terça-feira, 29 de abril de 2025

A MAIOR CRISE DESDE O 25 DE ABRIL



Num momento em que a situação é ímpar, o apagão foi um mau augúrio.

Confirma-se: as investigações lideradas pelo Ministério Público não embaraçam Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos na véspera do início da campanha eleitoral.

A instabilidade está à mercê de um qualquer sobressalto judicial, antes ou depois das eleições antecipadas de 18 de Maio próximo.

A extravagância em que o regime vive é ainda mais vincada se forem levadas em conta outras investigações, designadamente no âmbito do caso do Hospital Santa Maria (gémeas).

O estrangulamento em que os partidos políticos enclausuraram a governação é também um muro reconfirmado.

A Iniciativa Liberal enquistou à direita, tal como o PSD e CDS/PP, recusando qualquer solução com o Chega.

Por sua vez, André Ventura confirma a devolução do veto político ao líder do PSD.

Seja qual for o resultado dos debates, se Luís Montenegro ganhar novamente à tangente, incapaz de fazer maioria à direita, então estaremos perante a maior crise desde o 25 de Abril.

Sem a reviravolta de uma maioria absoluta, resta apenas Pedro Nuno Santos, o único capaz de desbloquear o impasse, pois mantém condições para um acordo alargado à esquerda.

Com os representantes institucionais de rastos, com o voto útil estafado e com a ameaça da abstenção, a próxima legislatura está à partida condenada a imprevisíveis desassossegos.

A eleição de Miguel Albuquerque, depois de constituído arguido por corrupção na Madeira, foi muito mais do que uma nota de rodapé do presente inquinado.

Os sinais inequívocos de esgotamento são impossíveis de esconder, como comprovou a detenção e a prisão de Rui Fonseca e Castro, líder de um partido político legalizado pelo Tribunal Constitucional, no dia grande da liberdade.

É tempo de reflectir, de escolher e de refundar, desde logo fazendo o balanço dos desastrosos mandatos de Marcelo Rebelo de Sousa, tanto mais que a próxima eleição presidencial de 2026 surge para já como o único vislumbre de esperança.

segunda-feira, 21 de abril de 2025

O MEDO É O INIMIGO


Nem mesmo a morte do Papa Francisco e a proximidade das eleições de 18 de Maio parecem fazer acordar as direcções editoriais, sendo que a imprensa escrita lá vai cumprindo como pode os mínimos.

Os grandes temas que preocupam os portugueses têm de ser objecto da maior e melhor informação possíveis, não na óptica da justificação servil ou da sonegação de dados (vide SNS), antes na perspectiva de um exame oportuno e rigoroso.

Quem procura as TV’s de notícias para melhor se informar por vezes até fica convencido que está nos Estados Unidos da América, tal é a obsessão revelada com Donald Trump, entre outros.

O olhar atento sobre o internacional é uma das boas características da comunicação social portuguesa, mas usá-lo para melhor fugir ao escrutínio da realidade dos portugueses é simplesmente medíocre.

Usar a actualidade distante para fugir à realidade mais próxima, ao escrutínio que incomoda o poder e os poderosos que estão mais perto, apenas serve para cavar um maior distanciamento.

A poucas semanas de novas eleições antecipadas há tanto por escrutinar que urge não perder tempo, nem enterrar a cabeça nas areias dos desertos longínquos, sabendo de antemão que a notícia não rima com a perfeição.

É exigível a máxima atenção aos problemas, às necessidades e aos anseios da sociedade, obrigando os políticos a dar respostas, expondo as suas repetidas mentiras.

Não basta multiplicar debates e opiniões para cumprir a liberdade de imprensa.

São precisas mais notícias limpas em quantidade e qualidade, com critérios de objectividade, imparcialidade e transparência, e menos faits divers bacocos ou esdrúxulos.

É com informação profissional que também se combate a abstenção, porque o medo é o inimigo da informação.

É assim, tal e qual o Ministério Público demonstrou, com a revelação da averiguação preventiva a Pedro Nuno Santos, que o regime democrático sai reforçado.

Que o exemplo de coragem do Papa Francisco – denúncia do arbítrio e da injustiça –, não obstante todas as contradições, seja uma renovada inspiração. 

Não é moral, é liberdade, racionalidade e civilização.


segunda-feira, 14 de abril de 2025

MEDIA: RUMO AO ABISMO


Os debates de 30 minutos nas TV’s de informação têm sido uma enorme desilusão. 

Ainda assim têm sido úteis, mesmo que os temas que mais preocupam portugueses estejam a ser abafados  

Por que será?

A explicação ainda não foi dada, mas das duas uma: ou é mais um frete ao PS e ao PSD ou então é o alheamento da realidade. 

O mais curioso é que a cartilha tem sido seguida, religiosamente, pela CNN Portugal, RTP 3 e SIC Notícias. 

Sendo pouco provável que as respectivas direções editoriais tenham sido acometidas de uma amnésia selectiva, importa perguntar: o que se passa?

De facto, apenas Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos têm interesse em varrer a saúde, a corrupção, a segurança e a educação para debaixo do tapete. 

A comunicação social está perigosamente distante de critérios limpos e transparentes, basta atentar à multiplicação de comentadores candidatos às presidenciais.

É um mau serviço público, um desvio desnecessário, que terá uma factura pesada mais tarde ou mais cedo.

Não é por acaso que os cidadãos procuram as redes sociais para se informarem, apesar do anátema sobre os algoritmos  

Não perceber que a manipulação é sempre um mau serviço público, seja no digital ou nos Media tradicionais, é um passo rumo ao abismo.

segunda-feira, 7 de abril de 2025

PS E PSD: DA SUSPEITA AO COLAPSO

 

Nas cinco décadas de alternância democrática, os sucessivos desaires da governação e os múltiplos casos de corrupção minaram a confiança de cidadãos, simpatizantes e até militantes.

As actuais lideranças de Luís Montenegro e de Pedro Nuno Santos agravaram consideravelmente o maior problema do regime político.

A vida empresarial do primeiro-ministro e a mais recente suspeita sobre o seu envolvimento na maior obra pública adjudicada até hoje pela Câmara de Espinho não podem ser ignoradas.

De igual modo, outras suspeitas que recaem sobre Pedro Nuno Santos, entre as quais a misteriosa indemnização à la carte a David Neelman na TAP, são igualmente inquietantes.

O apodrecimento da vida política tem vindo a ser acelerado pelas máquinas partidárias que continuam a ignorar os mais elementares critérios no momento da escolha dos seus líderes.

Com a sequência de eleições antecipadas, os portugueses enfrentam um terrível dilema: ao repetir o padrão da votação passada ficam à mercê do resultado da investigação judicial de vários casos que são públicos.

Pela primeira vez, seja qual for o resultado, maioria simples ou absoluta, coligação à direita ou à esquerda, a próxima legislatura de quatro anos não está garantida.

A alternativa à disposição dos eleitores é a abstenção ou o voto nos extremos, pelo que o descontentamento e a radicalização podem baralhar os resultados eleitorais.

O arranque dos debates, e depois das sondagens vendidas pelos Media tradicionais, apesar de taxas de resposta de apenas 20 a 30%, parece ser insuficiente para disfarçar o mal-estar generalizado.

Se os partidos políticos são essenciais em democracia, PS e PSD estão face a um dos maiores e mais difíceis desafios no próximo acto eleitoral de 18 de Maio.

Num momento em que está em curso uma nova ordem mundial, o colapso do tradicional cenário partidário nunca esteve tão perto de ser concretizado.