segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Passos/Portas versus Costa: uma questão de credibilidade?


Ao entrar na recta final da campanha eleitoral, e a não existir um qualquer volte-face, que não é de excluir, a dupla Pedro Passos Coelho/Paulo Portas e António Costa apresentam-se como os únicos com capacidade para governar nos próximos quatro anos.

Este é o momento para escrutinar a credibilidade, ou o que resta dela, dos dois líderes da coligação Portugal à Frente (PAF) e do líder do maior partido da oposição.

Pedro Passos Coelho conseguiu impor disciplina financeira, livrar o país da troika e colocar o país na rota do crescimento.

Paulo Portas também conseguiu chegar a vice-primeiro-ministro, permanecer disciplinadamente na coligação e fabricar a dinâmica de um Estado ao serviço das empresas e do emprego.

António Costa conseguiu conquistar o PS, apostar num modelo económico arrojado e afirmar a existência de um caminho alternativo.

De um ponto de vista global, o que de positivo foi alcançado pela coligação PAF e pelo PS pode não ser suficiente, pois não é possível encobrir o muito que correu mal em cada uma das duas frentes.

É preciso recordar o incumprimento das promessas de Pedro Passos Coelho em 2011 e os soundbites que selaram a governação PSD/CDS-PP ("portugueses não podem ser piegas", em 6 de Fevereiro de 2012; "que se lixem as eleições", em 23 de Julho de 2012).

Também é preciso lembrar que Paulo Portas não se livra do fardo do dito pelo não dito, após a "irrevogável" birra de 2 de Julho de 2013, nem tão-pouco de ter falhado o guião da tão propalada reforma do Estado.

Por último, e do lado de António Costa, pesa como chumbo a sombra de José Sócrates, a traição a António José Seguro e a escolha de uma proposta que roça o aventureirismo irresponsável.

Se Pedro Passos Coelho carrega a cruz de um passado empresarial "obscuro", como acusou o líder do PS, então o que dizer do passado do próprio António Costa, marcado por ter sido o número dois de José Sócrates e por um silêncio ensurdecedor até ao descalabro do resgate financeiro? E alguém já esqueceu o passado de Paulo Portas, amplamente estigmatizado pelo escândalo da Universidade Moderna e pelas aquisições grandiosas de equipamento militar no consulado de Durão Barroso?

Não, não é esta espécie de campanha eleitoral, acéfala e maçadora, com a comunicação social a reboque, que vai ser decisiva. E, seguramente, não é por uma questão de credibilidade que qualquer um deles vai conquistar a vitória.

A chave da manutenção/conquista do poder está fora do alcance dos três políticos e das suas máquinas partidárias.

Cabe aos partidos que não pertencem ao arco da governação (PCP e Bloco de Esquerda), bem como a todos os outros pequenos partidos, a capacidade de conseguirem aglutinar o voto dos descamisados e daqueles que já não acreditam no sistema.

Isto sem esquecer os eleitores-fantasmas e a militância abstencionista, reforçada pela gigantesca vaga de portugueses que abalaram para o estrangeiro, que também podem fazer a diferença.

A vitória não vai ser decidida pelo balanço do melhor e do pior da governação, nem tão-pouco pela oposição feita pelo PS e muito menos pelo programa eleitoral e mais umas promessas avulsas que uns e outros anunciam despudoradamente à última da hora.

O que vai ser decisivo é a percepção de quem é capaz de consolidar/reforçar o que já foi alcançado nos últimos quatro anos, seja muito ou pouco, brilhante ou medíocre, justo ou injusto, pois quanto à credibilidade de Passos, Portas e Costa os portugueses já estão elucidados há muito tempo.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Passos Coelho versus Costa: ainda falta muita campanha eleitoral


O debate foi o que era de esperar. E, se não teve um vencedor claro, teve um derrotado evidente: quem pretendeu reduzir o esclarecimento dos portugueses a um frente-a-frente entre Pedro Passos Coelho e António Costa, após um entendimento entre políticos, directores e patrões da comunicação social, em que nem faltou, infelizmente, o desrespeito pela política editorial de cada uma das estações televisivas generalistas.

É apenas mais um dos equívocos, entre muitos, da corrida para as eleições Legislativas do próximo dia 4 de Outubro.

O mais grave é que este partiu da própria comunicação social, designadamente das televisões generalistas que agenciaram um modelo que mina o serviço de informação aos cidadãos.

Em boa verdade tudo foi montado para um grande show televisivo, fazendo as delícias dos publicitários e dos marketeiros mais interessados em replicar modelos estrangeiros do que em reunir as condições para informar.

Um único debate televisivo foi suficiente?

Não, claro que não.

Só aqueles que querem à força uma bipolarização artificial, aliás, ao arrepio do modelo constitucional, podem ter ficado satisfeitos, mas, curiosamente, ninguém pareceu incomodado com a restrição do debate:

Pedro Passos Coelho, com Paulo Portas no bolso, jogou para alcançar uma maioria absoluta, a exemplo do que Aníbal Cavaco Silva conseguiu, sem apêndice, em 1987.

Por sua vez, António Costa, carregando Sócrates com galhardia, passe a ironia política do destino, lá teve de fabricar uma agressividade oca e cheia de chavões gastos em que, para já, nem os portugueses parecem querer acreditar.

Por último, as televisões garantiram uma emissão promovida até à exaustão, deixando cair, para já, a necessidade de realizar outros debates com audiências menos interessantes.

Falta mais, muito mais, falta um debate alargado a todos os líderes partidários, o qual permitirá o confronto entre propostas e, sobretudo, levantar o véu sobre as eventuais coligações pós-eleitorais.

Limitados a um único debate, conduzido por três jornalistas obrigados meter o Rossio na rua da Betesga, a discussão de alguns dos temas mais importantes ficou confinada a um par de escassos minutos, como se as eleições fossem a 10 de Setembro de 2015.

Só neste ambiente controlado, pouco dado a discussões abertas e plurais, foi possível alimentar outro equívoco monumental, como por exemplo a tentativa de ignorar e até deliberadamente contribuir para confundir um par de casos judiciais mediáticos com o indispensável escrutínio sobre a política da Justiça.

É um bom princípio afirmar:  à politica o que é da política, à Justiça o que é da Justiça.

E, então, por que razão não se debateu a Justiça?

Existe, ou existiu, pressão do poder político para controlar a Justiça?

Há cabalas mirabolantes para perseguir este ou aquele político notável, seja ele do PS ou do PSD?

Arredar do debate a Justiça, o combate à corrupção, a duração da prisão preventiva e a falta de meios e de autonomia financeira do Ministério Público, entre outras questões, é de tal forma incrível que até custa a acreditar que seja possível num país com mais de quatro décadas de vivência democrática.

Ficou muito por perguntar, por incomodar e responsabilizar os dois challengers e, obviamente, ainda faltam muitas respostas claras e compromissos dos dois líderes políticos para o futuro.

Quem quis condicionar uma campanha eleitoral a um debate televisivo limitado a dois dos protagonistas perdeu estrondosamente a aposta.

A manipulação não vingou.