Passos Coelho não pode continuar a massacrar os portugueses
ao mesmo tempo que poupa as clientelas e os amigos.
Os portugueses
não mereciam esta desilusão, sobretudo porque muitos acreditaram que uma nova
geração de políticos seria capaz de consolidar a mudança, de combater a
corrupção, de enfrentar o tráfico de influências, de prescindir das nomeações partidárias,
de fomentar uma cultura de rigor e exigência, de dar o exemplo de seriedade e
credibilidade e de devolver a esperança num futuro melhor.
Há limites para a
arrogância. Após a última extraordinária decisão do Tribunal Constitucional, a
declaração que deixou implícita a ameaça velada de futuros cortes nos subsídios
de férias e de Natal para o universo dos trabalhadores, públicos e privados, é
uma violação flagrante do contrato estabelecido com os portugueses durante a
campanha eleitoral.
Há limites para a
desonestidade política. As reacções dissimuladas não abafam a actuação impune de
Miguel Relvas, a guerra surda no seio do governo, as negociatas de Estado, os
tachos para os amigos e companheiros de partido, entre outras barafundas, mais ou
menos secretas, que estão a manchar a governação a um ritmo vertiginoso.
Os portugueses não
podem aceitar pacificamente mais aumentos de impostos antes do governo fazer o
que prometeu e tem de ser feito sem demora:
1. Acabar com o regabofe das fundações públicas e privadas,
cuja decisão já começa a tardar;
2. Concluir a renegociação das PPP's, mais uma vez adiada;
3. Combater a promiscuidade ao mais alto nível (por exemplo:
no conselho consultivo do Banco de Portugal têm assento personalidades com
interesse na banca privada);
4. Batalhar contra o potencial tráfico de influências entre
Estado e interesses privados (por exemplo: os mais importantes ex-ministros das
Obras Públicas são actualmente altos responsáveis das maiores empresas do
sector);
5. Moderar a prática degradante de deputados que de manhã
trabalham em empresas privadas e à tarde lideram comissões parlamentares que as
fiscalizam (por exemplo: os dois últimos presidentes da Comissão de Defesa - José
Mattos Correia e José Luís Arnaut - pertencem ao mesmo escritório de advogados,
cujo principal sócio, Rui Pena, foi ministro da Defesa);
6. Combater a corrupção ao mais alto nível e a economia
paralela, começando por fiscalizar os 13740 organismos públicos, dos quais só
1724 apresentam contas?
7. Enfrentar o triângulo formado por presidentes de câmara, promotores
imobiliários e banqueiros que são responsáveis por uma bolha que está à beira
de rebentar;
8. Romper com os oligopólios, com mais ou menos energia e
combustível, que obrigam os portugueses a mais e mais sacrifícios;
9. Extinguir entidades que só têm servido para gerar
confusão e desresponsabilização nos mais diversos sectores;
10. Reduzir os 9 mil milhões de euros de euros gastos em
juros da divida pública.
Aumentar impostos?
Ainda mais? Antes de avançar com medidas essenciais para atacar o
"monstro" que tem condenado os portugueses à miséria?
Afinal, que gente
é esta?
Já não dá para pactuar
com as falsas promessas, com as ameaças do custe o que custar, com as fugas
pelas traseiras para escapar aos protestos e com os discursos medíocres e vagos.
O diagnóstico
está feito, sobretudo por quem tem opinião livre e dispensa chafurdar na manjedoura
do Estado.
Basta começar por
rever o último programa "Negócios
da Semana", que passou na SIC Notícias, moderado por José Gomes
Ferreira.
Nunca é tarde para reconhecer os erros e ter
vergonha na cara.