Já passaram quase três meses após o anúncio do desaparecimento de armas em Tancos.
Depois das mais estapafúrdias explicações, verdadeiros insultos à inteligência dos cidadãos, tudo continua por apurar, explicar e justificar.
Roubo?
Desvio de armas?
Exportação clandestina?
Manobra de diversão?
Zero: nada se sabe sobre o que aconteceu.
Já nada surpreende neste Estado de rastos que vai sobrevivendo à mercê das maiorias conjunturais.
O que espanta é o silêncio da generalidade da imprensa, bem como dos opinion makers e especialistas em Defesa, sobre o papel da Polícia Judiciária e da secreta militares.
Nem uma palavra de escrutínio...
E depois admiram-se que os serviços de informações sejam reduzidos pela generalidade da opinião mais ou menos informada à extraordinária "missão impossível" de saber quem dorme com quem...
Em bom rigor ninguém ainda ousou levantar a questão e/ou abordar com objectividade o que andam (ou não) a fazer as duas instituições: como é possível que armas desapareçam, hoje, ontem ou anteontem, sem que os serviços de informações e a PJ militares saibam o que se está a passar, ou melhor, não façam aparentemente a menor das ideias do que se passou?
Será para não contrariar os comunistas, sempre ciosos de um dos bastiões laboriosamente formados desde o PREC?
Será para não desagradar ao CDS/PP, que se entreteve a tentar fazer uma espécie de coutadinha privada desde o tempo em que Paulo Portas passou pela Defesa?
Será para não irritar PS e PSD, ou melhor, os interesses do Bloco Central?
Será por medo?
Ou será pelo mais gritante servilismo de quem assume responsabilidades editoriais?
Há limites para o descaramento público, pedrão, para o branqueamento da realidade...
Ficar pelo zurzir no (ainda) ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que, aliás, se colocou e continua a colocar a jeito, é de uma mediocridade confrangedora.
E não chega, pois é impossível abafar um escândalo de tal dimensão que, pasme-se, até tem o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, refém de nunca vir a ser apurado o que aconteceu.
Sim, uma coisa é pedir o apuramento da verdade.
Outra coisa é, no exercício das suas competências e autoridade constitucional, o presidente da República, Comandante Supremo das Forças Armadas, dar um murro na mesa e exigir a verdade, o que, espantosamente, ainda não aconteceu, pelo menos de uma forma pública e audível.
O que sobra de Tancos, para já, é a triste e inquestionável realidade, com a cumplicidade de quem tem o dever e a missão de informar: os órgãos de soberania portugueses não respeitam os cidadãos, nem tão-pouco os seus representantes eleitos se dão ao trabalho de revelar um pingo de sentido de Estado.