O
presidente da República abriu a porta a eleições antecipadas. E o Governo já
fez constar que pode forçar a saída se o orçamento for inconstitucional.
Ainda que
ambos recusem admiti-lo, expressamente, Aníbal Cavaco Silva e Pedro Passos
Coelho entraram num caminho sem retorno. E ainda bem!
Da esquerda
à direita, dos mais radicais aos mais moderados, todos já compreenderam que o
país voltou a saltar dos carris. Os sinais de distanciamento, quiçá de revolta,
são evidentes.
O
autoritarismo, a opacidade nos negócios de Estado e a falta de uma cultura de
responsabilização política reocuparam a cena política e a agenda mediática. A cultura
do posso, quero e mando, sustentada na mentira eleitoral e numa legitimidade
cada vez mais formal, só pode acabar na precipitação da queda do Governo.
É insustentável
manter uma governação que avança e recua, ao ritmo dos protestos e da força dos
interesses e das corporações, que impõe medidas draconianas aos mais fracos e concede
bennesses aos mais poderosos.
Os
portugueses perderam a confiança em Pedro Passos Coelho. Não há gráfico, queda
de juros, indicador financeiro e apoio internacional suficientes para disfarçar
o avolumar do desconforto interno.
Mas não há
drama. E os mercados internacionais não constituem um papão face a uma situação
de instabilidade política pontual, pois o que lhes interessa, de facto, é que o
Governo em funções seja capaz de criar as condições para poderem recuperar os
seus créditos.
Qualquer
estratégia de medo, de ameaça e de intimidação, com base no preceito
constitucional ou numa eventual reacção dos
nossos credores, seja para manter o Governo ou para o afastar, é um caminho condenado
ao fracasso.
De igual
modo, e ao mesmo tempo que tenta reequilibrar as contas públicas, o país tem de
enfrentar os seus problemas de regime. A questão constitucional não pode ser
tabu, nem alibi para justificar qualquer desaire governativo.
A partir
daqui, só há duas vias: a clarificação política ou o apodrecimento do clima
institucional, político e social.
O
surgimento de novas forças políticas é a única via para acabar com três décadas
de desvario do Bloco Central dos interesses. A fossilização do espectro
partidário só pode conduzir a um afastamento ainda maior dos portugueses, ao
aumento do nível da abstenção nas eleições, sejam elas antecipadas ou não.
O consenso
não se impõe, procura-se. E quando não é possível alcançá-lo, não estamos
perante uma fatalidade. Em democracia, não há que ter medo do mecanismo que
permite ultrapassar todos os impasses.
A questão
não pode ser determinada pela existência ou inexistência de uma maioria. Como
podemos verificar, actualmente, ela não garante o que quer que seja. Aliás, as
condições que resultaram na queda do governo minoritário de Cavaco Silva, que
lhe permitiu alcançar a primeira maioria absoluta nas eleições antecipadas de
Julho de 1987, são muito diferentes daquelas que, tudo indica, vão levar os
portugueses às urnas em 2013.
Neste momento,
o arrastamento de Pedro Passos Coelho em funções, com ou sem Miguel Relvas no
Executivo, é apenas um mero desperdício de tempo que o país não tem para perder.
O tempo da recuperação da confiança já passou.
Ou o
presidente da República arranja uma solução à italiana, encontrando o Monti
que nos tem faltado, ou o país tem de ser chamado às urnas para acabar com este
apodrecimento galopante.
A crise
está em cima da mesa. Pedro Passos Coelho falhou. E os portugueses merecem um
novo horizonte para poderem acreditar.
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