É cada vez mais evidente a geometria variável da governação.
O que é hoje verdade, amanhã é mentira, correndo o risco de voltar a ser verdade no dia a seguir e assim sucessivamente.
É tão assim em relação à pandemia, como aos princípios que orientam o regime democrático.
O discurso "pragmático" de António Costa em relação a Viktor Orbán até pode fazer sorrir alguns, mas envergonha um país inteiro.
E, para selar o impasse, só faltava mesmo o próprio líder do maior partido de oposição também estar de acordo que os tempos não são para exigência e respeito pelo Estado de Direito.
A "confissão" do primeiro-ministro revela um padrão de governação que nos tem atirado para um beco sem saída, pontualmente resolvido pelo Norte de uma União Europeia farta da pedinchice, corrupção e impunidade que têm minado os países do Sul.
Afinal, tudo se resume à flexibilidade da coluna vertebral, enfim, à geometria variável.
Vitória! – gritam eles –, quando chover mais um pouco de dinheiro.
Para trás, a governação e o discurso político erráticos que só podem dar origem a comportamentos diversos, casuísticos e oportunistas.
Aliás, não é por acaso que Marcelo Rebelo de Sousa ocupa a cadeira de Belém...
Não admira, portanto, que António Costa se aproxime do discurso de Bolsonaro e Trump – temos mais casos Covid porque fazemos mais testes ou ainda a economia não pode parar.
Não há problema: fazemos de conta também que o Estado zela melhor pela nossa Saúde do que nós próprios.
Entretanto, existem milhares de portugueses sem opção nem protecção, pois têm de trabalhar para poder comer, correndo o risco de contrair o vírus apenas porque têm de utilizar os transportes públicos.
Mas há sempre uma solução criativa à medida: arregimentar um qualquer cientista ao serviço para demonstrar, com um estudo mal amanhado, que não há prova científica da relação propagação/transportes apinhados.
Também é assim em relação a tudo o resto, desde a Saúde ao SNS, desde a Justiça aos tribunais, desde a Educação às escolas, desde a Economia aos grandes projectos...
O recurso à geometria variável, com a Constituição na gaveta e tocando a bola em frente, é apenas o déjà vu, mais do mesmo.
Assim, de fait divers em "narrativa", lá vamos ignorando eleições e propostas, desconfiando dos políticos e regime democrático, empobrecendo cada vez mais, rumo a mais e mais miséria.
Perante a maior crise de sempre, a solução está sempre na geometria variável, sempre nas mãos dos outros.
O país e os portugueses continuam perdidos no seu próprio labirinto de contradições.
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