Há quem seja capaz de dizer a maior mentira sem se rir.
E até há quem também seja capaz de acreditar mesmo que a sofrer e a chorar.
Num país em que o Estado esconde, deve e fica a dever com a maior impunidade, os noticiários repetem elogios ditirâmbicos às contas públicas, omitindo o que está por debaixo do tapete e as consequências dramáticas das escolhas da governação.
António Costa não se cansa de liderar e apanhar a boleia desta propaganda orquestrada, conseguindo até não se desmanchar a rir, designadamente quando promete como prioridade para amanhã o que já era prioridade ontem.
O ministro das Finanças tem o descaramento político de reafirmar as suas contas, sem que lhe coloquem à porta do Ministério que tutela o número de caixões equivalentes ao número de pessoas que morreram por causa de falta de atendimento e de adiamento de consultas e cirurgias.
É também neste mesmo país que a incompetência de um ministro é capaz de passar despercebida mesmo que condene os reformados a esperar e a desesperar pelo pagamento da reforma ao fim de décadas de trabalho e descontos para a Segurança Social.
É o país em que nunca falta a chancela e o afecto presidencial, qual perpetuar do bailete para animar a malta.
O tal país onde não faltam cidadãos resignados e/ou entretidos com o futebol que vai começar.
Onde também não faltam instituições de controlo e uma comunicação social que já perderam a vergonha.
Onde vingam os pedinchões que aguardam a respectiva compensação pelo abafamento de uma realidade escandalosa que jamais se pode transformar numa banal breve ou numa nota de rodapé.
Portugal é, de facto, um país de contas (in) certas.
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