segunda-feira, 26 de agosto de 2019

PORTUGAL FICA MAIS POBRE QUANDO DESAPARECE


Em tempos de exibição musculada e gratuita da força do Estado, momentos há em que Portugal desaparece.

Estranho?

Não!

Os exemplos deste "apagão" são variados e revelam um padrão aterrador da forma como o Estado olha e trata os cidadãos.

Um dos que mais impressiona, entre tantos e tantos outros, é o recente caso das gémeas de 10 anos que viviam presas em garagem sem ir à escola.
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Portugal desapareceu após o Correio da Manhã revelar o impensável na segunda década do século XXI.

Onde estava o presidente da República? 

E o primeiro-ministro? 

E os ministros da Segurança Social, Justiça e Educação?

E, já agora, a procuradora-geral da República?

O silêncio escondeu-se atrás do fazer de conta, em comunicados vagos e parcas declarações avulsas.

Como é abissal a distância entre os bastidores do poder e os corredores da vida...

E, pasme-se, desde os órgãos de soberania às instituições, da direita à esquerda, todos continuam a sorrir ao sol sem o mais pequeno vislumbre de constrangimento...

Uma realidade só possível porque, como dizia Miguel Torga, «Em Portugal, as pessoas são imbecis ou por vocação, ou por coacção, ou por devoção».

Pena é, muita pena, que a Comunicação Social não leve até ao fim - nem que seja por uma vez! - o escrutínio indispensável para limpar este lixo que permite do alto da poltrona, por acção ou omissão, que uma realidade tão abjecta permaneça impune ao longo de mais de uma década.

Fait-divers?

Não!

É um exemplo, mais uma singela tragédia, com tanta ou maior importância que o caso de Tancos.

Num como no outro, Portugal fica mais pobre quando desaparece.



domingo, 18 de agosto de 2019

COSTA IGUAL E SEM SURPRESA


A lógica instrumental de António Costa já vem de longe...

Nos momentos decisivos, na JS, no PS, como número dois de Sócrates, presidente da Câmara de Lisboa e, agora, como primeiro-ministro, preferiu sempre o "eu" ao "nós".

Ai, os acordos... Quantas alianças...

O primeiro-ministro continua a fazer jus às práticas do seu ADN partidário e arranca para as legislativas de 6 de Outubro com a mesma arrogância política sustentada na propaganda, a mesma lógica instrumental reveladora da incapacidade em aprender com os erros do passado e a mesma falta de sentido de interesse nacional compensado pela visão cor-de-rosa politicamente irresponsável.

A lógica de curto prazo, a estratégia de manutenção do poder pelo poder, com mais ou menos truque de bastidor, e a indiferença aos grandes estrangulamentos e desafios que Portugal estão amplamente demonstrados, entre outros exemplos, com o reforço da vergonha dos Vistos Gold de Portas.

Aliás, que o digam os camionistas, os notários, os doentes do SNS, os reformados da Segurança Social, as vítimas dos incêndios, os professores, os enfermeiros, os médicos, os militares, os polícias, os investigadores criminais, etc...

Com a máquina da propaganda bem oleada, constituída por uma federação de interesses divergentes e até opostos mantida paulatinamente e generosamente alimentada, António Costa tem conseguido atingir os "seus" objectivos pessoais e políticos.

Foi assim para chegar ao poder, tem sido assim com a austeridade selectiva em curso, é assim com a greve dos camionistas que transportam matérias perigosas, será assim com a sua obsessão por um lugar institucional internacional.

O circo montado em relação à greve dos camionistas, sem olhar às reivindicações justas, sem controlo independente, e sem respeito pela legalidade, revela o regresso ao passado: um governo forte com os fracos e fraco com os fortes.

Resultado: os mais pobres e desfavorecidos pagam a factura, enquanto o Estado dominado pelas esquerdas continua a sustentar as elites gordurosas que cercam o governo e a classe política.

Se elegerem António Costa, pela primeira vez, para continuar liderar o governo de Portugal com as mãos livres, então os portugueses não aprenderam nada com o passado nem com o presente, ou seja, ainda teremos muito caminho para percorrer até conseguir viver em Democracia.

domingo, 11 de agosto de 2019

GREVE DOS COMBUSTÍVEIS: E O MOVIMENTO SINDICAL?


A confirmação da greve por tempo indeterminado do transporte de combustíveis é o primeiro passo para infernizar as férias dos portugueses.

Depois de sucessivos passos que agravaram o conflito, o XXI governo constitucional está sob pressão, refém de uma estratégia socialmente hostil e politicamente eleitoralista.

E nem mesmo o presidente da República pode ser a última reserva - depois da precipitação de atestar o depósito do carro.

Depois da decisão judicial que deu cobertura aos serviços máximos, alimentando as ameaças de António Costa, a verdade é que o direito à greve ficou ferido de morte.

Amanhã, uma qualquer outra greve está à mercê de governantes e da interpretação e aplicação restritiva da lei da greve.

Em suma, há políticos que olham mais para a sua imagem do que para a atitude de Estado essencial para mediar um conflito laboral.

Com a iminente requisição civil, porventura baseada em truques semelhantes aos que ocorreram na última greve dos Enfermeiros, resta saber como vai reagir o mundo sindical à bomba atómica do mundo laboral, bem como as respectivas ondas de choque a nível internacional.

Os sinais de desconforto na PSP e GNR são um alerta muito preocupante que o primeiro-ministro e o presidente da República desvalorizaram de uma forma politicamente leviana.

Aliás, ainda está por avaliar quais as consequências de um alastramento da onda de indignação entre os camionistas a outros sectores e profissões,

Também os partidos à esquerda não vão poder continuar a tentar escapar entre os pingos da chuva deste Verão especial.

E o que resta da oposição à direita não deixará de estar atenta ao sarilho em que o país está metido por força da conjugação de três factores:

1. A habitual arrogância política de António António Costa;

2. A falta de preparação de Pedro Nuno Santos para assumir uma pasta tão relevante;

3. E a já tradicional inconsequência política e institucional de Marcelo Rebelo de Sousa.

Se o que resta do movimento sindical acordar, então António Costa ficará com muito mais do que um grave problema com os camionistas.

E Marcelo Rebelo de Sousa ficará enterrado na sua torre de marfim, porventura fazendo selfies cada vez mais sozinho e a propalar as mesmas generalidades perigosas ao sabor do vento.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

GOVERNAÇÃO E BOLORENTOS


Ninguém ousaria prever que, depois de 2015, o PS voltaria a liderar um governo contestado pelo nepotismo e suspeitas de corrupção nos negócios com o Estado.

Todavia, a actualidade não deixa de nos surpreender, favorecendo a instalação de um clima pantanoso face às sucessivas notícias de familiares dos socialistas colocados no aparelho de Estado e de negócios opacos e ruinosos levados a cabo por empresas detidas por familiares de membros do XXI governo constitucional.

O ex-número dois de Sócrates, hoje primeiro-ministro de Portugal, não aprendeu nada, nem quer aprender, porque continua confortável com o estado a que isto chegou.

O debate deve levar mais longe a terapia exigível para acabar com este bailete, aliás, liderado magistralmente por Marcelo Rebelo de Sousa.

Portugal continua a ser conduzido por políticos bolorentos, muito bolorentos, incapazes de perceber que os fenómenos de nepotismo e de corrupção são civilizacionalmente inaceitáveis.

É claro que esta espécie de políticos bolorentos são legalistas, formalistas, habilidosos e lavam as mãos frequentemente ou desaparecem num ápice quando lhes convêm.

Obviamente, seguem a lei - quando não a mudam a todo o vapor -, pedem pareceres à PGR - depois de tentar controlar o Conselho Superior do Ministério Público -, mas aguardam sempre, serena e humildemente, pelo veredicto da Justiça e pelo voto nas urnas - que interpretam da forma mais conveniente.

Não, não chega para mudar Portugal.

O saque permitido por este políticos bolorentos - por acção ou omissão - custa muito dinheiro que faz falta no sector da Educação, da Saúde e da Justiça, entre outros decisivos para melhorar a vida dos portugueses.

Não, não é possível respeitar politicamente este políticos bolorentos, independentemente das convicções de cada um deles ou da aptidão para a selfie ou para o discurso politicamente hipócrita.

Não, não é admissível continuar a assistir a esta governação bolorenta.

Talvez seja desta, talvez, nas próximas eleições legislativas de 6 de Outubro, que a lucidez dos portugueses permita enviar esta espécie de políticos bolorentos para a reforma... 

Ainda que sabendo que terão de lhes pagar reformas douradas!