Depois dos cortes e sacrifícios brutais, lá temos de voltar
a erguer as duas mãos aos céus e esperar por um milagre na próxima avaliação da
troika em Setembro.
Face a este
cenário factual – com a
agravante da crise espanhola legada pelo socialista Zapatero –, a arrogância e a teimosia do primeiro-ministro,
que mais não são do que uma enorme insegurança, só prejudicam a mobilização
colectiva para ultrapassar a crise. Não, ainda não é igual a Sócrates, e esse
ainda continua a ser o seu maior trunfo para sobreviver politicamente.
No meio desta loucura só faltava mesmo um
q.b. de ego e vertigem. É cada vez mais evidente que Paulo Portas aproveitou o pior
momento do primeiro-ministro para o desafiar com uma singela carta aos
militantes do CDS-PP, em que baliza publicamente o futuro da governação.
As variantes de
hosanas aos sacrifícios, de alertas para novas dificuldades e de apelos ao consenso
têm um prazo de validade curto. Está na hora de acertar o passo. O governo não
pode insistir nas cedências selectivas e na distribuição injusta dos
sacrifícios, que chegaram ao cúmulo de:
a) Tratar mais severamente os pensionistas que vivem na
miséria do que os mais ricos;
b) Salvar a banca ao mesmo tempo que asfixia as empresas,
sobretudo as PME's;
c) Pactuar com os oligopólios e as rendas excessivas;
d) Manter os privilégios das fundações;
e) Eternizar excepções escandalosas;
f) Prosseguir a ilusão de um país sustentado pelas
exportações, sem olhar para o mercado interno;
g) Correr o risco de matar o turismo.
Também está na
hora de afastar a tralha, a instalada e a que está na sombra. Aliás, como tudo estaria
a ser diferente se tivesse sido evitado o penoso arrastamento dos casos das
secretas e de Relvas, entre outras negociatas e nomeações vergonhosas, que
perduram na memória.
Dar cobertura aos
abusos, que continuam a inquinar o país, é uma infantilidade política e
contribui para desbaratar uma parte do que já foi feito, como por exemplo o
equilíbrio da balança comercial, no preciso momento em que o governo precisa de
surgir sem mácula aos olhos dos portugueses.
De facto, quem
governa assim, com mais ou menos barriga a empurrar as principais reformas
estruturais para as calendas, arrisca a ser tratado na praça pública como irresponsável
ou corrupto.
Já todos
percebemos que pactuar com a opacidade, o clientelismo e os jogos de poder
apenas serve para comprometer ainda mais o futuro.
Com o inquilino
de Belém fraco e isolado, o país está no limiar das grandes opções pelo que não
pode adiar o escrutínio constante da governação. E tem de estar preparado para
todos os cenários, incluindo eleições antecipadas, de forma a garantir um
futuro melhor, com um governo credível e limpo, liderado por um primeiro-ministro
competente, sério e que não vacila ao primeiro conflito de interesses.
Com o país em
estado de pré-colapso, Passos Coelho tem de afinar a receita, sob pena de cair
num beco sem saída.
Já todos sabemos
que os políticos também são humanos e que governar nestas condições é
extremamente difícil. Mas poupem-nos a mais confusões entre o interesse público
e as lealdades espúrias, enfim, a mais lenha para a fogueira, a começar pelos discursos
de improviso do chefe do governo.
Os cerca de 1,2
milhões de desempregados não merecem mais tiques messiânicos e mais metáforas indigentes.
As nuvens no
horizonte estão longe de se dissipar. O annus horribilis começa em 2013. E se
não houver mudanças na governação, então que se lixe Passos Coelho.