Com o governo descredibilizado, contestado pela direita e pela
esquerda, minado por ambições mesquinhas e envolvido em negociatas que estão a
ser investigadas pelo Ministério Público, o país entrou numa das páginas mais
importantes da sua História.
Pedro Passos Coelho, com um ano e meio de atraso, relançou o
debate da revisão constitucional, condição sine
qua non para o país poder sair do pântano em que está mergulhado e
libertar-se dos grilhões impostos pelos credores externos.
Infelizmente, a dramática hesitação do primeiro-ministro – para
não começar já a chamar-lhe cobardia política – durou demasiado tempo,
comprovando que lidera um governo que é mais do mesmo, manifestando incapacidade
para estimular uma verdadeira mudança de paradigma e para enfrentar os poderes
fátuos que continuam a atirar o país para a miséria.
O primeiro-ministro perdeu o timing.
Já não tem força e credibilidade para liderar nas melhores condições uma
revisão constitucional. Os erros cometidos, alguns deles inexplicáveis,
fizeram-no refém das amarras que prometeu quebrar. Tal como no passado, o
sistema está a vencer, o regime continua a encher a boca com o discurso do
Estado Social ao mesmo tempo que promove um capitalismo selvagem para continuar
a encher os bolsos dos mais poderosos.
Só um milagre pode salvar Pedro Passos Coelho.
E não há alternativa? Não! O líder do PS deixou-se também acorrentar
pelos defensores do regresso ao poder a todo o custo, assumindo todo o tipo de
demagogias, que mais parecem infantilidades irresponsáveis.
De um lado, os falsos profetas que prometeram a mudança; do outro,
os vendilhões do templo que nunca se preocuparam com os idosos que obrigaram a
ter de andar quilómetros para ir ao médico, com os pensionistas a quem diminuíram
e congelaram as pensões, com as centenas de milhares de portugueses que
atiraram para o desemprego, entre outras inconstitucionalidades pelas quais, do
alto da sua arrogância, ainda nem sequer pediram desculpa aos portugueses.
É este trágico impasse que justifica a onda de pessimismo que está
a varrer o país de norte a sul, não são os sacrifícios que estão a liquidar a
esperança.
Neste cenário medonho só faltava mais uma desgraça: o súbito
despertar dos juízes do Tribunal Constitucional para o Estado de Direito,
depois de terem ignorado, durante anos a fio, todos os atropelos ao texto
constitucional.
Para quem tivesse dúvidas sobre o papel dos juízes deste tribunal
político, no momento em que a crise lhes tocou no bolso, basta verificar a
manhosice da extraordinária decisão que considerou ilegais os cortes na função
pública.
Nesta roda-viva de falsidades e fatuidades, que alimentam o tráfico de
influências, a corrupção institucionalizada e o descaramento de quem conta com
a ignorância do povo para melhor o continuar a enganar, ainda há quem acredite que
está a ser travada uma guerra sem quartel
entre os que querem liquidar o Estado Social e os que o querem defender.
Não tenhamos ilusões: o Estado Social foi ferido de morte pela
governação de José Sócrates e restantes apaniguados. E para remediar este
crime-político vai ser preciso mudar de vida, rapidamente, pelo que não vale a
pena perder tempo com os discursos dos falsos profetas e dos vendilhões do templo.
Chegou a hora de salvar o essencial!
Resta saber quem vai conseguir fazê-lo, pois com este governo e
com este PS é, infelizmente, cada vez mais evidente que não vamos lá.