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quinta-feira, 18 de abril de 2019

GREVE, POLÍCIAS E SECRETAS


Depois do choradinho do país apanhado descalço por umas centenas de trabalhadores de transporte de matérias perigosas, sem a correspondente responsabilização dos ministros que tutelam o sector, eis-nos face ao início de mais uma grande surpresa: a glória do governo de António Costa no momento do anúncio do fim da greve.

Nem mesmo o país ter parado de um dia para o outro, com as estações de serviço sem combustíveis, as reservas nos aeroportos nos mínimos, parece ser motivo de forte censura e escrutínio redobrado do Executivo.

Claro que é bem mais fácil e simplista atirar as culpas para os patrões e trabalhadores e ignorar que para os governantes o que importa é Lisboa e Porto.

Agora, passada a turbulência, importa avaliar a tese benigna do governo desprevenido, porque, pasme-se, aparentemente, não foi só o governo e a comunicação social que foram surpreendidos.

Também as polícias e os serviços de informações são incluídos no pacote.

Há um delírio no ar que ultrapassa todos os limites.

Quando é aventado que as polícias e as secretas deviam ter vigiado trabalhadores no exercício de um direito constitucional, então é caso para afirmar que há muita gente de cabeça perdida no seio de uma esquerda cada vez mais sectária e falida.

Para a história ficará: por um lado, mais uma prova de mudança no mundo sindical, com trabalhadores que não se reveem nas velhas estruturas partilhadas pela esquerda e direita e que demonstram indiferença em relação aos tradicionais partidos, associações e demais movimentos; por outro, a insultuosa protecção ao actual governo de António Costa.

Pode ser que esta greve mude muito mais do que a relação de forças entre governo, trabalhadores e patrões, quem sabe até obrigar ao debate público de uma revisão da Constituição da República para acabar com a actual farsa, assumindo e consagrando que há determinadas profissões que não têm o pleno direito à greve.