O
debate foi o que era de esperar. E, se não teve um vencedor claro, teve um
derrotado evidente: quem pretendeu reduzir o esclarecimento dos portugueses a um
frente-a-frente entre Pedro Passos Coelho e António Costa, após um entendimento
entre políticos, directores e patrões da comunicação social, em que nem faltou,
infelizmente, o desrespeito pela política editorial de cada uma das estações
televisivas generalistas.
É
apenas mais um dos equívocos, entre muitos, da corrida para as eleições
Legislativas do próximo dia 4 de Outubro.
O
mais grave é que este partiu da própria comunicação social, designadamente das
televisões generalistas que agenciaram um modelo que mina o serviço de
informação aos cidadãos.
Em
boa verdade tudo foi montado para um grande show
televisivo, fazendo as delícias dos publicitários e dos marketeiros mais
interessados em replicar modelos estrangeiros do que em reunir as condições
para informar.
Um
único debate televisivo foi suficiente?
Não,
claro que não.
Só
aqueles que querem à força uma bipolarização artificial, aliás, ao arrepio do
modelo constitucional, podem ter ficado satisfeitos, mas, curiosamente, ninguém
pareceu incomodado com a restrição do debate:
Pedro
Passos Coelho, com Paulo Portas no bolso, jogou para alcançar uma maioria
absoluta, a exemplo do que Aníbal Cavaco Silva conseguiu, sem apêndice, em
1987.
Por
sua vez, António Costa, carregando Sócrates com galhardia, passe a ironia
política do destino, lá teve de fabricar uma agressividade oca e cheia de
chavões gastos em que, para já, nem os portugueses parecem querer acreditar.
Por
último, as televisões garantiram uma emissão promovida até à exaustão, deixando
cair, para já, a necessidade de realizar outros debates com audiências menos
interessantes.
Falta
mais, muito mais, falta um debate alargado a todos os líderes partidários, o
qual permitirá o confronto entre propostas e, sobretudo, levantar o véu sobre as
eventuais coligações pós-eleitorais.
Limitados
a um único debate, conduzido por três jornalistas obrigados meter o Rossio na rua
da Betesga, a discussão de alguns dos temas mais importantes ficou confinada a
um par de escassos minutos, como se as eleições fossem a 10 de Setembro de 2015.
Só neste
ambiente controlado, pouco dado a discussões abertas e plurais, foi possível
alimentar outro equívoco monumental, como por exemplo a tentativa de ignorar e
até deliberadamente contribuir para confundir um par de casos judiciais
mediáticos com o indispensável escrutínio sobre a política da Justiça.
É um
bom princípio afirmar: à politica o que
é da política, à Justiça o que é da Justiça.
E,
então, por que razão não se debateu a Justiça?
Existe,
ou existiu, pressão do poder político para controlar a Justiça?
Há cabalas
mirabolantes para perseguir este ou aquele político notável, seja ele do PS ou
do PSD?
Arredar
do debate a Justiça, o combate à corrupção, a duração da prisão preventiva e a
falta de meios e de autonomia financeira do Ministério Público, entre outras
questões, é de tal forma incrível que até custa a acreditar que seja possível
num país com mais de quatro décadas de vivência democrática.
Ficou
muito por perguntar, por incomodar e responsabilizar os dois challengers e, obviamente, ainda faltam
muitas respostas claras e compromissos dos dois líderes políticos para o futuro.
Quem
quis condicionar uma campanha eleitoral a um debate televisivo limitado a dois
dos protagonistas perdeu estrondosamente a aposta.
A manipulação não vingou.
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