Não há memória de um final de ano tão
patético. Os portugueses acabam 2012 em estado de choque. Será que vão ficar à
espera da tempestade perfeita?
A situação é evidente: o presidente da
República está paralisado, o Governo entrou em pausa, o primeiro-ministro
perdeu a compostura, o número dois da coligação passeia pelo mundo e o líder do
maior partido da oposição não tem uma alternativa credível.
O protesto pelo protesto vale o que vale. O
apelo ao “apagão nacional”, durante a Mensagem de Natal do primeiro-ministro,
que correu nas redes sociais, é apenas uma espécie de baixar de braços. Não
chega provar que Pedro Passos Coelho conseguiu em menos de dois anos o que José
Sócrates só conseguiu ao fim de seis anos, ou seja, os portugueses já não
aguentam ter de o ver, ouvir e até ler.
Mais do que o folclore inconsequente, importa
criar novas alternativas políticas. Afinal, onde estão as centenas de milhar de
pessoas que foram para as ruas, no passado dia 15 de Setembro, deixando os
partidos, os senadores e os sindicatos sentados no sofá a ver a maior
manifestação de sempre em Portugal?
O desejo de mudança existe e a mobilização
é manifesta, mas continuam a faltar os catalisadores com capacidade para
institucionalizar as alternativas e apoiar as escassas figuras políticas que
não participaram, não beneficiaram e nunca se confundiram com este imenso
atoleiro à beira mal plantado.
Chegou a hora de dar o passo seguinte, de participar,
de assumir escolhas e de ultrapassar a barreira formada pelo establishment que continua a engordar
num país em que os consensos se continuam a fazer debaixo da mesa, sempre nas
costas dos portugueses.
Portugal tem de se abrir a novos rostos, a
novas ideias, tem de correr riscos positivos. Não pode continuar nas mãos de protagonistas
esgotados: Aníbal Cavaco Silva está ferido de morte por causa dos negócios
pessoais e privados com os amigos do BPN; Pedro Passos Coelho sempre que abre a
boca incendia o país; Paulo Portas, entre umas viagens intercontinentais, amua
e desamua ao ritmo das escalas aeroportuárias; António José Seguro continua no
trapézio, entre a liderança de uma oposição responsável e a contenção daqueles que
nos obrigaram à assistência internacional.
A estabilidade governamental é um mito. Aliás,
se olharmos para as últimas três décadas, ela serviu sempre para que as grandes
decisões tenham sido tomadas por uma cúpula dirigente, sem qualquer
legitimidade eleitoral para as concretizar, obedecendo a interesses difusos que
tresandam a tráfico de influências e a alta corrupção.
A partir daqui, se a sociedade não
contrariar os fundamentos que estão na origem desta vertigem que está a
consumir o país, mais e mais, a cada dia que passa, a degradação só pode ser ainda
mais galopante.
Portugal nunca conseguirá libertar-se da dívida
e conquistar um futuro melhor com um Governo esgotado, sem coordenação política
e emaranhado em negócios pouco transparentes.
A ruptura com este Bloco Central de
interesses que tem destruído o país, com o beneplácito da passividade da
maioria dos portugueses, é o único ponto de partida para mudar de vida.
Em Democracia, a alternativa é sempre a
consulta popular. A perspectiva de eleições antecipadas em 2013 não pode ser
encarada como o fim, mas como a oportunidade de ouro para poderem emergir novos
líderes e soluções políticas.
O melhor
que podia acontecer em 2013 é simples: livrarmo-nos desta gente, sejam quais
forem as tentativas de intimidar os portugueses através da ameaça e do medo.