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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

NA MELHOR MÁSCARA CAI O MEDO


O primeiro-ministro e o presidente da República vivem dias politicamente devastadores muito por força da oposição e da sociedade civil.

O Bloco de Esquerda escancara as mentiras políticas do governo, designadamente quanto ao número de profissionais de saúde contratados e à dotação financeira para o SNS em 2021, através de Mariana Mortágua e Francisco Louçã.

Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Médicos lança um alerta lancinante denunciando a falta de preparação do SNS para acorrer à segunda fase da pandemia

Face a este enorme aperto, António Costa tira da cartola um alibi para disfarçar o falhanço, dando "encosto" ao presidente da República para ambos poderem alijar responsabilidades.

E então lança a bomba atómica mediática: a obrigatoriedade da instalação e utilização da aplicação StayAway Covid, sujeita a multa e vigilância policial.

Costa conseguiu desviar as atenções do Orçamento do Estado 2021 e ainda da arrasadora carta aberta de Manuel Guimarães Pinto, que também foi assinada por mais cinco ex-bastonários, com sensibilidades políticas diferentes.

E não contente com a "façanha" autoritária elevou o tom da ameaça, redobrada com o habitual eco presidencial, sem garantir um SNS preparado, sem atender às exigências dos lares de idosos e sem fazer face aos transportes públicos apinhados, apenas arriscando a política do medo.

Mas a cumplicidade entre ambos foi ainda mais longe.

No momento em que a propaganda do governo sobre o SNS veio abaixo com estrondo, o presidente da República correu a dar conhecimento de conversações com os privados do sector para tapar os buracos que até então nunca havia visto.

Exigência? 

Não.

Escrutínio?

Nada.

Branqueamento?

Sim, como tem sido costumeiro.

Se o padrão de António Costa é há muito conhecido, o bailete de o presidente da República, agora sob a forma inopinada de dedo esticado contra os cidadãos, faz lembrar o triste fado da ditadura.

E, quando era esperado estudo, competência, responsabilização e clareza, sobrou a boçalidade da aposta no "pleno" da ameaça, comprovando o "arranjinho" entre ambos, mesmo quando estão em causa os direitos constitucionais.

Mas com esta espécie de acção política "moderna" tudo muda num ápice, o sim e o seu contrário, mais irrevogável menos fantasia.

Face à enorme tensão, resultante do insano esticar da corda, Costa recua e dá o dito por não dito, e Marcelo faz-de-conta, auscultando meio mundo, como se tivesse chegado a Belém há um mês e picos, mais semana menos semana, com o spin de fazer em 15 dias o que não foi feito em sete meses.

Depois de falhada a estratégia da intimidação  e tal como em Março, quando foi declarado o Estado de Emergência com um atraso ainda por explicar , o presidente demorou vários meses para descobrir a propaganda na política de saúde.

E, aliás, falta ainda saber nesta tragédia de sombras e incúrias se estamos a tratar das mortes pela Covid ou do número muito superior de mortes a mais por explicar.

À medida que as presidenciais se aproximam, a colagem politica entre presidência e governo gera uma inquietante dúvida: o presidente da República está a apoiar e a poupar o primeiro-ministro, sacrificando os interesses dos cidadãos aos seus interesses pessoais?

É que Marcelo tudo tem admitido, tolerado e feito, desesperadamente, para não colocar em risco o apoio de António Costa e do PS, mesmo quando estão em cima da mesa os mais altos valores da cidadania e vida humana.

O país quer mais médicos, mais enfermeiros, mais comboios, mais competência, mais informação e mais confiança, não precisa de folclore, paternalismo, bafio, polícia, multa, medo e suspensão da Democracia.

O que por aí vem, nos próximos tempos, exige uma presidência com mais noção do dever e da responsabilidade do que de piruetas e cálculo particular.

É que a pandemia continua a alastrar vertiginosamente e o número de mortos a crescer.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

HÁ MAIS VIDA PARA ALÉM DA COVID


Entrámos em pânico com o actual surto pandémico, mas temos conseguido conviver, mais ou menos pacificamente, com outras pandemias que se passam, diariamente, mesmo à frente dos nossos olhos, nas mais diversas latitudes.

Se o "vírus da China" regista números galopantes, tal como outros flagelos da história da Humanidade – Peste Negra, Varíola, Cólera, Gripe Espanhola e Gripe Suína –, os mortos registados não se comparam com as vítimas da fome, guerra, droga e exploração de seres humanos.

À medida que o cresce o drama – sanitário, social e económico –, transformado num "espectáculo" de cores dantescas, quase ignoramos o significado da atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2020 ao "Programa Alimentar Mundial", das Nações Unidas, esquecendo que a maior agência humanitária do mundo fornece, anualmente, em média, alimentos a 90 milhões de pessoas em 80 países, incluindo 58 milhões de crianças.

É preciso afirmar que há mais vida para além da Covid.

Desde o Estado a cada um de nós, agora, tal como amanhã, urge cuidar das pessoas com seriedade, rigor e humanidade.

A forma como temos de enfrentar esta catástrofe não pode estar cingida ao folclore da condecoração tardia nem da visita a mais um sem-abrigo para as câmaras de televisão.

Não pode valer tudo...

Oito meses depois de conhecida a Covid, e após muita propaganda obscena, temos de conhecer o verdadeiro impacte de decisões políticas, como o shut down que aconteceu nalguns países em contraponto com decisões frias e polémicas de enfrentar o "bicho" de frente.

Também temos o direito a saber se estamos preparados para enfrentar mais uma vaga de infecções e mortes.

Falta um balanço, sem ideologias nem argumentos fanáticos, porque as mortes causadas pela crise económica e social vão ficar na nossa memória de uma forma muito mais impressiva do que aquelas que resultarem da Covid.

Paradoxalmente, de um momento para o outro, percebemos brutalmente que, afinal, o brilho das multinacionais, autoestradas e pontes não se compara à luz da esperança resultante da construção de hospitais, escolas e tribunais.

Entretanto, chegou o tempo de mais um Orçamento de Estado, porventura mais uma oportunidade tragicamente perdida.

Vivemos momentos únicos.

Apesar da nossa continuada incapacidade de distinguir entre o importante e o mero instrumental, talvez a realidade da vida se sobreponha à ficção dos grandes "feitos" dos interesses ocultos.

Se assim for, as mortes e as perdas provocadas por todas estas pandemias não serão em vão.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

PANDEMIA: "BOMBAS" AO RETARDADOR



Continuamos a sorrir ainda que sabendo que em todo o mundo morreram 52 milhões de pessoas de fome ou de doenças causadas pela fome em 2019.

Hoje, ninguém se atreverá a adiantar como acabaremos em 2020 e nos anos seguintes.

Certeza só há uma: para mantermos o way of life, os governantes não podem continuar cinicamente a fazer de conta que não conhecem as condições de vida dos mais pobres e dos trabalhadores imigrantes.

É que a propagação, já de si exponencial, é ainda mais agravada entre todos aqueles que vivem em condições infra-humanas, económicas e sociais.

Já não basta viver num país rico ou num condomínio fechado, tentando esconder uma realidade que, afinal, todos conhecem e ignoram.

A existência de barracas, de exploração desumana e de exclusão associados a um sistema de saúde obsoleto e a transportes públicos medíocres deixaram de ser admissíveis porque não fazem parte de uma equação de futuro com esta ou uma qualquer outra pandemia.

Os governantes, sempre ao serviço de clientelas e dos mais poderosos, obviamente com um sorriso estampado e o discurso pio com os mais desvalidos, têm de passar a olhar para as desigualdades com olhos de ver.

Afinal, regalar os olhos com as luzes de Hollywood, estender a toalha na praia de Copacabana ou fazer de conta que Portugal é o litoral do turismo já não é mais possível e seguro, pois os surtos explodem em todas as latitudes onde impera a miséria.

Os 70 milhões de americanos a viver em condições de pobreza, os 11,4 milhões de brasileiros distribuídos por 6.329 favelas e ainda o facto de os imigrantes serem as principais vítimas (23,4% dos imigrantes infectados na região de Lisboa) exigem respostas prontas e eficazes.

A acefalia e o egoísmo generalizados, nutridos por uma globalização selvagem assente num consumismo desenfreado, têm os dias contados, pois ninguém admite viver durante muito tempo com máscara e medo.

E se a resposta tem de partir de cada país, também é verdade que a actual globalização não pode conviver com esta franja de potenciais "bombas" ao retardador.

Num contexto de pandemia, a "maioria", a tal que da Esquerda à Direita vive confortavelmente, não pode continuar a manter o seu status de vida com a actual realidade da "minoria" de pobres e imigrantes.

Num país que há séculos insiste em construir a casa pelo telhado, a chuva de milhões e milhões que vem da Europa é uma oportunidade única para reconstruir Portugal sobre pilares sólidos, a partir das infraestruturas básicas, da saúde, da educação e do combate à exclusão.

Os cenários macroeconómicos e os mega projectos já não são suficientes para manter um mundo de ilusões.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

A "NOVA" VERSÃO DE TANCOS


O ambiente de medo e o cheiro nauseabundo das trapalhadas e das negociatas fazem lembrar o fim de mandato de Aníbal Cavaco Silva e José Sócrates.

E na última semana tudo se passou como se nada de extraordinário e grave tivesse ocorrido.

Estranho?

Não!

A presidência está transformada no bailete do Vira, o governo age sem responsabilidade ou receio de ser responsabilizado, o PSD liquida o principal instrumento institucional da oposição, grassa a subserviência, impera o fundamentalismo e falta o escrutínio.

O falhanço no combate à pandemia, a nacionalização da EFACEC e o reforço da posição do Estado na TAP, derrotas monumentais do governo de António Costa, são apenas mais três exemplos do padrão em que mergulhámos há muito tempo.

COVID-19: O aumento dos casos na área metropolitana de Lisboa, a escandalosa falácia de membros do governo sobre os transportes públicos, os desmentidos dos números oficiais de infectados e o "chumbo" do Reino Unido seriam suficientes para causar um terramoto político.

EFACEC: Depois de ignorar avisos, livros e até a queixa de Ana Gomes em Bruxelas, sobre a compra da empresa à luz da legislação europeia anti-branqueamento de capitais, António Costa anunciou a nacionalização (só faltou a imperial), expondo o Estado a mais um contencioso.

TAP: O falhanço da reversão da reprivatização e a assumpção de gigantescas dívidas quatro anos depois demonstram como o governo age sem responsabilidade política e não teme qualquer responsabilização da parte do PR, da oposição e demais entidades judiciais e de controlo.

Apesar de inquinarem o presente e representarem uma enorme ameaça tudo continua como se ninguém fosse responsável, nem mesmo pelas vergonhosas cláusulas secretas agora descobertas.

O desastre, a mentira, a incúria e o fundamentalismo ideológico passam entre os pingos da chuva de um país que começa a arder na indiferença até do anúncio oficial do regresso da censura.

Também fica a constatação de termos chegado, novamente, ao lodaçal que já experimentámos no passado com custos e consequências tão trágicas.

É caso para perguntar com toda a legitimidade: será que todos andam a enganar António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa ou será que ambos andam a mentir ao país há demasiado tempo?

Até parece que voltamos a viver ao ritmo da saga de Tancos...





segunda-feira, 29 de junho de 2020

PATRIOTEIROS E FINGIDOS


O último governador de Macau, do alto da sua impunidade institucional, considerava maus portugueses aqueles que criticavam a administração portuguesa, numa espécie de versão cavaquista do então "deixem-nos trabalhar".

Não tarda nada, a propósito da Covid-19, ainda vamos assistir à mesma rábula tão típica de uma concepção do mundo paroquial em que, aliás, o secretismo e os apelos à união são tão-só uma tentativa infame de alijar responsabilidades.

Apontar os erros clamorosos, para não dizer criminosos, ao falhanço no combate à pandemia continua a ser, na lógica dos patrioteiros de algibeira, uma espécie de ataque ao interesse nacional.

Não importa a verdade, a realidade e o sofrimento de quem vive um dia-a-dia cada vez mais infernal com serviços de hospitais fechados e transportes públicos que mais não são do que uma via verde para ficar doente.

Apenas interessa a boa imagem de Portugal, como se fosse possível garanti-la, na era da informação global, com truques canhestros  e um "milagre" mal-amanhado.

E, assim, lá se vai inventando um bode-expiatório – ontem eram os mais velhos e hoje são os jovens , deixando cair até, preventivamente, o aviso de que não há espaço para uma crise política, tanto mais que a culpa é sempre dos outros.

Infelizmente, os patrioteiros e fingidos continuam impunes, apesar de comprometerem o futuro do país, fazendo gato-sapato de quem tem de enfrentar o vírus e recusa ser tratado como carne para Champions.

O resultado está à vista: debaixo dos discursos oficiais e da capa do Estado estão os números crescentes e assustadores de infectados em Portugal.

Aliás, o desnorte é tal que só faltava mesmo desvalorizar a interdição da entrada de portugueses em diversos países europeus, entre os quais alguns dos principais aliados.

Não valeu a pena tanta ficção, tanta lamechice, tanta opacidade, tanta sabujice política e tanta desonestidade intelectual.

A estratégia de passar verniz por cima dos problemas  a que despudoradamente já se chamou a extraordinária capacidade de improviso dos portugueses , revela até que ponto atravessamos momentos dramáticos e ameaçadores.

O presidente da República e o primeiro-ministro deviam meter a mão na consciência, reflectindo seriamente enquanto é tempo, pois o que o país precisa é de mais acção e menos palavreado, mais prevenção e menos bazófia e mais competência e menos incúria.

É que o nosso futuro não pode depender de patrioteiros e de fingidos.















segunda-feira, 22 de junho de 2020

JOVENS ACORDAM


Faço parte daqueles que acreditam que os mais novos são sempre uma esperança.

E nunca aceitei a tese simplista que os jovens vivem alheados da realidade social e política.

Por canais informais, e segundo os seus interesses, a juventude é atenta ao que se passa à sua volta, tanto mais que tem de lutar e aproveitar todas as oportunidades para ter um emprego condigno e aspirar a uma vida.

A verdade é outra: Há várias gerações de jovens que têm sido massacradas pelos desmandos do poder político e pelas sucessivas crises.

E, agora, subitamente, com a pandemia, passaram a alvo do poder institucional por assumirem simplesmente um comportamento em linha com os exemplos e as mensagens do poder.

É caso para perguntar: Será que as festas e os ajuntamentos dos jovens nos últimos dias são uma forma de dizerem ao poder presidencial, executivo e político que basta de tanto arbítrio e hipocrisia?

Ou melhor, estaremos face a uma espécie de statement de protesto?

Vale a pena esperar, ver e reflectir!

É que não é possível apagar as últimas "brincadeiras" de Estado, como as manifestações, as comemorações e os espectáculos com a "afável" cobertura do regime.

Aliás, os ajuntamentos em Braga e no Porto, a festa na praia de Carcavelos e o aniversário em Lagos não são suficientes para explicar o "milagre" de casos e mais casos na área metropolitana de Lisboa.

E as últimas ameaças do primeiro-ministro e do presidente da República dirigidas aos jovens, brandindo a intervenção das forças policiais para quem não se resigna com a ausência escandalosa de critérios, é a prova do desnorte que graça ao mais alto nível.

Aliás, veja-se só o último exemplo que deve deixar qualquer jovem (ou menos jovem) confundido: o espectáculo que foi brindado com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa no Campo Pequeno acaba de ser proibido no Porto.

Os mais jovens parecem não aceitar mais esta etapa do bailete, pelo que fazem questão de reunir desafiando a autoridade de quem tem vindo a perder toda a credibilidade. 

Mesmo sabendo que as "brincadeiras", sejam elas de quem forem, têm consequências, quando descobertas e expostas.

É preciso parar e ponderar, adoptando uma abordagem verdadeira, transparente, responsável, coerente e pedagógica, em vez de apresentar as últimas festarolas da juventude como reuniões de hordas de macacos.

À luz do comportamento dos principais órgãos de soberania, agentes do Estado e demais afins sempre disponíveis para tudo justificar seria possível esperar outro comportamento da parte dos jovens?

Não!

A pressão que está a ser feita sobre os jovens é injusta e descabida, porque o seu comportamento é apenas o resultado de um frenesi das autoridades apostadas numa espécie de campeonato da propaganda e do disparate.

Como sublinhou Miguel Poiares Maduro, «não somos os melhores do Mundo. Mas deveríamos querer ser! Para isso, temos de trabalhar a partir da realidade».

Os recados desesperados, as ameaças veladas e as perseguições cobardes são sempre a marca dos medíocres e dos fracos, incapazes de assumirem os seus erros e de estar à altura de um período crítico.

Há quem ainda não tenha aprendido que os tiques arbitrários e autoritários, bem como os truques e a opacidade, com mais ou menos descaramento, impunidade e corrupção à mistura,  mais tarde ou mais cedo acabam mal.

Os últimos que se julgaram donos-disto-tudo já bateram com os costados na cadeia ou ainda andam às voltas com a Justiça.

Ou como diria o outro: às vezes, com o tempo, o(s) macaco(s) empoleirado(s) na grande árvore dana(m)-se!



segunda-feira, 8 de junho de 2020

REGRESSO À (A)NORMALIDADE


A propaganda quer convencer-nos que estamos a regressar ao tempo em que não existia a pandemia.

Mas será, entre os sobressaltos na Grande Lisboa,  que estamos a falar de continuar a aceitar a (a)normalidade de 2019 em que morreram mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo por fome e pobreza?

De facto, pouco ou nada tende a mudar estruturalmente.

A Democracia continua a deixar para trás os mesmos de sempre: os mais pobres e aqueles que mais precisam de auxílio.

E, agora, também tem sido assim com as "ajudas" estatais tendencialmente dirigidas, com a Saúde cada vez mais desigual, com a Educação de faz-de-conta que liquida o elevador social e até com a indiferença quando a Justiça parou.

Os critérios opacos e de geometria variável são a sustentação desta "filosofia" da (a)normalidade que acalenta os amigos e os poderosos do costume ao mesmo tempo que propala uma mensagem de solidariedade para enganar os tolos.

E para credibilizar a léria, até garantem que serão precisos anos para regressar à tal (a)normalidade, ou seja o sacrifício de mais uma geração e atirar os pobres para o Banco Alimentar com direito ao afago da caridosa Jonet.

Face a esta realidade, o que faz o presidente da República?

Alimenta o bailete com umas tiradas tão mistificadoras quanto infantis e lá vai tomando umas banhocas com direito a directos televisivos e ao primetime.

E o primeiro-ministro?

Escolhe um gestor à socapa, garantindo-lhe mais de um mês de "liberdade de movimentos", para apontar o nosso futuro no espaço de uma década.

Dá que muito que pensar...

Com pandemia ou não, os tempos são sempre o espelho de atitude ou apatia, de escolha ou indiferença, de resiliência ou desistência.


segunda-feira, 25 de maio de 2020

PANDEMIA E EFEITOS ESPECIAIS


Marcelo é capaz de tudo, até de mentir a si próprio à frente de mais de 10 milhões de portugueses, continuando a sorrir e a debitar banalidades.

Somos os melhores, especiais, etc.

Entretanto segue-se mais uma "notícia" de última hora: a banhoca presidencial na baía de Cascais.

Que indigência...

Enquanto mantém viva a rábula da reflexão sobre a recandidatura, todos os dias faz uma intervenção em que dá um sinal, como lhe convém, de que vai avançar.

Só não o anuncia agora porque tal não serve os seus interesses pessoais e políticos...

E a "democracia" continua...

Parece que os portugueses têm outras "prioridades", dizem os profissionais do costume para distrair as atenções...

Uns pagos às escuras, outros com ajudinhas às claras de oportunidade, mais erro menos erro.

Há privilegiados e privilegiados, sobretudo os "ilustres" que só são o que são porque sempre foram pasto para todo o serviço.

Os efeitos especiais na política conquistaram os portugueses.

E as mentiras oficiais já se tornaram "verdades" populares e banais.

E assim os canalhas continuam a aproveitar-se da ingenuidade alheia...

Vai mais um consenso alargado?

Temos a "investigação jornalística" que resta, porventura por não ser o momento dos jornalistas se meterem com o poder...

Que mediocridade...

Entretanto, face a esta realidade, lado a lado com o bailete em curso, Jair Bolsonaro, depois do vídeo que atesta a sua vulgaridade democrática e política, recebeu uma ordem da Justiça brasileira para entregar o seu telemóvel.

Como está longe o processo de Benjamin Netanyahu, um primeiro-ministro em funções que bateu com os costados num tribunal israelita, por causa de favores aos patrões da comunicação social em troca de cobertura mediática favorável para si e para os seus familiares.

Ah!, se Tancos tivesse ocorrido em Israel ou no Brasil...

segunda-feira, 27 de abril de 2020

MARCELO E COSTA: HORA DE VOLTAR A NÃO TER MEDO!


Portugal vive momentos dramáticos.

E a crise provocada pelo COVID2019 está a trazer ao de cima a crónica debilidade económica e financeira, as chagas sociais de há décadas e o pior do regime político-institucional.

Incapazes de a antecipar, com verdade, rigor e competência, chegámos à pandemia com os mesmos estrangulamentos e o mesmo endividamento impressionante, disfarçados pela corrupção que vai alimentando as clientelas partidárias que já capturaram há muito o Estado.

E, como sempre, é nas crises globais que vemos ainda melhor os erros do passado, o discurso demagógico e irresponsável do poder que lá vai sendo composto com promessas tão vãs quanto ridículas e mais ou menos abafado pela distracção de quem deve escrutinar.

Nem o dinheiro sujo de Angola e da China nos vale, apenas serve para acentuar o silêncio cobarde quando a voz se deve erguer contra ditaduras e criminosos.

De igual forma, as fragilidades decorrentes de uma sociedade desigual e até iníqua são ainda mais evidentes durante os períodos excepcionais como aquele em que estamos tragicamente mergulhados.

Dos mais idosos até aos emigrantes e refugiados, dos sem-abrigo aos desempregados de longa duração, que as economias amontoam com indiferença incompreensível, a crise acentua a brutal realidade de um país pobre em que uma minoria ficou e continua esquecida.

Por último, os momentos de indefinição que vivemos são determinantes para ainda melhor enxergar o funcionamento do regime e a qualidade da Democracia.

O regresso de uma espécie de "Estado Novo", agora em versão de bailete com verniz democrático e até místico, de união bafienta e sempre caritativo, liderado por um presidente com um sorriso despropositado, cujo ego nos envergonha cá dentro e lá fora, não augura nada de bom.

A cerimónia de distribuição de sacos de comida no dia 25 de Abril, para as câmaras da TV, cujo jornalismo já não olha a meios, é mais do que um inqualificável atrevimento político, é um insulto aos cidadãos, é uma afronta a todos aqueles que se bateram e morreram pela liberdade.

E também não lutaram para garantir a eleição de um PM que faz-de-conta quando um deputado, João Cotrim Figueiredo, no Parlamento, lhe pergunta pelo "fantástico" registo dos números de mortes durante a pandemia.

Aliás, quando António Costa tem o descaro de afirmar que o «confinamento é para manter diga o que disser a Constituição», então chegou a hora de voltar a não ter medo, e de dizer com todas as letras aos palhaços do regime: 25 de Abril sempre!

A luta dos capitães de Abril exige um combate sem quartel contra esta espécie de "democracia"... 


segunda-feira, 20 de abril de 2020

UM DIA... A PROPAGANDA VEM ABAIXO


Não há memória de tanta e tanta declaração e entrevista do presidente da República e do primeiro-ministro num tão curto espaço de tempo.

O tempo mediático virou um desfile de personalidades e um repositório duvidoso sem a mínima fiabilidade e o correspondente escrutínio.

É certo que o momento é exigente, mas mais do que fazer política, de lugares-comuns e de chavões gastos, que estão a revelar um gigantesco desnorte, urgia antecipar, falar verdade e demonstrar competência para enfrentar a pandemia e preparar o futuro.

A torrente de palavras e mais palavras, de fanfarronices e de contradicções só podem gerar estupefacção e, sobretudo, mais razões para uma crescente preocupação.

A falta de credibilidade é tanta que a generalidade dos portugueses anteciparam as medidas que o poder foi incapaz de levar por diante no momento certo e razoável, deixando um rasto de mortes que tudo indica poderiam ter sido evitadas.

Foi assim com a interdição de voar, confinamento, equipamentos de protecção individual, necessidade de isolamento à mínima suspeita do vírus e recurso às urgências hospitalares. 

A propaganda em curso, desde os registos do COVID2019 até à ilusão dos apoios à economia, chega a ser chocante, revoltante e até repugnante.

O mais extraordinário é que assistimos, diariamente, a uma comunicação social em posição agachada, emergindo uma série de "estrelas" que tudo permitem e que abraçaram um campeonato invulgar de quem mais faz chorar as pedras da calçada.

Até já é possível reescrever a história, deixando para trás anos de endividamento público, de gigantescos problemas no SNS e de um crescimento económico medíocre numa conjuntura excepcionalmente favorável.

Lemos, ouvimos e vemos a desinformação grotesca através das mais absurdas teses, fantasias e promessas, tudo para "salvar" o poder político que bolina sem direcção.

O day after não vai perdoar a quem andou mais preocupado com comemorações, elogios, homenagens, cantatas e palmas e mais palmas do que em respeitar e cumprir o seu sagrado compromisso de governar, de alertar e de informar com rigor e verdade.

No momento certo, a realização de um Livro Branco sobre a pandemia é o mínimo para ressarcir quem ficou às mãos desta gente à solta.

E que não haja dúvidas: quando chegarem os dias negros de contar o verdadeiro número de mortos e de enumerar as consequências da devastação económica e financeira, então vai ser um ai quem me acuda.

E, no momento do balanço, em que a propaganda vem abaixo, vamos todos compreender melhor como desperdiçámos tanto tempo a enganar-nos uns aos outros e, ainda mais grave, a enganármo-nos a nós próprios.



segunda-feira, 13 de abril de 2020

LUCÍLIA GAGO: SILÊNCIO ESTRIDENTE


Lucília Gago assinou a directiva 2/2020, a 30 de Março de 2020.


Desde então, a procuradora-geral da República sumiu do panorama mediático, uma inexplicável ausência num quadro de excepcionalidade pandémica e de vigência do estado de emergência em que o Ministério Público deve estar ainda mais presente, vigilante e activo.

Num momento crítico de limitação dos direitos dos cidadãos, o vazio da comunicação do MP é gritante e deveras preocupante.

Um silêncio estridente no momento em que a comunicação social dá conta de casos e mais casos de alegada falta de assistência, abandono, negligência e de mortes e mais mortes entre os mais idosos e desprotegidos.

Aliás, um silêncio também estranho e repetido após a nova condição de prisão domiciliária de Rui Pinto que ocorreu e decorre sem que tenha havido uma única palavra de Lucília Gago.

Não havendo confirmação que está no gozo de férias, e certamente em rigorosa observação do confinamento, será que a PGR não lê jornais, não ouve rádios e não vê informação televisiva?

Ainda assim, alguém deve ter avisado: Diário de Notícias, 6 de Março de 2020: «DGS afasta, para já, restrições de visitas a lares de idosos»; Revista Sábado, 8 de Março de 2020: «Saiba em que distritos se aplica a suspensão de visitas»; Diário de Notícias, 30 de Março de 2020: «Testes portugueses à covid-19 nos lares de idosos a partir desta segunda-feira»; Público, 6 de Abril de 2020: «Covid-19. Lar de Aveiro com 15 mortes esperou duas semanas por kits de testes»; Público, 9 de Abril de 2020, «Cerca de 15% dos mortos por covid-19 eram idosos que viviam em lares»; SIC Notícias, 12 de Abril de 2020: «Vila do Conde. 100 infetados em centro de apoio a deficientes». Jornal de Notícias, 13 de Abril 2020: «Alto Minho revoltado soma mortes em lares de idosos».

No momento em que já morreram várias dezenas de idosos nos lares, em condições que tudo indica justificar uma investigação criminal, este súbito mutismo da PGR é incompreensível. 

Será que as notícias, geradoras de fundado e suficiente alarme público, não são suficientes?

Não há indícios suficientes para abrir averiguações a propósito das mais de 500 mortes "registadas", desde as autoridades políticas, às sanitárias e aos gestores de instituições de saúde?

A expressão do artigo 86.º, n.º 13, al. b) do Código de Processo Penal, «Para garantir a segurança de pessoas e bens ou a tranquilidade pública», caiu em desuso?

Já vale tudo no estado de emergência em Portugal?

É que por essa Europa fora tem sido noticiada a abertura de inquéritos às circunstâncias em que os idosos estão a morrer às mãos do COVID2019, por exemplo em Wolfsburg, no Estado da Baixa Saxónia (noroeste da Alemanha), onde ocorreram 22 mortes.

De notar que a investigação do MP alemão foi aberta após queixas que apontaram para a eventual negligência, a situação de higiene catastrófica e a proibição tardia da entrada de visitas externas.

Se da parte da ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, já se espera pouco, e muito menos depois de afirmar que não há sobrelotação nas prisões, decerto esperava-se muito mais da PGR.

E, já agora, também falta uma palavra de António Ventinhas, presidente do sindicato dos magistrados do MP, sempre atento e activo às questões corporativas.

Há silêncios que matam aos olhos dos cidadãos, ainda mais aos olhos das famílias impotentes face aos seus a morrer em condições extraordinárias que, em abono da verdade, nem a incúria governamental, nem a conivência institucional e política, nem a propaganda conseguem abafar.




segunda-feira, 6 de abril de 2020

COVID2019 E O ABAFAMENTO


O governo de Portugal desperdiçou mais de dois meses para se preparar para enfrentar a COVID2019, ignorando desastradamente os sucessivos alertas na China e o disparar dos casos na Europa.

É preciso recordar uma data fundamental: a 31 de Janeiro de 2020, a OMS declarou Emergência de Saúde Pública Internacional e a notícia da infecção de dois turistas chineses em Milão, Itália, correu mundo.

Não foi suficiente para despertar a atenção das autoridades portuguesas.

Mais grave ainda: face ao pânico então já instalado, António Costa demorou a adoptar a medida mais exigente: o fecho das fronteiras.

Áustria, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Polónia, República Checa e Suíça, mesmo sem cenários internos de contágio exponencial, não esperaram pela brutalidade dos números nos países vizinhos para fechar as portas ao exterior.

E, para ter um termo de comparação mais concreto: António Costa demorou exactamente mais oito dias do que os austríacos para fechar as fronteiras com Itália.

Disfarçar o erro e a manipulação da realidade têm contado com a "distracção" da imprensa e dos partidos da oposição que enveredaram por uma cumplicidade com as autoridades que lhes vai custar um elevado preço em termos de credibilidade junto dos portugueses.

E não é preciso confirmá-lo com o tristíssimo episódio do uso de máscaras, pois todos já compreendemos que tal só ocorreu porque, simplesmente, não havia reserva estratégica e/ou stock em Portugal.

E nem é preciso lembrar Graça Freitas, a especialista do Estado ao serviço do governo, que afirmou que testar podia dar uma falsa sensação de segurança, depois anunciou que a prioridade é testar, testar, testar e agora acaba admitindo que há atrasos na realização de testes.

As alarmantes faltas de preparação e a incompetência, a roçarem a incúria criminosa, atingiram outros níveis ainda mais inimagináveis se levada em linha de conta a situação descontrolada do outro lado da nossa fronteira terrestre.

Com o mundo apavorado com a evolução dos contágios em Espanha, Portugal só encerrou de facto o seu espaço interno aos nuestros hermanos no dia 18 de Março de 2020.

E - pasme-se! -, a decisão foi tomada dez dias depois da polémica pública à volta da autorização das autoridades espanholas à manifestação do Dia da Mulher, a 8 de Março de 2020.

Nada conseguiu despertar António Costa para os riscos terríveis da inacção.

E quanto ao argumento estapafúrdio que a primeira morte de COVID2019 em Portugal só ocorreu no dia 16 de Março de 2020... Não vale um único comentário!

Por sua vez, se já começámos a compreender que Marcelo Rebelo de Sousa sem os afectos e as selfies fica reduzido à mais cruel redundância política, nunca é tarde para denunciar que a unidade não pode ser sinónimo de branqueamento.

E muito menos abafamento!

Com os últimos dados, que traduzem uma estranha "curva errática", acreditar piamente nas autoridades políticas e sanitárias, que decidem tarde e a más horas e ainda faltam à verdade, parece ser cada vez mais um exercício masoquista, quiçá suicida.

A realidade dos factos é indesmentível: Portugal é dos países da União Europeia com os maiores rácios de infectados, como comprova a taxa de mortalidade (óbitos/contaminados) que já ultrapassou os 2,5%.

O mundo pode estar a morrer, mas a razão tem de continuar viva. 

É nos momentos de crise extrema que podemos avaliar a qualidade dos nossos governantes, pelo que não pode passar impune esta forma de fazer política e propaganda em vez de acautelar a saúde dos portugueses.

António Costa bem pode continuar a adiar a divulgação do modelo e dos dados da COVID2019 aos cientistas, mas o segredo não vai durar eternamente.

Com a pandemia ainda instalada no adro apenas há uma certeza: temos o direito de saber toda a verdade sobre como a preparámos e a estamos combater, através de um Livro Branco da COVID2019 ou de qualquer outra iniciativa da cidadania.

A primeira resposta a que todos temos direito é muito simples: Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se o poder político português tivesse sido verdadeiro, competente e diligente?


segunda-feira, 30 de março de 2020

PORQUE NÃO SOMOS CARNE PARA CANHÃO


No momento de antecipar demorámos a encomendar equipamentos de protecção, a garantir testes, a fechar as fronteiras, a encerrar as escolas e a impor o confinamento. 

E porquê? 

Porque PM e PR andaram a fazer a política dos pequeninos em vez de preparar o país para salvar vidas.

O resultado está aí: a realidade vai emergir ainda mais brutal e terrível, com mais ou menos manipulação do número de testes realizados à COVID2019.

E, hoje, também já é certo para todos que não valeu a pena deixar o SNS à sua sorte.

Nem fazer de conta que o dinheiro desviado pela corrupção não nos faz falta nos momentos decisivos.

E, de igual modo, ainda é mais patente que a receita do recurso ao dinheiro sujo pouco valeu para termos serviços preparados para acorrer às necessidades dos cidadãos.

Apelar para nos protegermos quando não temos com que nos proteger é simplesmente grotesco.

Branquear o passado e o presente à custa de atitudes repugnantes de terceiros é ainda tão ou mais repugnante, porque só serve para acobertar decisões políticas que roçam o criminoso e alimentar a impunidade.

E, convenhamos, não faz sentido falar em unidade quando o PM mente grosseiramente ao país e é, aliás, barrado pelos Bastonários dos médicos, farmacêuticos e enfermeiros, exemplares a cumprir o seu dever ético.

Sim, vale a pena ir para o terreno e mostrar o país que trabalha, mas de nada adianta esconder o outro lado, o da vida esquecida, condenada por políticas públicas erradas ou por empresários desqualificados.

Não, não nos podemos resignar às "atitudes de Estado", nem ao empreendedorismo selvagem, nem permitir o "lava mais branco" do passado para proteger as clientelas do costume, porque não somos carne para canhão.

Os últimos acontecimentos envolvendo os mais idosos, bem como os mais de 14% de profissionais de saúde infectados, já são uma vergonha nacional, e fazem prever o pior no momento crítico que está aí à porta.

À medida da progressão da pandemia, os números podem servir para tudo, mas os cenários dantescos de sucessivas falhas, passadas e presentes, ganham contornos insuportáveis.

Mesmo sabendo que há quem esteja a fazer o seu melhor, com abnegação e generosidade, em prol da saúde pública, é sempre a hora para questionar quem propala que "ninguém fica para trás", bem como aqueles que ainda têm a audácia de afiançar que "ninguém está a mentir".

Habituados ao que a casa gasta, é preciso lembrar enfaticamente: por um lado, não ficará impune quem adiou medidas que acabaram em mortes; por outro, não ficará pedra sobre pedra sobre quem já começa a desistir e apressa os critérios para escolher quem vive e morre.

É o momento de recordar: o vírus pode estar a liquidar homens e mulheres, mas ainda não matou a Justiça e a Democracia.

E não bastam as sondagens de última hora, nem os elogios ditirâmbicos encomendados aos serviçais do costume, nem a fabricação de um qualquer inimigo externo de última hora.

O recurso às tácticas serôdias para tentar alijar responsabilidades próprias só agrava mais o fosso entre os cidadãos e os governantes.

De Costa a Marcelo, de Macron a Merkl, de Sanchez a Conte, há uma geração de políticos da União Europeia que não esteve à altura da exigência dos tempos e da governação, pelo que dificilmente serão capazes de liderar a reconstrução da economia e a reinvenção da própria Democracia.

A COVID2019 representa um momento extraordinariamente negro, mas também poderá ser uma oportunidade luminosa para extirpar uma certa forma de fazer política e de governar.

Resta saber se a mudança vai servir para mais e melhor civilização.



segunda-feira, 23 de março de 2020

COSTA FALHOU... MARCELO TAMBÉM!


António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros exemplos por esse mundo fora, não estiveram à altura de um desastre anunciado que desvalorizaram e deixaram ampliar de uma forma gigantesca.

Mais de três meses depois da epidemia estalar na China, cada vez mais ditatorial e perigosa, Portugal foi apanhado, como sempre, historicamente, com as calças na mão.

Aliás, quando chegar o material de protecção individual, adquirido tarde e a más horas, só faltam mesmo apelos lancinantes das autoridades para os portugueses usarem máscara e luvas...

Hoje, não há uma única pessoa que acredite que os nossos governantes estiveram à altura da exigência do desafio com que o país está confrontado.

E se ainda não é o momento de assacar responsabilidades, é tempo de afirmar que a falta de liderança e a incapacidade de antecipação foram insuportavelmente estrondosas.

E a mediocridade política revelada - mesmo na reacção tardia, para já não falar do estado de impreparação do SNS -, não pode passar em branco no momento de fazer as contas finais e a tristíssima contabilidade do número de mortos.

O falhanço gritante tem sido global, mas tal não iliba quem, em Portugal, é responsável por cada morte que eventualmente poderia ter sido evitada.

A incapacidade da União Europeia, já denunciada pelo BREXIT, é por isso também de assinalar, e motivo de reflexão séria no futuro próximo.

Sinceramente, não seria de esperar nada de diferente de governantes que convivem irresponsavelmente há largos anos com uma desvalorização politicamente criminosa da política de Saúde.

Mas a responsabilidade não será também nossa, já que permitimos repetidamente que tal tenha acontecido?

Somos o resto há demasiado tempo, o resto que paga as crises com o bolso e, agora, com a carne.

Não, não nos deixemos enganar por mais discursos pomposos, em prime time, enquanto o povo vai morrendo às mãos de uma qualquer crise económica e financeira e, agora, pandémica.

Não, não nos deixemos impressionar por papagaios paternalistas nem por palavras que visam infantilizar os cidadãos para melhor esconder os erros de avaliação de quem gere a coisa pública.

O lixo ocultado debaixo do tapete ainda vai surgir em todo o esplendor, por mais apelos à emoção para diminuir a razão.

E quando passar a crise, mais uma crise, porque há-de passar, não poderemos deixar de fazer um balanço implacável, sem esquecer aqueles que jogaram a ideologia para cima da tragédia, pensando mais em mercearia política do que em salvar vidas atempadamente.

Aliás, a tentativa de confundir o papel do Estado, do regular funcionamento do mercado e da economia de casino diz tudo sobre a indigência intelectual e o oportunismo político presentes no debate público. 

Disfarçar o falhanço e manter a indiferença, depois de cada crise que coloca em causa a nossa vida, é muito mais grave do que a pandemia do #coronavírus.

Há governantes em Portugal, bem como por esse mundo fora, que já têm a porta aberta na era do pós #COVID2019.

Até lá, é preciso ajudar Costa e Marcelo a sair pelo seu próprio pé, com a dignidade que eles sempre nos regatearam.

Pela nossa Saúde!





segunda-feira, 16 de março de 2020

COVID2019: FOLCLORE É IGUAL A MAIS MORTES


Há crises e crises, mas não há crises boas e crises más.

Nos momentos mais críticos, há quem insista na receita: acreditar e confiar no poder, porque sim, porque são eles que sabem!

No actual período excepcional, tal como aconteceu durante a Troika, é sempre salutar não perder a noção e a perspectiva da crítica das decisões do poder.

E é a hora do escrutínio implacável, agora, pela nossa Saúde!

Basta de papagaios, com boas intenções ou em competição populista desenfreada.

E também basta do discurso paternalista daqueles que julgam ser possível transformar a informação rigorosa em "x", quiçá para esconder a realidade e/ou a incompetência, em conferências de imprensa pouco úteis e credíveis.

E, por amor de Deus, chega de tiradas incompreensíveis para a generalidade dos cidadãos, designadamente aquela que pede aos portugueses para se afastarem das Urgências quando estão doentes.

Não!

Os portugueses têm o direito à Saúde!

E a Linha SNS24 tem de estar, com eficácia, à sua disposição.

E merecem saber a verdade, sobretudo no momento em que chegou a progressão exponencial da transmissão do COVID2019.

E também têm legitimidade para questionar as decisões hesitantes e tardias do poder, porventura para ganhar tempo e esconder um sistema de Saúde falido que vai deixando morrer os portugueses mais pobres e desvalidos.

Quantas camas preparadas existem?

Quantos ventiladores estão disponíveis?

Por que razão os profissionais de Saúde ainda não têm os instrumentos necessários para estarem a salvo da contaminação galopante?

Como foi possível que um surto epidémico na China tenha sido transformado numa pandemia com epicentro na Europa?

E mais: onde andam as autoridades para impedir que gestores e empresas rascas, entre outros miseráveis oportunistas do mercado, que se aproveitem da tragédia para praticar preços especulativos e escandalosos de bens que passaram a ser de primeira necessidade?

Não, nada disto é falso, subjectivo e radical, muito menos de Esquerda ou de Direita...

É o corolário da opinião expressa pelos profissionais de Saúde - que ainda têm coragem para dar a cara - num país em que aqueles que desafiam a verdade oficial arriscam pagar um elevado preço.

Por mais que alguns fanáticos estejam determinados a alimentar o folclore por razões meramente ideológicas e tácticas, a vida de cada um - a nossa e as deles - vale muito mais.

Não há uma única vida de um cidadão português que valha menos do que a vida do PR. 

Costa nunca o percebeu, porque o partido e o Estado são os seus mundos. 

Pode ser que cada um de nós, um dia, exija mais e de uma forma mais ruidosa do que a cantoria e as palmas de circunstância à janela.






segunda-feira, 9 de março de 2020

PS, COSTA E AS FANFARRONICES


A arrogância política está no ADN dos socialistas que sempre se comportaram como os donos da Democracia.

E a história do PS confunde-se com a de António Costa.

Desde que chegaram à liderança do Executivo, por via da maioria então formada no Parlamento, após as Legislativas de 4 de Outubro de 2015, ambos têm multiplicado as atitudes de sobranceria política.

Entre muitos exemplos basta apontar a comunicação governamental a propósito da epidemia (pandemia?) do coronavírus designado por Covid-19: não há problemas orçamentais, está tudo preparado, venham os infectados.

Num país com uma das maiores dívidas do mundo, com o SNS à beira do colapso, em que faltam médicos e enfermeiros por todo o lado, e com a trágica incapacidade de organização a que já estamos habituados, o impacte do Covid-19 parece uma brincadeira de crianças para o Governo liderado por António Costa.

De facto, este discurso não sossega ninguém.

A questão não é evitar o alarmismo sempre presente nestas circunstâncias, mas sim a habitual fanfarronice politicamente irresponsável.

Este padrão, que se tem repetido ao longo dos anos, também é verificável na governação no sentido lato.

Depois de uma vitória pequenina, nas últimas Legislativas de 6 de Outubro de 2019, António Costa entendeu que já não precisava de uma base de apoio político trabalhado e previamente formalizado.

Num gesto de saloiice política inimaginável, o primeiro-ministro acreditou que seria possível governar alternando o apoio parlamentar de que necessita à esquerda e à direita, subestimando claramente Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Rui Rio.

O resultado está à vista: «vamos governando!», como diz candidamente Siza Vieira, o advogado de negócios transformado no poderoso número dois do Executivo.

Com uma crise mundial de dimensões ainda não definidas, com a Europa a desfazer-se aos pedaços e com o horizonte internacional carregado, lá vamos andando... 

Até quando? 

Até ao próximo flick-flack de Costa. 

Mas será que ainda vai a tempo de não hipotecar o futuro do país?