domingo, 5 de maio de 2019

TRUQUES, TESTE E MÁQUINA AFINADA


Vale a pena pegar num par de exemplos para avaliar o estado em que está o país.

Em tempos idos, que mais parecem bem longínquos, o arraso permanente de Passos Coelho atingiu o zénite quando o ex-primeiro-ministro teve o atrevimento de anunciar, com toda a transparência, em plena fase da Troika, que os cortes seriam permanentes.

Hoje, os mesmos que o criticaram, muitas vezes ultrapassando o limite do insulto, esperneiam em elogios ditirâmbicos a António Costa por ter ameaçado com a demissão por causa de PSD, CDS, Bloco e PCP terem aprovado no Parlamento a consagração da restituição do tempo de serviço aos professores.

Noutra era, que também já parece bem distante, curiosamente na mesma altura em que a Troika havia instalado arraiais em Portugal por causa de uma governação descabelada, sem falar de outras coisas, os tais que lutavam pelo direitos à saúde, às pensões e às reformas nunca se cansaram de zurzir no pobre gestor de massa falida que assumiu o poder em 2011.

Hoje, passados quatro anos, os tais arautos da defesa dos mais desfavorecidos fazem de conta que os tais direitos adquiridos intocáveis foram plenamente restituídos, ignorando a evidência do que se está a passar escandalosamente à frente dos nossos olhos.

Não, não estou a falar do direito à opinião livre, mesmo que ela sirva para sustentar os truques da velha política, aos quais António Costa já nos habituou desde o início da sua carreira partidária e governativa.

Estou a falar do coro imenso e avassalador a que estamos a assistir, sem rigor, sem contraditório, quase em uníssono, antes de ponderadas e escutadas todas as partes, com um tal desplante e dedo acusatório que impressiona o mais distraído dos consumidores de informação.

Crise, já!

Teste!

A máquina está bem afinada.

A propaganda está a funcionar em pleno.

Não há razão, pois claro, para não antecipar eleições.

Bravo, António Costa!

segunda-feira, 29 de abril de 2019

EM BREVE


ESQUERDA E FIM MERECIDO


Listas de espera nos hospitais? 

Pensionistas e reformados que não recebem a horas? 

Nada disto parece incomodar a esquerda em Portugal, a avaliar pelo novel debate instalado sobre as PPP's da Saúde.

Aparentemente, o que mais preocupa esta esquerda que nunca esquece de  ostentar o cravo vermelho, mesmo quando ignora os seus valores, é abrir uma guerra aos privados, quando o problema não são os privados mas as negociações que o Estado e os privados concluíram para a construção de hospitais absolutamente necessários para suprir as carências existentes.

Já alguém perguntou a esta esquerda o que teria acontecido se os hospitais de Braga, Cascais e Vila Franca de Xira - considerados os melhores do país - não existissem?

Importa também recordar que as PPP's da Saúde são uma solução financeira para Estados falidos que não têm dinheiro para levar por diante os investimentos fundamentais para garantir as necessidades das populações.

E, como tudo na vida, tudo tem um custo, quando não se está à altura das exigências mais basilares.

E, já agora, será que a denúncia da Provedora da Justiça, relativamente aos escandalosos atrasos no pagamento de pensões, já foi varrida para debaixo do tapete?

Com uma oposição mais virada para o show inconsequente do que para o lançamento de um debate sério sobre os terríveis constrangimentos que estão à vista, não é de admirar que a ignomínia continue a vingar na maior impunidade.

Tanto mais que a generalidade da imprensa continua atolada na sua própria contradicção editorial de ter optado pelo infotainment para sobreviver, paradigma que, apesar de se ter revelado falso, continua a imperar.

A esquerda portuguesa está de cabeça perdida: uns por terem abraçado a extrema esquerda; os outros por estarem a apoiar a governação de uma certa esquerda cada vez mais insensível e aburguesada; e, sobretudo, por ambos ignorarem o fundamental que levaram a maioria dos portugueses a votar neles.

Uns e outros pagarão o preço deste absurdo ideológico, político e social mais tarde ou mais cedo, pois não há nada mais importante do que o dia-a-dia dos cidadãos, de quem tem direito a ter saúde, pensão e reforma, mas nem sequer tem garantido e a horas nenhum destes direitos.

Enquanto em Espanha a esquerda recupera, será que, em Portugal, esta esquerda da treta terá um triste e merecido fim, ou seja, ser corrida do poder por muitos e bons anos?

quarta-feira, 24 de abril de 2019

ANTÓNIO COSTA PODE PERDER?



Em vésperas de eleições as frases inflamadas dignas de comícios, as quais revelam sempre algum desespero político, são típicas de apparatchiks.

Se não vejam bem: «Peço a todos e a todas que nos mobilizemos mesmo a sério, porque estas eleições europeias são tão decisivas como foram as autárquicas de há dois anos, são tão decisivas como as legislativas de Outubro».

Face a estas intervenções comicieiras muitos têm sido aqueles que revelam uma certa estranheza pelo facto de António Costa estar a meter a carne toda no assador relativamente às próximas eleições europeias.

Quem diria, o primeiro-ministro, com mais fama do que proveito de calculista exímio, a colocar assim a cabeça no cepo das urnas...

A verdade é outra: António Costa sabe bem que não pode voltar a perder nas urnas.

E precisa de legitimidade eleitoral como pão para a boca.

Como sempre, e durante toda a sua carreira política, Costa vergou os interesses do país aos seus interesses, ainda que, obviamente, pessoal e politicamente legítimos.

Ora, um dia vai dar-se mal.

Certamente voltará a inventar um novo coelho a sair da cartola, com a complacência da generalidade dos Media e da opinião publicada, mas desta vez, a próxima vez, não será a mesma coisa.

António Costa bem o sabe.

E não quer, nem pode, perder a oportunidade, sobretudo tendo Rui Rio à mão de semear em qualquer estação.

Resta saber se os cidadãos também concordam que a carreira do senhor Costa é mais importante que o país.

A não ser, quem sabe, que o Diabo não exista mesmo...