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segunda-feira, 10 de maio de 2021

AGORA É ÀS CLARAS


Em Janeiro passado, o país foi sacudido pela notícia da vigilância a dois jornalistas a mando do Ministério Público.

Dois meses depois, o Conselho Superior de Magistratura, com dois votos contra (Maria João Antunes e José Manuel Mesquita), arquivou a investigação aberta às duas mandantes, Andrea Marques e Fernanda Pego, procuradoras do DIAP de Lisboa.

Agora, sabemos: dois jornalistas são acusados de violação de segredo de justiça; e Pedro Miguel Fonseca, coordenador da PJ, foi acusado de abuso de poder, violação de segredo de justiça e falsidade de testemunho.

Temos de passar a admitir o que alguns já sabiam há muitos anos: os jornalistas deixaram de ter condições para garantir a confidencialidade das suas fontes, ou seja, não podem exercer a sua profissão com liberdade e rigor.

A missão está cumprida para este tipo de "vigilantes" do regime, e certamente será premiada na primeira oportunidade, tal e qual como outros foram parar aos "cheques carecas" por investigarem o que não convinha ao poder político.

Surpresa?

Nenhuma, basta lembrar Assange Manning e Snowden.

E Rui Pinto?

Isso é uma conversa que ainda não terminou.

Felizmente, o que todos ficámos a saber da "Operação Lex", "e-Toupeira" e "emails do Benfica", notícias de inquestionável interesse público, continua publicado para quem quiser ler.

E provar que um encontro casual serviu para passar informação protegida pelo segredo de justiça é matéria delirante que se deixa para os tribunais, porque lhes caberá julgar.

Mas perseguir um crime à custa de um outro crime é seguramente uma cobardia revoltante.

Aparentemente, já não são precisos reformados, polícias que se confundem com assaltantes e agentes secretos, sobretudo depois do último "trabalhinho" de escutas ilegais ter corrido mal.

Agora, nesta Democracia de todas as esquerdas, a liberdade de imprensa é perseguida às claras.

E o que fazem presidente e primeiro-ministro?

Telefonam, tomam posição, criticam?

Não, calam!

A eleição de alvos individuais já não é suficiente.

À cautela todos passam a levar com o que resta desta Justiça cada vez mais injusta.

E, quando se esperava uma censura firme, eis que o insulto público é apenas "suscetível" de constituir uma ameaça.

Entretanto, agora como no passado, as empresas de comunicação social, de joelhos em relação ao Estado, lá vão despedindo, liquidando a informação e até dando uma no cravo outra na ferradura quando agridem os jornalistas.

A tese de que vale tudo quando a imprensa chega perto e incomoda, sobretudo quando estão em causa os podres do Estado, está a ser validada no dia-a-dia, mesmo à nossa frente.

Ainda não mandam matar jornalistas, só lhes batem e humilham, mas ficaremos por aqui?

A porta passou a estar aberta para jornalistas curiosos em relação a outros encontros, desde que, obviamente, ocorram na esquina da rua, na soleira do escritório, em frente a um prédio.

Ainda vamos ter de voltar a engolir papel, enquanto os filmes vão passando.

P. S. O comunicado da direcção de informação da RTP é uma excepção à regra por ser exemplar.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

E TANTO “CAPO” POR AÍ


Há um Portugal que ainda considera que ameaças, caneladas, chapadas, empurrões, insultos e humilhações não é nada de mais.

Afinal, a agressão ainda é para alguns, seja no recato do lar ou à porta de um estádio de futebol, coisa que só importa se for um espancamento brutal ou um homicídio.

É o mundo de Pinto da Costa.

E de uns poucos meliantes que se passeiam pelos corredores do poder e do regime, com direito a passadeira vermelha na comunicação social.

O seu sucesso tem sido alcançado à custa da conivência ao mais alto nível, desde uma parte da justiça aos órgãos de soberania.

O silêncio de Marcelo e Costa, após a investida miserável contra Francisco Ferreira, jornalista, diz tudo sobre o deliberado apagão institucional e político.

E a ausência de um comunicado clarificador da PGR, colocando um ponto final no branqueamento esboçado, até por quem menos se esperava, é apenas uma lamentável colateral da captura do Estado.

Das imagens que correram o mundo, colocando o futebol português abaixo do lixo, só falta destacar um instante, aquele último olhar, no derradeiro segundo, que anuncia a barbárie.

Imediatamente, recordei o olhar de que falava Antonio Di Pietro, entre outros, para caracterizar o modus operandi da máfia para corromper, extorquir, intimidar e liquidar: a ordem silenciosa, mais uma prova indirecta...

Na Itália da "Operação Mãos Limpas" também reinavam um presidente qualquer, a Democracia Cristã, o Partido Socialista, o Partido Social-Democrata e o Partido Liberal.

Passados 29 anos e tanto "capo" por aí.

Não, não é preciso recordar o "Apito Dourado", as machadadas por um punhado de terra ou o súbito "despertar" para a realidade mafiosa de todos conhecida há muito tempo em Odemira e por esse país fora.

Faz falta enfrentar os cúmplices das mãos nos bolsos, da dissimulação do tom de voz, da participação em qualquer acto vil e soez.

Afinal, cada português ser Portugal é apenas para entreter a malta.