Em Janeiro passado, o país foi sacudido pela notícia da vigilância a dois jornalistas a mando do Ministério Público.
Dois meses depois, o Conselho Superior de Magistratura, com dois votos contra (Maria João Antunes e José Manuel Mesquita), arquivou a investigação aberta às duas mandantes, Andrea Marques e Fernanda Pego, procuradoras do DIAP de Lisboa.
Agora, sabemos: dois jornalistas são acusados de violação de segredo de justiça; e Pedro Miguel Fonseca, coordenador da PJ, foi acusado de abuso de poder, violação de segredo de justiça e falsidade de testemunho.
Temos de passar a admitir o que alguns já sabiam há muitos anos: os jornalistas deixaram de ter condições para garantir a confidencialidade das suas fontes, ou seja, não podem exercer a sua profissão com liberdade e rigor.
A missão está cumprida para este tipo de "vigilantes" do regime, e certamente será premiada na primeira oportunidade, tal e qual como outros foram parar aos "cheques carecas" por investigarem o que não convinha ao poder político.
Surpresa?
Nenhuma, basta lembrar Assange Manning e Snowden.
E Rui Pinto?
Isso é uma conversa que ainda não terminou.
Felizmente, o que todos ficámos a saber da "Operação Lex", "e-Toupeira" e "emails do Benfica", notícias de inquestionável interesse público, continua publicado para quem quiser ler.
E provar que um encontro casual serviu para passar informação protegida pelo segredo de justiça é matéria delirante que se deixa para os tribunais, porque lhes caberá julgar.
Mas perseguir um crime à custa de um outro crime é seguramente uma cobardia revoltante.
Aparentemente, já não são precisos reformados, polícias que se confundem com assaltantes e agentes secretos, sobretudo depois do último "trabalhinho" de escutas ilegais ter corrido mal.
Agora, nesta Democracia de todas as esquerdas, a liberdade de imprensa é perseguida às claras.
E o que fazem presidente e primeiro-ministro?
Telefonam, tomam posição, criticam?
Não, calam!
A eleição de alvos individuais já não é suficiente.
À cautela todos passam a levar com o que resta desta Justiça cada vez mais injusta.
E, quando se esperava uma censura firme, eis que o insulto público é apenas "suscetível" de constituir uma ameaça.
Entretanto, agora como no passado, as empresas de comunicação social, de joelhos em relação ao Estado, lá vão despedindo, liquidando a informação e até dando uma no cravo outra na ferradura quando agridem os jornalistas.
A tese de que vale tudo quando a imprensa chega perto e incomoda, sobretudo quando estão em causa os podres do Estado, está a ser validada no dia-a-dia, mesmo à nossa frente.
Ainda não mandam matar jornalistas, só lhes batem e humilham, mas ficaremos por aqui?
A porta passou a estar aberta para jornalistas curiosos em relação a outros encontros, desde que, obviamente, ocorram na esquina da rua, na soleira do escritório, em frente a um prédio.
Ainda vamos ter de voltar a engolir papel, enquanto os filmes vão passando.
P. S. O comunicado da direcção de informação da RTP é uma excepção à regra por ser exemplar.
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