O relatório
técnico do FMI é uma fotografia do país que balança entre o preço de ter que
mudar de vida à pressa e a perspectiva do abismo.
Portugal
está permanentemente nesta situação: ter de fazer opções forçadas, sem tempo
para reflectir e para poder escolher.
Os
sucessivos adiamentos das medidas difíceis, que já deviam ter sido implantadas há pelo
menos uma década, colocam o país, mais uma vez, neste dilema de ter sempre que escolher
entre o mau e o péssimo.
O cenário
não se cinge apenas às questões económicas e financeiras. Em termos políticos,
o país vive na mesma situação: o país já está farto de Pedro Passos Coelho, mas
ainda vacila em relação a eleições antecipadas.
António
José Seguro percebeu que chegou o tempo de forçar a abertura da porta a uma
clarificação: ou Pedro Passos Coelho arrepia caminho, ou o PS obrigará o
governo a enfrentar uma moção de censura no Parlamento.
As
consequências são imprevisíveis, pois o primeiro-ministro já perdeu toda a
margem de manobra depois do monumental recuo em relação à TSU; e quanto a Paulo
Portas, então nem vale a pena falar, pois, além da maçada de ter que alterar o
seu périplo pelo mundo, o líder do CDS-PP seria obrigado a revelar se está
mesmo contrariado com o rumo da governação.
O
primeiro-ministro não foi eleito para aplicar a (suposta) receita draconiana do
FMI. E só a renovação da legitimidade eleitoral lhe pode permitir avançar com
um programa de governo que, literalmente, escondeu dos portugueses.
O que está
em cima da mesa é simples: Pedro Passos Coelho sabe que é impossível, no actual
contexto social, implementar algumas das (sugeridas) medidas, que andaram a ser varridas
para debaixo do tapete por anteriores governos, desde logo porque o governo
está politicamente morto por causa dos seus erros clamorosos.
A
manutenção deste braço-de-ferro com o presidente da República, a oposição e os
portugueses não vai levar a lado nenhum. A instabilidade permanente que está a
provocar só pode resultar num ziguezaguear penoso e inconsequente, tanto mais
que a maioria está minada por dentro.
Ou
assumimos que queremos passar as passas do Algarve para rapidamente voltarmos
aos mercados financeiros, ou então adoptamos uma via menos dolorosa para
atingir o mesmo resultado a médio prazo.
É imperioso
ouvir os portugueses. E se as eleições antecipadas continuam a gerar dúvidas,
então só um referendo pode esclarecer, definitivamente, o que os portugueses
querem.
Não vale a
pena fazer de conta que mais um pacto de regime permite ultrapassar o impasse.
O tempo da
lógica do assim-assim, consubstanciado no calculismo estéril do último discurso
presidencial, sempre nas costas dos portugueses, já provocou estragos devastadores.
Esta é a
última oportunidade de corrigir o monumental equívoco de 2001, em que José Manuel
Durão Barroso foi eleito apenas por uma unha negra (2,31%), por causa de
insistir em carregar às costas a tralha cavaquista.
A violência
do discurso público não engana. O país está farto de mentirosos, incompetentes
e corruptos. E tem o direito a escolher o seu caminho, bem como os representantes
políticos com coragem de assumir as suas ideias, de decidir em prol do
interesse colectivo e livres da responsabilidade dos erros e vigarices que
fizeram regressar a miséria e a fome do passado.
Não há
que ter medo do futuro nem dos credores internacionais. A troika aguenta,
aguenta, o tempo que for necessário para o país tentar ultrapassar, mais uma
vez, o bloqueio em que continua mergulhado.
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