O fim do programa de ajustamento
foi um feito, desde logo por ter sido cumprido com paz social.
Por ressabiamento ou qualquer
outro tipo de venalidade, nenhuma vozearia o conseguiu impedir, nem mesmo
depois de tentar demagogicamente tirar partido da violência dos sacrifícios
impostos.
Portugal encerrou mais um
capítulo triste da sua vida colectiva, o terceiro em 40 anos de democracia,
sempre pela mão do PS, que nos conduziu à perda de soberania e ao abismo.
Também é, por isso, uma lição
para todos os que sucumbiram às promessas de facilidade, optaram pela ilusão do
facilitismo e toleraram a corrupção que assaltou o Estado.
Com a saída formal da Troika, apesar
da acção política irresponsável de uma certa ala do PS, os dois líderes da
maioria ganharam, mas ainda não podem cantar vitória.
O país carece de uma verdadeira mudança, desde logo em relação ao
Estado tentacular, ao desperdício impune e aos fumos de corrupção que continuam
a pairar sobre os negócios de Estado.
A recuperação da soberania não é
um feito por si só, desde logo porque o programa de ajustamento foi uma oportunidade
perdida para lutar contra corrupção, como assinalou a Associação Cívica
Transparência e Integridade.
É preciso muito mais do que
equilibrar as contas públicas até ao final do mandato, em 2015, ainda que a redução
do défice público tenha sido a prioridade das prioridades por razões tão óbvias
que qualquer pessoa racional e de boa fé as entende.
O XIX governo constitucional tem
de merecer os impostos brutais que exigiu aos portugueses, pelo que tem de
passar a ser escrutinado de uma forma rigorosa, pois acabou o tempo das
desculpas com o passado, da excepcionalidade e das limitações impostas pelos
credores estrangeiros.
As taxas de juro desceram a um
nível surpreendente e o diagnóstico está feito e refeito. Ultrapassada a
situação de emergência, só falta coragem para fazer o que tem de ser feito.
A partir de agora, o país tem concentrar
os seus escassos recursos no crescimento económico e na consolidação de um
Estado Social que proteja, efectivamente, os mais pobres.
Não é possível pedir mais a quem
trabalha e a quem vive de uma reforma obtida ao fim de uma vida de trabalho.
Por mais manipulação e
demagogia, seja através dos instrumentos do Estado ou de órgãos de comunicação
social controlados por clientelas e sabe Deus por quem mais, por mais táctica e
estratégia, com recurso aos lobistas do costume ou aos aparelhos partidários, chegou
a hora de poupar no desperdício impune, tantas e tantas vezes maquinado através
de cumplicidades espúrias.
Para não serem confundidos com
outros, que sempre tiveram o povo na boca e os negócios no bolso, Pedro Passos
Coelho e Paulo Portas têm de aproveitar o ténue clima de esperança para governar
para todos os portugueses em vez de continuar a permitir que uma gigantesca
nebulosa continue a sustentar, à custa dos contribuintes, os grandes barões da
política e dos negócios.
Nestes momentos, seja qual for a
área de responsabilidade ou de actividade, não pode haver hesitações: ou se
envereda pelo respeito da transparência e solidariedade, ou se fica do lado da
subserviência e do oportunismo.
Se o dia 17 de Maio marca o
enterro político de José Sócrates e de uma certa esquerda desacreditada, hoje
também é o primeiro dia de um árduo caminho que vai determinar se Pedro Passos
Coelho e Paulo Portas conseguirão escapar ao pequeno pé de página repleto de tantos
e tantos que falharam estrondosamente.