Com a missão específica de coordenar a recuperação económica, com o dinheiro de Bruxelas que ainda não chegou e com a crise da COVID-19 ainda por debelar, o curriculum vitae e as primeiras declarações de António Costa e Silva são inquietantes.
O mais recente espécimen da nova casta que gravita à volta do primeiro-ministro, apesar de imediatamente endeusado pela maioria da imprensa, é uma escolha mais do que duvidosa.
Mesmo sendo pro bono!
Ser CEO da Partex, a petrolífera que foi controlada pela Fundação Calouste Gulbenkian, depois de passar pela Sonangol, não é o melhor cartão de visita para tão espinhosa missão de salvar Portugal do anémico crescimento de décadas e das garras da maior crise de que há memória.
A opacidade e até secretismo do negócio do petróleo e a transacção com os tailandeses da PTTEP, sem esquecer a extraordinária "aventura" socialista da La Seda, também não devem deixar ninguém tranquilo.
De igual forma, ter o atrevimento de anunciar que fez um plano para dez anos em dois dias também não é a mais credibilizadora mensagem aos olhos dos cidadãos.
A lista de prioridades anunciadas também não: estradas, portos, energia e PME's.
Mais do mesmo...
O mais grave ainda é que, com o "milagre" anunciado pelo presidente da República a desmoronar, António Costa e Silva declarou que também quer um «investimento emblemático» no Serviço Nacional de Saúde.
Emblemático?
Mas, afinal, o que pretende o novo "conselheiro" de António Costa?
Uma pintura da fachada do "edifício" do SNS?
A sucessão de banalidades impressiona, mas a mais perigosa é defender a falsidade política que «esta crise mostrou que o papel do Estado tem de ser revalorizado».
A crise ainda está aqui, presente e avassaladora, estando longe de ter ficado demonstrado que a intervenção do Estado resolveu ou foi suficiente para o que quer que seja.
Fica a doutrinação gasta, aliás desmentida pelos anos e anos de desvario estratégico que nos conduziram a um subdesenvolvimento crónico e a uma dívida gigantesca que condiciona o futuro das próximas gerações.
Só faltava mesmo o ramalhete de quem também acredita que é no mercado e nas empresas que está o «cerne da resposta».
No meio de tempos tão conturbados, cujas consequências ainda só agora começam a ser ligeiramente visíveis, este "arranque" em direcção ao futuro impressiona pela vacuidade e sinais contraditórios.
Bem fez o líder do PAN, o primeiro a dar uma nota dissonante nesta "curta" fantástica, ao anunciar que não tem nada a falar com o "homem do petronegócio".