A súbita pressa
de uma minoria de socialistas em realizar o congresso do PS merece a maior
atenção, sobretudo porque já cheira a poder no Largo do Rato.
A
clarificação no seio da vida política e partidária é sempre um activo da
Democracia. Contudo, é preciso perceber se estamos face a um passo para
mobilizar as hostes do partido ou perante mais uma jogada telecomandada.
Para já,
ainda só estamos no terreno da especulação que tanto anima um certo jornalismo
político, sempre mais disponível para a intriga do que para escrutinar a
preparação e a substância de uma alternativa.
A urgência
revelada por alguns dos órfãos políticos de José Sócrates, que já não escondem a
ânsia pelo regresso ao poder, roça o risível. E como não existe um candidato à
liderança, com nome e rosto, nem ideias e projectos, só é possível identificar os
fantasmas que continuam a pairar sobre o PS.
Entre eles,
é preciso sublinhar, até ao momento, que nada atesta a vontade de José Sócrates
em regressar à cena política, ou até a qualquer manifestação de disponibilidade
para, a exemplo de Sílvio Berlusconi, vir a assumir a pasta da Economia,
porventura em acumulação com as Obras Públicas, num futuro governo socialista.
Também é prematuro
adivinhar, por ora, qual vai ser a próxima cartada de António Costa, seja qual
for a digestão dos almoços com Paulo Portas. O braço-direito de Sócrates, não
obstante a sua situação periclitante na Câmara de Lisboa, dificilmente cederá à
tentação de avançar, pois todos lhe reconhecem mais sensibilidade para o calculismo
de um certo aparelho do PS do que coragem política. Aliás, o abandono do barco
antes do desastre ainda está muito fresco no partido e no país.
Resta uma última
hipótese, por mais grotesca que possa parecer: a eventual preparação de uma
encenação, em que não faltará um qualquer putativo césar, somente para criar um
palco para ensaiar o regresso de José Sócrates.
Os
socialistas não ganham nada com o regresso à ribalta daqueles que falharam comprovada
e estrondosamente, os mesmos que continuam a julgar que a política se faz com
truques e o passado pode ser apagado com passes de ilusionismo.
No momento
em que o Governo de Pedro Passos Coelho já entrou numa fase sem retorno, por
mais euforia com o regresso antecipado aos mercados, o país precisa de um PS
renovado, com ideias e rostos diferentes, mais limpo e independente dos grandes
interesses e menos instalado no aparelho do Estado.
Neste
momento, o único em condições de tentar concretizar esta transformação é,
obviamente, António José Seguro, que tem revelado tolerância com outros
fantasmas do partido, acantonados no parlamento, e demonstrado motivação em
preparar, sem pressa, o regresso dos socialistas ao poder.
O debate é
positivo quando está ao serviço de uma ideia de futuro para Portugal. Mas se
tiver apenas como objectivo recuperar os fantasmas que lideraram um projecto de
poder pessoal, que quase liquidou o país e a Democracia, então a próxima
reunião magna dos socialistas só pode resultar no desastre.
No momento
em que líder do PS está a colher os primeiros frutos da sua estratégia, ainda
que o rumo traçado continue a estar inquinado pela necessidade de compromisso
com os fantasmas do passado, continua a ser evidente que só há uma via para os
socialistas reconquistarem a confiança dos portugueses: credibilidade, coesão e
auto-crítica.
A agitação
no PS mais parece uma enorme encenação com exilado de fora. Chegou o momento de
António José Seguro enfrentar os fantasmas do passado.
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