O desafio presidencial de sentar à mesa das negociações o PSD, o PS e o
CDS/PP, que têm responsabilidades directas no actual caos, teve a vantagem de clarificar
a situação e de demonstrar, definitivamente, que o país continua a ser dominado
por lógicas partidárias e de facção que continuam a chafurdar nos seus
interesses pequeninos.
Até a bizarria constitucional inventada por Cavaco Silva, de marcar eleições
antecipadas a prazo, a partir de Junho de 2014, tem o mérito de, aparentemente,
dar um sinal à sociedade civil para se começar a organizar e fazer emergir
novas forças partidárias, permitindo renovar o espectro partidário e reconquistar
a confiança dos portugueses.
O problema é que o país regressou ao impasse de 2011: o governo está
paralisado, o primeiro-ministro está desacreditado e a dependência do crédito
externo é total.
Se há dois anos havia uma maioria que tinha esperança na alternativa
proposta pelo PSD, de Pedro Passos Coelho, actualmente ninguém pode ignorar que
há uma desconfiança generalizada em relação às propostas inconsistentes de António
José Seguro.
A conclusão é linear: faltam políticos com autoridade, com credibilidade,
com competência, com capacidade de compromisso e com consciência dos terríveis
sacrifícios que estão a impor aos portugueses.
Paradoxalmente, o cimento que conseguiu manter em pé este edifício à beira
do colapso tinha um nome: Vítor Gaspar. A partir do momento em que o
ex-ministro das Finanças bateu com a porta, farto de politiquices, tricas e
jogos de bastidores, o governo começou a desmoronar e ficaram à mostra as
velhas feridas da República.
Em qualquer situação problemática, a solução passa sempre por identificar e
enfrentar o problema. Foi isso que Cavaco Silva fez. Ainda que seja prematuro
fazer um balanço final sobre os últimos acontecimentos, o desacordo entre os
três partidos revelou que estamos, irreversivelmente, no caminho da Grécia.
E agora?
A imediata realização de eleições antecipadas é a solução formal mais evidente.
O calendário eleitoral, com as autárquicas em Setembro, até ajuda. Mas para
quê? Para a eleição de um governo socialista que apresenta as mesmas caras e
as mesmas soluções que nos conduziram ao abismo? Para a repetição de uma
maioria de direita cujos líderes já demonstraram que não estão à altura das
suas responsabilidades? Para a tentativa de fazer uma alternativa de esquerda
em que reina a total demagogia e confusão programática? Para a reedição de um novo
governo do Bloco Central que está na origem do pântano em que o país se
transformou?
Com estas instituições, com estes partidos, com estes líderes, com esta classe política, com estes ressabiamentos pessoais e mesquinhos que continuam a condicionar a Democracia, então podem realizar as eleições que quiserem que o resultado tende a ser sempre o mesmo: o desastre.
Resta aguardar pelas soluções jurídico-constitucionais que o presidente da
República prometeu no caso de falhar o "compromisso de salvação
nacional". E, sobretudo, esperar que elas apontem para a convocação urgente
de uma nova geração que ainda tem as mãos limpas.
Em Democracia há sempre uma porta de saída. Só falta saber onde vai dar,
pois o momento é de uma gravidade extrema. E a paciência dos portugueses tem
limites, mais não seja por terem sido obrigados a mais este triste espectáculo
e por estarem a sobreviver em condições muito duras.
A
propósito: preparados para a corrida ao Multibanco?