O exercício do poder não pode ser a mera combinação da aparência e da legalidade formal.
Tanto no processo Selminho como na alienação do palacete da avenida Montevideu, no Porto, o mínimo que se pode dizer é que Rui Moreira é uma tremenda desilusão cívica e política.
Se em relação ao primeiro caso estamos conversados e mais do que conversados, em relação ao palacete da Foz do Douro, de que Rui Moreira era proprietário com os seus irmãos, o presidente da Câmara do Porto, em exercício de funções, não deveria ter feito o negócio de uma forma opaca.
Tanto mais que teve que envolver a autarquia, tendo em conta que vai dar lugar a um hotel de luxo e sabe Deus que mais.
Rui Moreira não se pode esconder na formalidade, aliás, como no caso da Selminho, de que o assunto foi tratado pelos serviços da autarquia.
E, mesmo numa perspectiva benevolente, se assim o aceitássemos, obviamente que o deveria ter feito com toda a transparência, comprovando que se distingue do sistema sustentado pelos partidos políticos tradicionais de quem diz querer distância, aliás, propósito que chegámos a acreditar ter sido a razão fundamental para ter abraçado a nobre missão de serviço público que é a política e o exercício de funções públicas.
Confesso: Rui Moreira prometia muito mais do que Fernando Medina.
Os negócios efectuados com contratos de confidencialidade até podem ser legais, mas estão vedados – ou deveriam estar, numa Democracia digna desse nome –, a quem exerce cargos públicos pelas mais óbvias razões.
E já nem é preciso falar das árvores centenárias, certamente acometidas de súbita doença fulminante.
De facto, não é igual vender uma propriedade a um empresário como Belmiro de Azevedo, ou a um qualquer “PEP” (Politically Exposed Person), ou "Pessoa Politicamente Exposta", nos termos da definição da FATF (Financial Action Task Force), que é uma organização inter-governamental cujos objectivos são estabelecer padrões e promover a aplicação efectiva das medidas legais, regulamentares e operacionais para combater o branqueamento de capitais, entre outros, de que Portugal é membro desde 1991.
Sejam eles, por exemplo, eventualmente, Sindika Dokolo ou Isabel dos Santos.
Se não há crimes perfeitos, também não há segredos acima de qualquer escrutínio.
Como dizia George Orwell, «quando se chega à mesa de voto, não se encontram homens de pistola na mão dizendo-nos como votar».
Ora, precisamente, eis a razão porque não voto Rui Moreira, pois a transparência que tanto prometeu está ferida de morte, independentemente de quaisquer interesses, dos dele, dos meus ou dos de terceiros.