terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Guida Maria: Inesquecível

Uma mulher incrível, sempre muito à frente da sociedade do seu país.

Uma actriz talentosa, maior do que a cultura balofa e remediada.

Uma cidadã do mundo que procurou, cá dentro e lá fora, sempre mais e melhor.

Incapaz de partilhar os muitos e muitos momentos vividos, dos bons aos maus, porque há tanto e tanto que as palavras não alcançam nem nunca traduzem, fica a memória dos olhos tão lindos, do sorriso muito doce, da fúria temível, da solidariedade inabalável e do inesquecível e terrível último adeus na cama do hospital.

A minha muito querida e grande amiga, sempre, até sempre!


sábado, 16 de dezembro de 2017

Portugal ao espelho



A queda da Associação Raríssimas não é mais nem menos do que um mero exemplo dos tombos que o país de sempre deu, constantemente, há tempos e tempos, basta reler a História.

É o país do manganão, definitivamente, dos farsolas e dos falsos enganados que se alimentam, promovem e bajulam reciprocamente.

E quando rebenta mais um escândalo é vê-los, uns e outros, algozes e supostos impolutos, a arredar o pé.
  
É um exemplo que leva a outra realidade paralela em que o recato e a sobriedade são palavras vazias.

Não há problema, nunca há problema.

Nem que seja à custa do uso e abuso de donativos para assistir crianças ainda mais raras.

E venha uma Rainha...

Custa a acreditar que estas "vítimas" de mais um(a) saloio(a) deslumbrado(a), que nunca se livrou do chinelo no pé e do modus operandi do bairro suburbano, nunca suspeitassem de nada.

Claro, agora, é vê-los com cara de espanto.

Quanta desfaçatez...

No meio desta farsa existe um padrão de actuação mais profundo, resultado dos tempos em que vivemos, em que os valores e os princípios se resumem ao moralismo e voyeurismo dos costumes.

Ai, como é triste tudo isto.

Que exemplo para as futuras gerações tudo deitar fora por um carro topo de gama, por um trapo da moda ou por um prato de marisco...

E como é revoltante assistir a uma elite que sonha e se contenta com o supérfluo, que perde o norte e o sul por um par de mordomias sem importância.

A novela medíocre e grotesca, entre nós nada raríssima, faz lembrar os velhos tempos do cavaquismo e do socratismo em que o brilho falso fazia rodopiar os parolos deslumbrados com o poder e o dinheiro fácil, enquanto os oportunistas e os poderosos de sempre se aproveitavam e rebolavam a rir.

Sim, é isso mesmo, ainda não nos habituámos aos valores da Democracia, ao significado da responsabilidade política e pública, ao imperativo da gestão da coisa pública com ética e desprendimento, de que o Estado não sou eu, mas somos todos nós.

O caso Raríssimas é, mais uma vez, o país a ver-se ao espelho.

É o centrão em todo o seu esplendor.

É o modelo assistencial a mostrar uma parte do seu buraco negro.

É a dança das cadeiras entre o poder político e um rendimento obsceno nem que seja à custa de donativos para tentar salvar crianças ainda mais únicas.

Dizemos que não gostamos! 

Garantimos que não se pode repetir!

E, depois...

Next!