segunda-feira, 14 de junho de 2021

PRESIDENTE, LEGITIMIDADE E DEMISSÃO


Não é Pedrógão, mas é Tancos.

Não é a corrupção endémica, mas é a factura milionária dos Bancos falidos.

Não é a gigantesca máquina de propaganda, mas é a dívida pública galopante.

Não é a ocultação da realidade, mas é o SNS impotente a deixar a morrer.

Não é a falsa promessa de apoios, mas é a reconstrução de um palácio.

Até mesmo quando é pública a divulgação de dados pessoais pela Câmara Municipal de Lisboa, liderada por Fernando Medina, a palavra presidencial é de branqueamento grotesco.

Num dia, temos que proteger os estrangeiros porque somos um país de emigrantes; no dia a seguir, cidadãos israelitas, palestinianos, russos, venezuelanos são colocados em risco.

E numa primeira reacção presidencial: Acontece!

O caricato é que ninguém assume a responsabilidade, mesmo quando o nome de Portugal é internacionalmente arrastado na lama.

O branqueamento presidencial sistemático é um cancro que está a liquidar o regime democrático, dando origem a fenómenos de mais e mais radicalização.

E, como se não bastasse, até Francisco Louçã, na pele de Estado, tem o atrevimento político de afirmar, sem se rir, que «os pedidos de demissão de Fernando Medina são uma espécie de brincadeira».

Cresce a convicção de que isto só lá vai com mão forte, autoritarismo, quiçá mais um ditador.

Entretanto, o primeiro-ministro faz-de-conta que não é nada com ele, acantonado no seu gabinete e até aborrecido quando é interpelado.

Como se fosse possível esquecer que foi edil de Lisboa, que a política externa é uma manta de servilismos.

Afinal, o "orgulho" no português que lidera da ONU não o impede de assistir em silêncio, nos últimos meses, ao espezinhar dos Direitos Humanos.

E, até entre os das esquerdas, há ainda o dislate para invectivar contra quem, com mais ou menos passado democrático, denuncia este pagode de insensibilidade e irresponsabilidade.

Todos os cuidados são poucos, quando a palavra presidencial vale menos do que uma selfie.

E não admira que a crescente indignação, desde a rua ao hipermercado, tarde em chegar aos gabinetes do poder e aos centros de sondagens.

Se depois de mais este aviltante atropelo tudo continuar na mesma, enquanto o presidente acena, sorri e vai à bola, então não há respeito que perdure, não há confiança que resista.

A legitimidade do presidente nas urnas (menos de 1/4 dos eleitores) não valida a participação no apodrecimento do regime.

A dignidade da função não pode continuar a calar a crítica do branqueamento impune.

– Demita-se!

segunda-feira, 7 de junho de 2021

DA VERDADE OU DA MENTIRA



As redes sociais cresceram através da criatividade e irreverência em contraponto com o conformismo e o cinzentismo dos grandes canais de informação do stablishment.

A enorme audiência despertou a atenção de todos, desde a presença dos grandes grupos da comunicação social até ao apetite dos habituais profissionais do assalto ao poder.

Hoje, e depois de um trajecto fulgurante nos últimos 15 anos, as redes sociais são um extraordinário meio de divulgação, não são só um depósito de fake news.

Se não, vejamos.

Se alguém fizer um post a garantir a erradicação dos sem abrigo em quatro anos ou até mesmo prometer habitação condigna para todos em 2024, o que aconteceria?

O autor seria alvo da chacota impiedosa dos seus seguidores.

Mas se o meio de divulgação de um tal desvario retórico fosse um órgão de referência, o mais provável é ficar tudo nas águas de bacalhau do corporativismo.

Um político, apanhado em mil mentiras, não pode merecer destaque sem qualquer enquadramento.

Uma qualquer instituição, com um histórico de banha da cobra estatística ou outra, não pode marcar a agenda mediática sem um esclarecimento.

Diariamente, seja qual for o meio, somos bombardeados com informação inverificada e abusiva, cabendo-nos fazer o nosso próprio juízo.

O contraditório tanto serve para a declaração de um presidente ou de um primeiro-ministro na capa de num jornal de referência como para um post de um cidadão, por mais notável ou anónimo que seja.

Ou seja, o trigo nem sempre está do lado institucional e o joio nas redes sociais.

A mediação dos jornalistas reside precisamente na capacidade de enquadramento e independência para desmascarar a falsidade.

Ora, quando tal não acontece surgem os mais diversos exames alternativos que explodem através do mundo digital.

Já lá vai o tempo em que a informação tinha um selo de garantia prévio, o cargo determinava a credibilidade e em que bastava a censura através de uma qualquer "carta".

Chame-se algoritmo, capital, controlo ideológico, interesse ou corrupção, a escolha de hoje é igual à de ontem: Ou se está do lado da verdade ou da mentira.