessoal, não fez uma afirmação como médico, nem o poderia ter feito, desde logo porque nem tem competência, nem argumentação científica.
Urge desconstruir tais boutades, ao nível da conversa de café, sem cair no logro do politicamente correcto ou da intolerância bacoca, sublinhando que as declarações de gentil Martins são tão infundadas como tantas outras que ocupam o debate público, por exemplo, como aquela proferida pelo Presidente iraniano, Mohammed Ahmadinejad, em 2005, quando considerou o Holocausto um mito.
O assunto só assume alguma relevância por causa dos eventuais efeitos colaterais que tais afirmações, gratuitas e falsas, podem ter num jovem adolescente que, hoje, ainda não sente a confiança suficiente para poder viver (sem ter que exibir!) a sua orientação sexual.
Felizmente, o debate já permitiu repor a verdade dos factos.
Aliás, depois de glosada a qualidade de católico de Gentil Martins, seria de esperar uma declaração da Conferência Episcopal da Igreja católica portuguesa para manter a devida distância.
Quanto a Cristiano Ronaldo e ao recurso a barrigas de aluguer, Gentil Martins, sempre ávido pelos holofotes, hoje como ontem, confirmou o seu preconceito e ignorância, acabando por denunciar ao que veio: o insulto vulgar e rasteiro.
Ainda assim continuo a defender a liberdade de expressão e opinião, sem qualquer tipo de censura, mas nunca abdicando do exigível enquadramento jornalístico e editorial em nome do rigor factual.
Era exigível, obviamente, um contraponto da parte de quem o entrevistou e/ou uma edição mais competente que sublinhasse a alarvidade das afirmações de tão ilustre entrevistado, mas isso são contas de outro rosário, muito mais oportuno, sobre o mau serviço público prestado pelo semanário "Expresso", apesar de poder ter vendido mais uns exemplares.
Não sei se Gentil Martins, actualmente, é bissexual, gay ou hetero; também não sei se teve uma vida feliz ou se foi espancado, abusado ou vítima de bullying quando era criança; e também não sei se a sua idade terá avivado algum desvio típico do estereótipo do "macho latino".
Apenas posso opinar que não é um exemplo, nem para mim, nem para um católico, seguramente para ninguém com o mínimo de honestidade intelectual.