Continuamos à espera. Sempre à espera de alguma coisa. Nem que
seja para desculparmos os nossos erros e eleger um bode expiatório.
Portugal é assim: passivo, pequenino e irresponsável.
A visita de Angel Merkl levanta a turba. O país mediático fervilha
para demonstrar o nosso descontentamento à chancelerina alemã. E até as
personalidades de primeira linha, que estão fora do poder, saem da sua zona de
conforto para surfar a onda da indignação.
Não, não nos conformamos com o pagamento da factura dos nossos desvarios,
alguns deles perpetrados por criminosos de baixo coturno que enriqueceram através
da grande corrupção favorecida por um Estado falido – com quem, aliás, muitos
dos que agora protestam conviveram pacificamente.
Não, não aceitamos ter de assumir a responsabilidade por decisões
governamentais eleitoralistas que afagaram todas as ilusões.
É verdade que a dívida é nossa, mas os credores que esperem, que
nos emprestem mais dinheiro para poder pagar mais devagar, durante mais anos, e
depois logo se verá.
Estamos disponíveis, obviamente, para pagar as nossas dívidas. É
claro que temos de reestruturar a despesa pública, mas não podemos tocar no
"monstro" que alimenta todo o tipo de clientelas e vigarices em nome
de um serviço público ao cidadão que desespera para o poder usufruir.
Não, isto não pode continuar, não podemos assistir ao roubo aos
pensionistas, ao obsceno desrespeito pelos mais idosos e pobres, ao aumento da carga
fiscal, pois estão a matar o país, a sociedade e a economia. Vamos mudar a
Europa, mostrar ao mundo que somos capazes de vencer, mas sentados, bem
instalados, e desde que nos desculpem os excessos com mais dinheiro e mais
tempo.
Portugal é assim: o país palavroso. Eloquente, redondo e infantil.
E quando passamos do palco das ideias para a realidade, nada muda.
A culpa continua a ser sempre dos outros: do capitalismo selvagem que engordou
os banqueiros à custa das casas e dos carros que comprámos; dos bancos e dos banqueiros
que ganharam fortunas à custa do crédito que nos concederam irresponsavelmente;
dos grandes países, como a Alemanha, que engordam à custa dos juros usurários
que nos cobram; da União Europeia que está em estado de pré-desagregação,
apesar de termos sido os autores do Tratado de Lisboa.
E até quando passamos do colectivo para o individual, também nada
muda. É claro que temos de racionalizar a despesa pública, mas os cortes são
sempre para os outros. Sim, nós conseguimos, desde que não toquem nos
interesses das corporações com mais força, visibilidade e mediatismo. Sim, em
frente, mas sem tocar naqueles que são beneficiados com salários e mordomias.
Portugal não está condenado a ser assim, um país de gente de braços
caídos, à espera, sempre à espera, sem vontade de escolher o seu caminho e de
construir o seu futuro com bases sólidas
Cada português tem de ser exigente consigo próprio para depois poder
ser exigente com os outros, desde o governo aos banqueiros e, sobretudo, muito
exigente com a justiça para combater a corrupção que nos deixa mais pobres a
cada dia que passa.
Pedro Passos Coelho ainda
não percebeu que a mudança não se alcança, exclusivamente, à custa de mais
sacrifícios e mais cortes, mas sim de atitudes competentes, de decisões
transparentes e de seriedade exemplar.
Portugal não tem de ser sempre o que a nossa História comprova e o
nosso presente confirma. Mas isso depende, em primeiro lugar, de cada um de
nós, e não dos outros.