Não é Pedrógão, mas é Tancos.
Não é a corrupção endémica, mas é a factura milionária dos Bancos falidos.
Não é a gigantesca máquina de propaganda, mas é a dívida pública galopante.
Não é a ocultação da realidade, mas é o SNS impotente a deixar a morrer.
Não é a falsa promessa de apoios, mas é a reconstrução de um palácio.
Até mesmo quando é pública a divulgação de dados pessoais pela Câmara Municipal de Lisboa, liderada por Fernando Medina, a palavra presidencial é de branqueamento grotesco.
Num dia, temos que proteger os estrangeiros porque somos um país de emigrantes; no dia a seguir, cidadãos israelitas, palestinianos, russos, venezuelanos são colocados em risco.
E numa primeira reacção presidencial: Acontece!
O caricato é que ninguém assume a responsabilidade, mesmo quando o nome de Portugal é internacionalmente arrastado na lama.
O branqueamento presidencial sistemático é um cancro que está a liquidar o regime democrático, dando origem a fenómenos de mais e mais radicalização.
E, como se não bastasse, até Francisco Louçã, na pele de Estado, tem o atrevimento político de afirmar, sem se rir, que «os pedidos de demissão de Fernando Medina são uma espécie de brincadeira».
Cresce a convicção de que isto só lá vai com mão forte, autoritarismo, quiçá mais um ditador.
Entretanto, o primeiro-ministro faz-de-conta que não é nada com ele, acantonado no seu gabinete e até aborrecido quando é interpelado.
Como se fosse possível esquecer que foi edil de Lisboa, que a política externa é uma manta de servilismos.
Afinal, o "orgulho" no português que lidera da ONU não o impede de assistir em silêncio, nos últimos meses, ao espezinhar dos Direitos Humanos.
E, até entre os das esquerdas, há ainda o dislate para invectivar contra quem, com mais ou menos passado democrático, denuncia este pagode de insensibilidade e irresponsabilidade.
Todos os cuidados são poucos, quando a palavra presidencial vale menos do que uma selfie.
E não admira que a crescente indignação, desde a rua ao hipermercado, tarde em chegar aos gabinetes do poder e aos centros de sondagens.
Se depois de mais este aviltante atropelo tudo continuar na mesma, enquanto o presidente acena, sorri e vai à bola, então não há respeito que perdure, não há confiança que resista.
A legitimidade do presidente nas urnas (menos de 1/4 dos eleitores) não valida a participação no apodrecimento do regime.
A dignidade da função não pode continuar a calar a crítica do branqueamento impune.
– Demita-se!