«Jornalismo é publicar aquilo que
alguém não quer que se publique. Tudo o resto é publicidade». Era assim que George
Orwell (Eric Arthur Blair) entendia o papel dos jornalistas no início do século
XX.
Actualmente estamos cada vez mais
distantes desta brilhante máxima. Salvo raras excepções, a informação tornou-se
num imenso e crescente monte de ruído ao serviço de alguém e uma fonte de
permanente confusão.
Os exemplos são tantos que a única dificuldade
é seleccionar os casos mais paradigmáticos, pelo que enuncio apenas dois, da
política e da justiça.
Hoje, entre insultos nunca vistos trocados
pelos principais protagonistas da vida política, quem consome a informação fica
entalado entre duas visões diametralmente opostas sobre o caminho a seguir para
sair da crise. E não faltam especialistas, entre os quais os principais
coveiros do país, com opiniões sobre as virtualidades de uma ou outra medida.
Por um lado, a maioria que governa,
com mais ou menos simulação de arrufo do CDS-PP, tem como objectivo o
saneamento das contas públicas em ritmo acelerado e o regresso aos mercados em
Setembro de 2013; por outro lado, a oposição clama por mais tempo e menos
sacrifícios, independentemente do custo acrescido de manter uma situação de
dependência de mais e mais crédito externo.
Curiosamente, a imprensa não tem
reflectido sobre o que poderá estar na génese de posições tão extremadas: a
maioria que governa quer fazer o trabalho duro o mais rapidamente possível para
que o país regresse aos mercados financeiros internacionais em 2013, ficando ainda
com dois anos até às próximas eleições legislativas, o que lhe poderá permitir
abrir os cordões à bolsa e à economia; por sua vez, a oposição quer retardar o
mais possível a saída da troika e o
regresso da normalidade em termos de independência financeira do país, de forma
a atrapalhar a governação e a chegar a 2015 em condições de conquistar o poder.
Não vale a pena escrutinar se ambas
as posições estão a ser mais determinadas pelos interesses partidários e pelo
calendário eleitoral do que pelo interesse nacional?
Esta falta de profundidade da
imprensa não se cinge à governação e à política. Senão vejamos o que se passou na
justiça, perante a indiferença generalizada: a nomeação do procurador-geral da
República.
O país foi surpreendido pela
escolha de Joana Marques Vidal, uma magistrada do Ministério Público, com obra na
defesa das vítimas e dos mais desprotegidos.
Ora, andámos meses a ouvir Paula
Teixeira da Cruz, ministra da Justiça, a pulular sobre o combate à corrupção, o
fim do tempo das impunidades e ainda sobre a criminalização do enriquecimento
ilícito e, agora, assistimos à nomeação de uma magistrada para liderar a
procuradoria-geral da República sem qualquer experiência na investigação
criminal e sem trabalho para apresentar na luta contra o crime de colarinho
branco, o branqueamento de capitais, o tráfico de influências, em síntese, sem
provas dadas em relação à esmagadora maioria dos crimes de catálogo.
Os comentários em relação a esta
nomeação, de uma magistrada muito próxima de importantes figuras do PSD, ficou
pela triste tendência para a bajulação de quem assume o poder, o que deve ter deixado
muitos portugueses com a cabeça a andar à roda.
Resta
esperar pelos próximos capítulos, pois de publicidade estamos conversados.
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